[sempre de acordo com a antiga ortografia]
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Um desperdício?
O Desperdício de anteontem, foi comentado pela Dra. Margarida Paulos através de um texto que, por sua vez, suscitou a minha subsequente resposta. Por me parecer que tais peças podem e devem ser partilhadas como propostas autónomas, decidi reproduzi-las.
Portanto, em primeiro lugar, o comentário da Dra. Margarida Paulos:
Não consigo entender porque é que as pessoas se espantam, pela manifestação de opinião do Dr João Cachado, em relação ao PS, e, nomeadamente, em relação ao Vereador Domingos Quintas: julgo que a competência e honestidade de que deu mostras, como responsável financeiro da autarquia, são indiscutíveis e o desnorte que actualmente se verifica (veja-se a reunião de câmara de hoje), vêm confirmar todos estes dados; por isso, a opinião do Dr João é justa e válida, como o foi para os socialistas de Sintra; no entanto,o facto de o Presidente da Câmara, ter o acesso, sobejamente conhecido à Comunicação Social, fez surgir a necessidade de se encontrar outra «figura mediática», no seio do Partido Socialista, que pudesse enfrentar alguém que está sempre nos écrans ou nas páginas de jornais e, de facto, o Dr Quintas, não tinha ainda tido oportunidade de construir essa imagem, junto dos sintrenses, o que em nada desmerece das qualidades de coerência, honestidade e competência enunciadas.
No entanto, a Drª Ana Gomes,é também uma muulher de princípios e uma lutadora e sabemos que se Sintra a escolher para dirigir os seus destinos, ela dedicar-se-á ao Concelho de alma e coração e em exclusividade, como é seu apanágio. Descansem os sintrenses que se a tivermos como Presidente, a teremos em fulltime e a 100%. Assim o queira a vontade de todos nós. Como socialista e amiga pessoal do Dr Quintas, resta-me agradecer ao Dr João Cachado, a referência amável, elogiosa e absolutamente merecida que lhe faz.
Margarida Paulos
15-04-2009 21:50
E a minha resposta:
Minha Cara Dra. Margarida,
Ao começar por escrever que se trata de uma cena «déja vue»* e, apesar da conotação eventualmente pejorativa que a expressão entre aspas evidenciará, também eu tinha em consideração as justificações, a montante da opção do Partido Socialista, que a Margarida tão bem e detalhadamente circunstanciou.
Compreendo. A opção é coerente com toda uma lógica que subjaz, a nível nacional e internacional, não só ao percurso do Partido Socialista mas também de outras instituições políticas e de índole mais abrangente. Limitam-se a corresponder aos desafios colocados por uma sociedade tão mediatizada como aquela em que estamos mergulhados.
De qualquer modo, julgo não exorbitar ao considerar que uma tal lógica não deixa de constituir uma «sui generis» forma de cedência cívica a instrumentos de comunicação que, algo perversamente, condicionam o escrutínio dos cidadãos, ao ponto de obnubilar a sua capacidade de avaliação. Era e é, tão só neste contexto, que me permiti pronunciar acerca da opção do Partido Socialista quanto à cabeça de lista para as eleições autárquicas em Sintra.
Como calcula, tal como a maioria dos munícipes sintrenses e dos portugueses em geral, a minha opinião acerca de Ana Gomes é consideravelmente positiva, especificamente no domínio da actividade diplomática que é o seu enquadramento profissional e de entrega pessoal à defesa das grandes causas dos Direitos do Homem.
Julgo, contudo, que se impõe jogar em inequívocos terrenos de verdade. Ana Gomes é óptima naquilo que a tem notabilizado no serviço que o país lhe pediu. De igual modo, Domingos Quintas é óptimo naquilo que Sintra lhe tem solicitado, ao ponto de, com toda a nobreza, ter satisfeito os interesses do concelho ainda que, como vereador da oposição, tivesse assumido a dificílima pasta das finanças municipais, sob a condução de «um executivo que não era o dele».
Neste contexto, até admito que Ana Gomes poderia ser uma presidente tão capaz como os que têm ocupado aquele cargo. Mas tenho a certeza, minha cara Dra. Margarida, que Domingos Quintas poderia fazer render, no momento próprio, todo o capital acumulado em anos de um saber feito de experiência, no concreto quotidiano de muitos anos de conhecimento das necessidades do concelho.
E quem, a priori, poderá demonstrar que, perante uma figura mediática consigo concorrente, Domingos Quintas não se evidenciaria, com argumentos que não lhe faltariam? Os combates de David e Golias também se dirimem nas arenas da comunicação e esta, como sabe, compreende interessantíssimos e surpreendentes mecanismos.
Quantos e quantos anónimos (e não é o caso...), não se têm transformado em fenómenos mediáticos? Enfim, só coloco a pergunta na presunção de ser esta uma «conditio sine qua non» de que o Partido Socialista jamais prescindiria.
Até parece que estou a defender uma qualquer estratégia de promoção de Domingos Quintas. E, se acrescentar que, na edição do Jornal de Sintra de amanhã, sairá a minha "6ª Coluna" subordinada a idêntica «defesa», então não tenho safa possível. Pois bem, nada menos correcto. Nem Domingos Quintas precisaria do meu aval que, perversamente, até lhe poderia causar nefastos efeitos, tal a minha fama...
Aproveitaria a oportunidade para sublinhar que, seja qual for a personalidade que vier a assumir a presidência do executivo municipal, na sequência das eleições do próximo Outono, importará que tenha uma perspectiva profundamente estratégica das necessidades do concelho, por exemplo, em função das suas características de ingovernável gigantismo.
Conhece a Dra. Margarida como, a propósito, tenho defendido a cisão desta grande unidade concelhia em duas ou três, a partir das afinidades de vária ordem entre freguesias agrupáveis para efeito da desejável governabilidade. Temo que, enquanto tal não acontecer, enquanto tal estratégia se não concretizar, enquanto a visão de Estado não se sobrepuser aos mesquinhos interesses de ordem partidária e eleiçoeira, se continue a perder um tempo precioso, sem proveito para quaisquer munícipes, apenas prolongando o «statu quo».
Como sabe a Dra. Margarida, a actual situação é particularmente conveniente não aos políticos - que somos todos nós, homens e mulheres da polis - é particularmente conveniente não aos cidadãos - que somos todos nós, homens e mulheres da cidade - mas, isso sim, aos politiqueiros e corruptores da Democracia e da cidadania que a sustenta.
Enquanto a coisa se mantiver e apresentar este quadro de inconveniência, não auguro nada de especialmente profícuo e favorável à melhoria da qualidade de vida do meio milhão de pessoas que habita um concelho desconforme, uma manta de retalhos, que se abriga à prestigiada designação de Sintra, mas que pouquíssimo tem a ver com o topónimo e seus aparentes privilégios.
Portanto, e, em conclusão, como bem vê, a minha luta é por uma causa outra, que nem sequer vai aparecer no programa de qualquer das organizações partidárias concorrentes à Câmara de Sintra, uma vez que a actual «lógica» partidária interpreta tal proposta como um tiro no pé.
O mais certo é que passem ainda vários mandatos, antes que a minha razão se evidencie como inevitável.Com os meus mais de sessenta anos, não prevejo que assista à concretização da ideia. Mas quem disse que o sonho é para realizar durante o efémero tempo da nossa existência física?As melhores saudações,
João Cachado
16-04-2009 10:58
Claro que muito gostaria de relançar o debate da dimensão do concelho. No entanto, com a correcta noção das minhas fracas possibilidades e limitações, considero ser matéria de suficiente abrangência para suscitar a existência de um forum, dotado de suporte logístico adequado à concretização operacional das diligências que tal projecto pressupõe.
* vd. texto publicado em 14.04.09
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1 comentário:
Tendo lido a sua opinião sobre a criação de um fórum alargado com o objectivo de repensar a divisão deste Concelho de Sintra, não posso deixar de comentar tal opinião.
Parece-me por demais evidente que a actual situação do Concelho de Sintra não serve os interesses dos cidadãos que vivem nele, trabalham nele e esperam fazer nele a sua vida digna e, na medida do possível, feliz. Com uma cabeça tão longínqua do corpo e das suas reais necessidades é quase impossível um governo eficaz do mesmo. Estou a lembrar-me essencialmente da área urbana que garante em larga medida o orçamento da autarquia, mas vê um diminuto investimento nas necessidades que tem. Não é possível continuar com este estado de coisas. É cada vez mais necessária a divisão do Concelho, para que os recursos sejam aplicados onde são criados, para que as decisões estejam bem mais perto dos cidadãos e para que a responsabilização pelas mesmas decisões seja bem mais fácil e proximamente exigida.
Cumprimentos
Manuel Magalhães Rocha
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