[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 5 de julho de 2010



As casas da CP


Ao passar pelos números vinte e oito e trinta da Rua Dr. Alfredo da Costa, estamos na zona da estação terminal do famoso Larmanjat. Em qualquer local civilizado – Sintra, infelizmente, teima em não seguir essa pauta – haveria uma placa relativa a esta memória, tão curiosa, do percursor do serviço de caminhos de ferro entre Sintra e Lisboa. Aqui não há qualquer menção, nada.

Nada, enfim, é como quem diz… Porque, afinal, até há muita coisa. Há o costume e o que seria de esperar, ou seja, imundície por todo o lado, a partir de dois corredores que abrem para um amplo e sombrio pátio, onde as designadas casas da CP, degradadíssimas, desbotadas, afaveladas, ali estão à devassa de quem, à cota mais alta, na Av. Miguel Bombarda, a rua da estação, se detém espreitando e até fotografando – que vale a pena levar esta recordação de Sintra Paisagem Cultural da Humanidade – testemunho da tão proverbial e sintrense cultura do desleixo.

Como é possível tanto desaforo, tanta desatenção do município e de quem, ao longo de uma década, ainda não teve maneira de exercer a autoridade democrática de que está investido, no sentido de obviar esta e outras quejandas situações. É certo que isto se arrasta há dezenas de anos. Tal como a Garagem Sintra, também a poucos metros, e, na mesma freguesia de Santa Maria, passou a constituir mais um atestado de geracional incompetência da gestão autárquica.

É uma vergonha, apenas mais uma, a envenenar o quotidiano de quem não se demite da denúncia que se impõe. A propósito, como não recordar a amargura com que o nosso bom e saudoso José Alfredo acabou os seus dias, desgostoso de assistir à degradação da sua e nossa Sintra. Como o compreendo, eu que já tenho filhas aqui nascidas, a caminho dos quarenta, e netos que jamais viram esta terra como nós, os mais velhos, nos recordamos.

Ao contrário do que acontece em tantos lugares, cá e lá por fora, que melhoram com o passar do tempo, Sintra regride. Sintra dá-se ao luxo de mostrar estes cantos e recantos podres, mal cheirosos, desafiando quem daria o que não tem para poder dispensar semelhante espectáculo.



3 comentários:

Anónimo disse...

Caro J.Cachado,
Ainda bem que mencionou o José Alfredo. Percebo porque é um antecessor da atitude do João Cachado.
Este caso merecia fotografia. Era a cereja sobre o bolo desta escrita.
Célia

Graça Sampaio disse...

O Sr. José Alfredo de boa memória! Meu querido vizinho lá de cima da Vila, com os seus bons olhos de ver Sintra e os seus passeios matinais... Como era bela e cuidada essa Sintra em que vivi! E, tenho a certeza que continuaria a ser para mim, malgré tout, se ainda aí vivesse!
O actual Presidente é mais Benfica....

Joaquim Santos disse...

De facto ainda bem que o José Alfredo morreu a tempo de não ver a situação actual. Há demasiadas coisas degradadas a que ele apontou o dedo muitas vezes. O horror dos nossos dias só aguenta o Seara que não conheceu Sintra no tempo do José Alfredo...
Joaquim Santos