O crédito do desassombro*
A Dra Ana Gomes, diplomata de carreira, embaixadora com folha de serviços absolutamente brilhante, cidadã condecorada pelo Presidente da República em reconhecimento do seu envolvimento nas causas que todos sabemos, não teve qualquer problema em classificar a presença em Tripoli do Dr. Luís Amado, por ocasião da comemoração dos quarenta anos de implantação do actual regime pelo Coronel Khadafi. Atitude nojenta, disse ela.
Aquilo que sempre seria uma declaração de grande coragem, adquire contornos de absolutamente excepcional perante o inqualificável grau de mediocridade, não só da classe política portuguesa mas também de alguma europeia. De facto, a atitude de subserviência do MNE de Portugal perante o tirano líbio, não é caso único no velho continente. Veja-se a decisão do Governo da Escócia de conceder a liberdade ao condenado a prisão perpétua Al Megrahi, o operacional do atentado que resultou na tragédia de Lockerbie, por razões humanitárias, ou seja, em leitura corrente, como moeda de troca para negociatas com o petróleo líbio protagonizadas pelo governo de Sua Majestade…
A propósito, conviria lembrar que, ao contrário do que determinada escola de farisaísmo pretende, a condição de diplomata em nada diminui o estatuto de dignidade do cidadão e, para todos os efeitos, também não pressupõe qualquer limitação ao exercício do seu direito à indignação. Por outro lado, como é bem sabido, os diplomatas que se limitam a não levantar ondas e a proceder de acordo com o politicamente correcto nunca passaram nem passarão de medíocres mangas de alpaca.
Neste contexto, só quem não quiser é que não percebe o que, efectivamente, significa aquele violento adjectivo, dirigido ao MNE que, precisamente, é o responsável de topo pela diplomacia do país. Por outro lado, particularmente em Sintra, só quem estiver muito desatento não entenderá o valor de tanto desassombro, a crédito de quem sabe estar à altura das circunstâncias.
*Publicado no JS 11.09.09
3 comentários:
Meu caro João Cachado,
Há muitos anos, numa reunião onde também estava presente um jovem que viria a ser governador-geral de um território sob administração portuguesa, havia uma frase que servia como que de senha no relacionamento e me tem acomnpanhado ao longo da vida: "Os homens sem acção, não passam da cepa torta".
Esse jovem, mais tarde general, certamente ficaria encantado por ver aqui reproduzida esta frase tão determinante e que o levou aos mais altos patamares de vida nacional.
Hoje, acrescentaria "homens e mulheres" já que tantas delas merecem apreço pela sua dedicação à luta e à evolução da sociedade.
A Sra. Dra. Ana Gomes tipifica todo o sentido da antiga frase, não só por esta sua posição política, mas também pela forma como se está a entregar na avaliação das débeis condições de qualidade de vida do nosso concelho. O debate de ontem mostrou essa nova realidade, porque é hora de passarmos da cepa torta.
Meu Caro Fernando Castelo,
Só hoje - e já é dia 12 - tive oportunidade de visionar o debate que juntou os candidatos à Câmara de Sintra. Infelizmente, muito se perde em não assistir à transmissão em directo, uma vez que a qualidade da gravação não permite aquilatar uma série de detalhes cruciais relativavos às outras linguagens comunicacionais que muito ultrapassam a emissão de mensagens verbais...
De qualquer modo, não foi difícil concluir como, exceptuando o caso do Prof. Fernando Seara, nitidamente em grande estado de enervamento, os outros candidatos estiveram à altura do que era suposto acontecer.
Salientou-se a eficácia dos três discursos ao serviço de propósitos que, desde o início, eram legíveis. Gostaria de pôr em realce a atitude da Dra. Ana Gomes que, extremamente económica, elegeu como estratégia, para além da denúncia de situações criticáveis, ridicularizar os truques do Prof. Seara. Em especial, depois de o pôr em causa e de o fazer entrar numa zona de evidente desconforto e, já com ele em desespero de causa, obrigando-o a agir como a criança apanhada em fraqueza, impelindo-o a saltar para um outro assunto que, aparentemente, lhe seria mais conveniente não se desse o caso de, também aí, ser fragilizado e ridicularizado.
Como era de esperar, numa reunião a quatro, e sabendo que a Dra. Ana Gomes é a protagonista da candidatura que lhe vai fazer a vida negra, o Prof. Fernando Seara não regateou a saliência decorrente, tendo de emendar a mão mais do que uma vez, para alargar aos restantes as réplicas que, tão somente, eram dirigidas àquela candidata.
Às tantas, visivelmente descontrolado, o Prof. Seara já não conversava, já não dialogava mas vociferava, enquanto a Dra. Ana Gomes mantinha a atitude de um sábio distanciamento sorridente, irónico qb, que continuava a desarmar o candidato da Coligação Mais Sintra.
Também André Beja não se deixou impressionar com uma certa atitude paternalista e, ainda menos, com as capacidades histriónicas que todos conhecemos no Prof Seara.
Quanto ao candidato da CDU, apesar de envolvido na gestão do município há vários mandatos, o Engº Baptista Alves soube demarcar-se perfeitamente do percurso do actual presidente, saindo-se bem do objectivo de não ser entendido quase como um seu «compagnon de route».
Ainda vai correr muita água debaixo da ponte. Vamos sperar que a campanha decorra com elevação, sem achincalhamentos, sem que, em circunstância alguma se baixe o nível de comunicação entre candidatos cujo nível de educação e de urbanidade é mesmo superior à média. Num país em que o analfabetismo e a iliteracia ainda apresentam níveis tão preocupantes, uma campanha eleitoral, como a que se perspectiva neste concelho tão compósito e díspar, pode constituir um período que, em vários domínios, deve ser altamente pedagógico.
A torcer para que saiamos da cepa torta, aí vai o abraço amigo
João Cachado
O crédito que o Cachado refere vai para a conta das eleições autárquicas em Sintra e também para a carreira diplomática da Dra. Ana Gomes.
Sérgio Gonçalves
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