[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Esquerda
e politicamente correcto

Este início de século e de milénio deve ser das alturas da História – tanto a recente como a mais longínqua – em que menos cómoda e natural se revela a assunção de qualquer opinião individual contra a corrente prevalecente.

Muito naturalmente, tal circunstância nada abona o tempo que passa e, pelo contrário, confirma como a geral e prevalecente ignorância, se evidencia em percentagem bem mais significativa do que noutras épocas.

De facto, não sendo pouca a ignorância vigente, ela também é directamente proporcional à menor elasticidade mental para o acolhimento de ideias e realidades aparentemente contrastantes que, pela sua natureza e características, levam o homem comum a considerar os seus autores como gente paradoxal.

Estou em crer, ser esta a moldura do que se entende por politicamente correcto. Ou seja, isto que não passa de hipocrisia institucionalizada, radica na desvalorização do conhecimento, na recusa ou na incapacidade de reflexão e de análise, de tudo quanto, ao fim e ao cabo, seja susceptível de exigir às meninges mais do que o boçal arroto da ignorância.

Quando alguém confessa publicamente o seu catolicismo militante e se apresenta flagrantemente contra o designado casamento entre pessoas do mesmo sexo; se, em diferente registo, ainda mais contundente, declara uma afición tauromáquica sem limites ou uma fervorosa simpatia pelo espectáculo do circo, muito dificilmente será entendido se for conhecido o seu inequívoco posicionamento ideológico de esquerda.

Porque, em geral, a esquerda politicamente correcta, quando não é ateia será agnóstica. Por norma, a esquerda é a favor do casamento entre homossexuais. Inquestionavelmente, a esquerda assina todas as petições a favor da pura e simples extinção dos espectáculos circenses desde que incluam animais amestrados. E, por fim, perante o folclore adrede dos últimos anos, quanto à tauromaquia, estamos mais que conversados…

Coitada desta esquerda! Ele há gente para tudo… Muito limitadinha, sem sal nem pimenta, incapaz de entender como, de lista tão fastidiosa quanto longa, poderei recorrer aos tão compósitos e ecléticos Picasso, Hemingway ou Orson Wells, que tudo davam por uma boa tourada, com touros de morte, e com todos os outros ingredientes de excesso, tais como bom vinho e bonitas mulheres, na festa dos sentidos.

Sabem, coisas de gente inteira, umas vezes de esquerda, outras de direita, mas sempre na face da Verdade, pelas causas da Arte, da Beleza e da Liberdade.

Politicamente correcto? O que é isso?

5 comentários:

Ricardo José Santos disse...

João Cachado,
Quanto aos gays cada um come do que gosta e desde que sejam discretos tudo bem mas não chamem «casamento» a união de dois homossexuais homens ou mulheres. Quanto às touradas
já se sabe que o Cachado é um grande aficionado.
Também se sabe que é católico e mesmo mais coisas que não se relacionam com a esquerda tradicional. Percebeu-se a sua mensagem. Esteja descansado.
R. José

Anónimo disse...

Ser católico, gostar de touros, mulheres e vinho e não concordar com o casamento dos gays, são coisas de gente de direita.

Os intelectuais de esquerda que declaram ser católicos, aficionados das touradas de morte, discordam do casamento dos homossexuais, são caçadores e grandes fumadores de charutos, normalmente são elitistas que se consideram acima do comum dos mortais e por isso o comum dos mortais considera-os paradoxais.

Sociólogo da treta

Anónimo disse...

Eu sou católico, sou heterossexual, discordo dos casamentos entre homossexuais (casei com uma mulher e a isso é que chamo casamento) gosto de touradas e de circo, sou socialista, não posso com o Sócrates. Aqui acabam as contradições com a gente de esquerda porque sou de Sintra e com todos tenho de aturar o Seara mais uns anos e isso é que me chateia mais.
MJM

Alice Relvas disse...

Politicamente correcto não é coisa de gente inteira e gente desta há à esquerda e à direita. Bem haja por este texto tão lúcido.

Alice Relvas

Anónimo disse...

Isso de gente que não é inteira deve ser alguma indirecta aos homossexuais...