[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 6 de novembro de 2008




Nos últimos anos, muito antes do advento do sintradoavesso, tenho escrito no Jornal de Sintra, dezenas e dezenas de páginas acerca de problemas que afligem o quotidiano da vida sintrense, em particular no centro vital da sede do concelho. Na economia de tais escritos, a questão do estacionamento evidencia-se com particular destaque.

Nada surpreende que assim seja na medida em que se trata de questão absolutamente crucial, cuja resolução contribuirá para a melhoria inequívoca da qualidade de vida dos munícipes. A verdade é que, os anos sucedem-se, os mandatos do executivo autárquico sucedem-se e, infelizmente, a Câmara Municipal de Sintra nada tem feito, nada, absolutamente nada, para remediar tão crítica situação.

Atacar o problema, começar e acabar por resolvê-lo contribuirá, não só para beneficiar sectores, como o do comércio local que, mais directamente, têm reivindicado a urgência das medidas afins, mas também muitos outros, nomeadamente o da defesa e recuperação dos bens patrimomiais, cujo acesso é matéria crítica, a merecer especial cuidado nas latitudes civilizadas, das quais Sintra já esteve mais perto, delas se afastando preocupantemente.

Mais recentemente, apenas a Alagamares tem sabido dar pública expressão a este mal de vivre. Naturalmente, revejo-me totalmente nessas posições e, com o propósito de, mais uma vez, sublinhar a circunstância, inicio hoje a transcrição de artigos que subscrevi no semanário sintrense que, há tanto tempo e tão frequentemente, tem acolhido a minha prosa.

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artigo publicado no Jornal de Sintra,19.05.06


Parques de estacionamento,
por favor!


Na sequência do artigo publicado na semana passada, encontrei um leitor que me interpelou, afirmando ter lido, com especial atenção, a introdução e o final onde, a propósito do lançamento da edição deste ano do Festival de Sintra, me reportava a algumas questões que permanecem por resolver no concelho adiado.

Ficara o senhor a pensar no caso do estacionamento junto à Quinta da Regaleira, interrogando-se quanto ao modo de resolver uma questão que, na sua opinião, aparentemente, não tem remédio. E, deveras preocupado, perguntava-me que solução tinha eu para o problema já que, lembrava-me, não basta apontar os males, impondo-se que sejam avançadas alternativas para sua correcção.

Naturalmente, não posso estar mais de acordo. No entanto, aquela era uma observação que não me atinge minimamente. Só por meu intermédio, o Jornal de Sintra dedica muitas páginas ao assunto da circulação e do estacionamento no centro histórico de Sintra, através das quais, repetidamente, insisto, tenho apresentado o conjunto de medidas consideradas indispensáveis à viabilização das soluções mais pertinentes.

Outra vez, nestas colunas

De facto, apenas falo por mim. Mas o que me tenho permitido opinar é tão consensual, tanto a nível nacional como internacional, que não me resta qualquer dúvida quanto a estar-se perante um apertado leque de hipóteses de trabalho, realmente operacionais e eficazes, no âmbito das quais o grande objectivo será sempre o de condicionar o acesso, a permanência e o estacionamento do transporte individual.

Aliás, as soluções concretizáveis não têm direitos de autor e, relativamente a cidades e vilas com centros históricos objecto da atenção e dos cuidados inerentes à preservação e conservação do seu património, como é o flagrante caso de Sintra, o caminho a percorrer não poderá ser de sinal contrário, apesar das pequenas bolsas de estacionamento já existentes cujas condições actuais deverão ser significativamente melhoradas.

Poder-se-á afirmar que há problemas para financiar as soluções que já estão equacionadas, em função de diagnósticos oportunamente realizados. Igualmente, poderão advogar-se discutíveis critérios de prioridade quando se está em presença de uma questão de tal modo estruturante que, tão decisivamente, condiciona a qualidade de vida e a viabilidade de projectos da mais diferente natureza, cultural, educacional, turística, comercial, a montante e a jusante.

Inadiável

Em termos gerais, os autarcas já não dispõem de margem para mais adiamento relativamente à instalação de parques de estacionamento periféricos, estrategicamente localizados, de dimensões variáveis, com inequívocas condições de higiene e segurança onde, mediante tarifas diferenciadas, consoante percursos pré seleccionados e disponíveis, os utentes possam deixar as suas viaturas e dirigirem-se aos seus destinos perfeitamente descansados.

Quando estiver em funcionamento um modelar sistema integrado de transportes colectivos de Sintra, é previsível, para além dos meios já existente - ou seja, táxis, autocarros de capacidade variada, eléctricos e os trens de tracção animal - a concretização de projectos antigos e recentes que, por exemplo, poderão passar pela instalação de duas linhas de funicular, uma entre a zona da Ribeira e o Parque da Pena, com estação intermédia em Rio do Porto-Vila Velha, outra entre Ramalhão e Santa Eufémia.

Ribeira e Ramalhão, juntamente com Lourel-Campo Raso funcionariam como parques periféricos e interface a partir dos quais seriam propostas linhas que, exaustivamente, contemplassem todos os destinos, quer os das zonas onde os serviços estão instalados quer os percursos dos parques históricos e monumentos, incluindo o centro histórico.

(continua)


2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado,

Faz muito bem em recuperar algumas das suas intervenções públicas, no caso presente a relacionada com transportes. E faz bem, para que - à lai de oportunismo escondido - não surjam desviantes entrevistas com que se colocam na boca de outros aquilo que por aqui ou no JS tem sido criticado ou sugerido.

Aliás, até no JS tive ocasião de expressar algumas preocupações e até o alheamento com que os responsáveis vão permitindo engarrafamentos monstros no Centro Histórico (parece que o Ambiente muito poluído corresponderá aos cheiros do lugar...) e em plena Serra de Sintra para visita à Pena, citando-se o receio por algums dia ficar bloqueada uma eventual evacuação.

É disto que temos e, para nossa desgraça e de Sintra, admito que as deslocações feitas ao estrangeiro por alguns autarcas (à custa dos munícipes) ainda não os tenha sensibilizado para a aprendizagem, que só lhes ficaria bem.

O que se passa em Sintra seria irreal em quase todo o mundo onde há Centros Históricos, quer ao nível de transportes quer de higiéne urbana (ainda gostaria de saber como foi atribuído, há pouco tempo, um prémio sobre resíduos...).

Por outro lado, também surgem apócrifas declarações de pseudo-militantes das causas, onde parecem propôr o incentivo aos transportes públicos, dizendo que "já existem" quando toda a gente de senso sabe que não há transportes públicos (pelo menos rodoviários) que garantam os regulares acessos à Vila de Sintra, acrescentando-se que os poucos existentes acabam antes das 20 horas.

A este propósito, ainda, basta vermos a falta de respeito pelos nossos visitantes que utilizam os transportes para a Pena, muitas vezes de pé e tão apertados, aos tombos pela Serra acima. É certo que dizer disparates não obriga a inscrição para efeitos de IRS, mas caramba, é preciso cuidado com o que se diz, pois alguém pode ficar grato por tais afirmações.

E recordo, ainda, algo que o João Cachado há muito referia: ao menos que em dias feriado ou fins-de-semana fosse dinamizada a utilização do parque de estacionamento junto ao Urbanismo, mas basta que se faça essa sugestão para tudo ficar parado.

Fico è espera de outros artigos, para que as coisas sejam colocadas no seu devido lugar.

Um abraço

Sintra do avesso disse...

Meu Caro Fernando Castelo,

Como sabe, não se coloca o problema da autoria das sugestões que tenho vindo a apresentar, ao longo de anos e anos, num esbracejar constante, sabendo que são pertinentes as soluções apontadas e verificando que os designados responsáveis nada fazem no sentido de resolver as urgentíssimas questões que continuam a colocar-se e, cada dia que passa, a agravar.

Confio, no entanto, que consigo e com outros amigos, estaremos agora a iniciar uma estratégia capaz de nos fazermos ouvir. Ao contrário do que alguém possa ter pensado, não desistimos de ver concretizadaas as inadiáveis medidas que a questão determina.

Um abraço

João Cachado