[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Tomar a árvore pela floresta

Acabado de regressar de Salzburg, tinha a caixa do correio electrónico cheia de mensagens que amigos e conhecidos me enviaram acerca do desbaste de árvores em curso, promovido pela Parques de Sintra Monte da Lua, nalgumas das zonas onde tal intervenção se revela pertinente.

Já não é a primeira nem segunda vez que me pronuncio sobre a questão e, como não tenho elementos novos que, eventualmente, pudessem conduzir à alteração da posição que tenho observado em relação aos trabalhos afins – conduzidos sob orientação do Engº Jaime Ferreira, no quadro do plano traçado pela Administração da empresa – mantenho integralmente o que subscrevi em tempo oportuno.

Entretanto, não gostaria de perder a oportunidade para expressar o que se me oferece acerca das últimas notícias. Tudo me leva a considerar que alguns cidadãos terão manifestado uma preocupação que, naturalmente, saúdo com o maior regozijo pelo manifesto de interesse de intervenção cívica que denota, cuja pertinência, contudo, será discutível.

Acontece que, depois de décadas de criminoso abandono, o inadiável e absolutamente indispensável desbaste
parece estar a assumir uma escala e proporções desconformes com o carácter técnico da intervenção. Apenas isso. Tratar-se-á de uma aparência, susceptível de eventual choque num observador tão curioso e preocupado como menos preparado.

Ao fim e ao cabo, não passará de impressão, decorrente da normalização de uma situação, a partir da qual seja possível a eficaz gestão das zonas florestais em apreço, através de subsequentes, futuras e periódicas intervenções que, nunca mais, exigirão o actual e, eventualmente, impressionante volume.

Durante dezenas de anos nada se fez para suster o problema que, só actualmente, está sendo sistematicamente encarado. Enfim, era suposto que, logo depois da constituição da PSML, há quase dez anos, se tivesse começado a atacar adequadamente as nefastas consequências de tanto e escandaloso desleixo. Infelizmente, o biólogo e primeiro gestor da empresa tinha prioridades outras, como bem demonstrado ficou pela obra deixada…

Para finalizar, gostaria de opinar que, no quadro dos excelentes serviços que vem prestando à comunidade, no âmbito da salvaguarda, recuperação e manutenção do património natural e edificado sob sua administração, bom seria que, para evitar este e outros mal entendidos, os actuais gestores e técnicos da PSML privilegiassem uma estratégia de comunicação adequada às intervenções.


7 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado,

Aqui estamos de novo neste espaço, um dos poucos disponíveis para deixar opiniões.

Começaria pelo fim, ou seja, corroboro inteiramente a sua sugestão no sentido da PSML ter uma estratégia de comunicação que evitasse algumas confusões que por aí têm aparecido, na minha fraca opinião mais por afinidades do que por convergência.

Por vezes, recordando alguns manuais, torna-se necessário entrar no terreno do inimigo para acabar com a guerrilha. Isto porque tenho apreciado a cadência das intervenções, a partir de uma primeira seráfica e depois as de sabatina, todas elas silenciosas anteriormente perante a vergonha do que se tem passado em Seteais e naquela construção em Vale dos Anjos que revolveu milhares de metros cúbicos de terra e até algumas árvores foram afectadas.

Recordo que há poucos anos, quando uma árvore caíu e causou uma ou duas mortes, as reclamações contra o corte de árvores tiveram um súbito silêncio. Até agora.

Por conhecer bem o Eng. Jaime Ferreira, estou certo que procedeu segundo as devidas regras e precauções, tendo em vista a protecção de quem passe nas estradas - considerando o porte das árvores - e medidas que evitem a propagação de eventuais incêndios.

Como estive ausente, não me apercebi de qualquer intervenção do Senhor Presidente da Câmara, o que não quer dizer que a não tenha feito. E, se o fez, não terá deixado de abordar a biomassa ou a reestruturação do PNSC.

Sintra do avesso disse...

Meu Caro Fernando Castelo,

Há coincidências perfeitamente inesperadas. Então não é que, agora, ao ler este seu comentário, encontro uma referência à biomassa, assunto que pretendo abordar amanhã, precisamente através de um artigo que o meu amigo escreveu em Junho de 2007, artigo cuja pertinência se mantém intocável?

Olhe, assim se quebra a surpresa que pretendia fazer-lhe. Mas, na verdade, não poderia deixar de salientar a coincidência.

Ainda a propósito do desbaste. Não percebo porque o Presidente da Câmara poderá vir ser o último a abordar o assunto dos cortes, tanto mais que a CMSintra é accionista e tem sempre uma palavra a dizer. Refira-se que o blogue do Vice-Presidente da Câmara é que tem servido de "fronting" com comentários de um administrador da Agência Municipal de Energia e de um assessor do próprio Presidente, por sinal antigo responsável no Parque Natural Sintra Cascais.

A CMSintra é accionista da PS-ML e, se, nesta empresa, decorrem intervenções cujo teor e características deveriam merecer ou, pelo menos, pressupor um melhor acompanhamento camarário - ou até do referido assessor depois de nomeado para isso, em função da sua específica preparação técnica -porque razão o Presidente não se manifesta e o assessor se pronuncia, como se, a montante, nada tivessem a ver com a questão?

Repare o meu amigo que, a posteriori, o assessor dá pública expressão a uma posição que, salvo melhor opinião, pelo controverso desentendimento que envolve, deveria ter sido dirimida, inter pares, na reserva dos gabinetes...
Todavia, por favor, não entenda ser eu de opinião que a matéria em apreço não deva ser discutida publicamente. Deve, sim senhor. Mas não desta forma deselegante, com recurso ao blogue de um Vereador que é Vice-Presidente da Câmara. Mas isto tem pés ou cabeça? Até parece que, no gabinete da Presidência, há qualquer intenção de atingir uma empresa em cujo capital social a própria CMS participa. A menos que o Presidente tenha sido ultrapassado por quem o rodeia...

Que grande trapalhada!

Abraço

João Cachado

pedro macieira disse...

Caro João Cachado,
Aproveitando a sua sugestão de discutir um tema que me é bastante caro -O abate de árvores da PSML -
Desde 2007 no meu blogue tenho publicado fotos que a meu ver, demonstram os excessos que se tem cometido, pela PSML em áreas (antes) florestadas da Serra de Sintra.

http://riodasmacas.blogspot.com/2007/08/regresso-tapada-dfernando-ii.html

Conheço a sua posição sobre o assunto, e a sua posição sobre a actual gestão da PSML. Recentemente a ADPS, e agora o vereador Marcos Almeida, silenciosos desde 2007 descobriram que a intervenção está a ser excessiva...parece-me tardio.

Voltando à Tapada D.Fernando II no mês passado,

http://riodasmacas.blogspot.com/2009/01/serra-de-sintra-os-cortes-de-rvores-e.html

Senti que infelizmente tinha tido razão em 2007, quando pela observação do que estava acontecer, fiz as criticas que na altura, foram contestadas por Técnico responsável pela intervenção da PSML.
Na altura havia uma estranha empresa "Sequóia Verde" em roda livre nos abates e um projecto de uma central de biomassa...Em 2009 já não se fala disso, pois existe um acordo com a Portucel para a venda da madeira...

Passando na semana passada por Seteais e Monserrate...

http://riodasmacas.blogspot.com/2009/02/na-serra-de-sintra-as-arvores-ja-nao.html

o aspecto é desolador,com o terreiro Setiais encerrado com alterações de terreno e movimentações de terras em frente, e com as obras de Monserrate, que provocaram mais abates de árvores e aqui não seriam sómente espécies infestantes...(como nos outros locais), temos actualmente uma serra de Sintra descaracterizada e talvez durante largos, muitos largos anos.
Se há justificações técnicas para este tipo de intervenção, também as há que as contestam.

Se ainda há o argumento da prevenção dos incêndios, é verdade que sem árvores não haverá qualquer perigo de incêndios...

Ora parece que para aqueles que gostam de Sintra, e da Serra, não parece que a forma de preservar aquele legado unico seja com a desflorestação como está a ser feita actualmente.

Caro joão, aqui deixo alguns dos meus pontos de vista sobre um assunto que me preocupa, e que me deixa triste e pessimista.

Um abraço

Anónimo disse...

Têm a certeza que a madeira vai ser vendida á Portucel?E é mesmo verdade que já não vai haver Central de Biomassa na Abrunheira?Não, perdão,afinal era ali mais para o lado de Vale Flores, Ranholas, junto à EX-SAMSUNG...mas já não vai ser, pois não?É que alguns atentos descobriram que esteve a decorrer uma consulta pública, que nem foi divulgada pela Junta,a cuja área geográfica dizia respeito, sobre um Projecto de um Hipermercado de plantas, de uma empresa espanhola, para o terreno, classificado nesse estudo de impacte ambiental,como «desocupado» e que parece que era o tal destinado à Biomassa?Afinal de quem era o terreno?Então a Biomassa já não é moda?
Margarida

pedro macieira disse...

Errata ao meu comentário anterior.

Onde está Setiais deverá estar Seteais.
Só agora ao reler o texto do meu comentário, verifiquei a incorrecção.

Um abraço de novo e as minhas desculpas
Pedro Macieira

Rui Silva disse...

Ó Margarida, isso é - atendendo à devastação produzida no coração da Serra, e em plena zona classificada pela UNESCO - absolutamente irrelevante.

As pessoas podem-se entreter com histórias de empresas, de vereadores, de partidos, de engenheiros, biólogos. Nada restitui à Serra as toneladas não de madeira mas de árvores vivas que foram cortadas sem critério.

Esse é que é o problema.

O resto é para a gente mais ligada aos corredores do poder em Sintra se entreterem...

Rui Vasco Silva

Anónimo disse...

Estimado Senhor Dr. João Cachado,
Graças à minha mulher que me alertou para o seu regresso,voltei a ler os seus textos com imenso prazer.
Li as "últimas" como dantes se dizia e pesquisei dois ou três blogues com vários quadrantes.
Num deles por aqui aludido vi um interessante artigo intitulado PALAVRAS COM DUPLO SENTIDO que julgo ter como autor um antigo elemento do Parque Natural.
Garante-me o meu filho que o mesmo senhor foi até há pouco tempo Administrador da empresa que gere os parques de Sintra.
Li mais qualquer coisa de outro autor sobre árvores mas não vou agora debruçar-me sobre isso, preferindo contar-lhe uma breve história.
Há bons anos li o fantástico livro "Bürgermeisters Freunden" que relata as ambições de um autarca da Turingia que em ano eleitoral quis dar uma olhada ao "zentrum" e nele construir um "zoo". Comprou várias espécies de animais, entre eles um pequeno crocodilo que era o seu preferido. Deu-lhe tanta alimentação que o crescimento foi rápido. Uns dias antes das eleições perante muitos jornalistas amigos e convidados mostrou-se a fazer festas ao bicho para enfatizar as suas qualidades de domador, mas as ambições do animal já eram tantas que o comeu.Tinha crescido mais do que o previsto.
Esta é a uma breve história mas receio que ande por aí muito crocodilo.

Um grande abraço do
Diogo Palha