Rua dos Arcos,
pela enésima vez
Raro é o dia em que, nas minhas andanças, não passo pelo centro histórico deparando-me com aquele conhecido quadro de desleixo e consequente degradação, que atinge ruas inteiras e edifícios, de modo perfeitamente intolerável, que, ao longo de anos, me tem levado à denúncia da situação através da escrita de dezenas de artigos no Jornal de Sintra e também no sintradoavesso.
Em princípio, quando faço esta volta, o meu percurso é sempre o mesmo. Da Volta do Duche, passo à Misericórdia, atravesso o largo e, pela Consiglieri Pedroso, passo aos Pizões, Regaleira e Relógio para descer o Caminho dos Frades, continuando pelo tão desprezado mas lindíssimo Caminho dos Castanhais. Finalmente, para regressar ao largo, acedo à Pendoa para, logo de seguida, percorrer aqueles tenebrosos metros da Rua dos Arcos.
Esta rua, mesmo aos pés dos Cafés Paris e Central, antiga Rua do Açougue [as-soq], do mercado, falando um tempo árabe que se nos cola à pele, apesar de via curiosíssima que poderia constituir um dos mais interessantes pólos de animação da mouraria sintrense, está transformada numa verdadeira cloaca.
Paredes esburacadas, azulejos arrancados, teias de aranha, canos e fios de electricidade pendurados, garrafas partidas, lixo e água putrefacta ou a escorrer pelos nos interstícios das pedras, à porta baixa e quase secreta dos mencionados estabelecimentos de restauração, eis os ingredientes de porcaria onde, um ou dois metros acima, os turistas nem sonham que alicerçam a sua refeição.
Praticamente nas trevas, é um espaço de indignidade, de ignomínia, lugar geométrico e paradigma de incompetência de gente que, assim, se permite mostrar, tão sem vergonha, o produto acabado da falta de capacidade de gestão de uma urbe que merece outra atenção e dedicação.
Para ser digno daquele espaço não é preciso esperar pela operacionalidade do costume (?!) de uma qualquer empresa de reabilitação urbana. Estamos fartos, tão fartos de dilatórios alibis...
4 comentários:
Dr. João Cachado
Na verdade já várias vezes passei por esta rua e concordo completamente. Mais: aquilo é um caso para a ASAE que deve andar muito distraída.
Parabén pelo artigo. Não há nenhum exagero da sua parte. Não se percebe como é que a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia não actuam. Há um austríaco (que é genro do antiquário Sr. Henrique Teixeira) dono de um bar nas escadinhas mais à frente com quem converso por vezes. Ele já me disse que conhece o Dr. Cachado (sabe que o senhor vai muitas vezes e passa longas semanas na Áustria) e que aprecia muito a sua dedicação a Sintra. Não calcula o desgosto do homem por o centro histórico de Sintra estar nesta miséria. É uma vergonha. Veremos se nas eleições conseguimos votar num(a) para presidente que faça o que é preciso fazer em Sintra.
Carlos B.
Estimado dr. João,
Compreendo a sua irritação porque a Rua dos Arcos é mesmo no meio do centro histórico de Sintra. Mas a vergonha da Pensão Bristol e do Hotel Neto, as trazeiras do Palácio da Vila e a falta de limpeza das ruas que noutros tempos até eram lavadas pelos bombeiros, é uma dor de alma. Vou nos setenta e tal, sou mais velha do que o senhor uns bons dez anos e ainda tenho mais razões de queixa. Quando foi o 25 de Abril tinha acabado de fazer quarenta anos. Nunca pensei que depois de trinta e cinco anos Sintra esteja pior do que naquela altura. Está mesmo pior e o meu desgosto é enorme. Desculpe a franqueza mas o senhor é dos meus pelo que compreende o que eu sinto. Depois do José Alfredo só o Dr João tem denunciado e dito as coisas pelos seus nomes mas como vê o remédio é o mesmo... Com a minha idade e pouca saúde devo estar à beira de participar nas últimas eleições. Não sei se a Dra Ana Gomes vai ganhar a presidência mas só ela tem categoria para o lugar. Veremos dentro de um mês e meio e vamos esperar que tudo mude. Tenho esperança porque para pior já não é possível. O meu neto que foi seu aluno é que me lê as suas coisas e hoje resolvi ditar estas palavras com muita consideração por si.
Coragem. Com a maior simpatia,
Margarida
Estamos fartos mas o senhor continua a comportar-se, como se não houvesse leis para ele neste país, com a maior impunidade;o maior receio é que as pessoas tenham esquecido o mal que vai fazendo e o «nada» que tem feito.
Margarida Mota
O que não faltam em Sintra são símbolos de incompetência da Câmara Municipal. O presidente é o culpado nº 1 mas a CDU tem facilitado muito a vida em troca dos SMAS onde impera e o PS não devia ter aceite pelouros onde não era possível trabalhar. Sintra está sem qualidade de vida e vai levar muitos anos a recuperar.
Rui Nunes
Enviar um comentário