desgosto e compensações
Nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste. [Rodrigo da Fonseca (1787-1858), notável político e parlamentar liberal].
No Verão, pouco é o tempo que passo em Sintra. E, estando em Sintra, sabem o que me vale? Pois, nem mais nem menos, o facto de Lisboa e Cascais ficarem bem perto... Não fora tão propícia vizinhança, como afogaria eu os desgostos que aqui me atingem?
Na realidade, pensando bem, apesar de estar tão ligado a esta terra, como ignorar o terrível desleixo a que se chegou na sede do concelho? Por outro lado, raríssimas são as manifestações de carácter lúdico, desportivo e cultural que a ela me prendem. Além das caminhadas de todos os dias, da leitura e da escrita que, registe-se de passagem, concretizo em qualquer local onde me encontre, em Sintra, cada vez mais são os desgostos, embora não o afastamento.
Falta o quê? Além do que importaria resolver, em especial a questão do estacionamento, faltam a oferta cultural, a boa música, conferências, exposições, teatro, cinema. Com a expressão da qualidade que seria de esperar, tais manifestações não existem. Não fosse a persistência do João Alvim no Chão de Oliva e Sintra seria um perfeito subúrbio, com umas coisitas promovidas por umas associações culturais, recreativas e desportivas, muito bem intencionadas, coitadas, mas que disso não passam. Um deserto!
Justo seria de esperar que o Centro Cultural Olga Cadaval oferecesse uma programação anual, em articulação com a oferta da capital, em complemento e suplemento das suas propostas culturais, obedecendo aos únicos parâmetros que importa respeitar, os da qualidade. Se possível, sempre, da mais alta qualidade.
Claro que não é isso que acontece. Salvo raríssimas excepções, à programação do CCOC não se reconhece uma linha de força que a distinga nalguma especificidade. Infelizmente, até o Festival de Sintra, que eu próprio cheguei a classificar como o produto cultural mais nobre de Sintra, se degradou a um ponto dificilmente previsível desde que, há poucos anos, acolheu o desconchavo dos designados contrapontos.
No meio desta "(...) austera, apagada e vil tristeza (...)", injusto seria não mencionar como a Parques de Sintra Monta da Lua, empresa civilizada e competente, responsável por um sofisticado património natural e edificado, me dá o único alento na relação pessoal com Sintra. Quanto ao resto, é de tal modo escasso, tão raro o que de eventual sinal positivo existe, que não tem expressão no contributo para o enriquecimento espiritual que seria suposto usufruir, num enquadramento tão propício quanto mal tratado.
Felizmente, por via da proximidade de Lisboa, acabo por fazer do arquipélago Gulbenkian a minha segunda casa. Realmente, é nas ilhas da Fundação que mais tempo passo, para além do local onde vivo. E, como tantas vezes tenho expressado nas páginas deste blogue, também Estoril e Cascais compensam, em larga medida, as falhas e faltas sintrenses, nomeadamente, as decorrentes e consequentes da tão proverbial e florescente cultura do desleixo.
PS:
Já repararam que, nem as praias, escapam à endémica incompetência de Sintra? Se dúvidas tiverem, basta fazer o Paredão, entre a Azarujinha e a Praia da Rainha – não deixando de aceder ao Parque Palmela, através da recém disponível passagem subterrânea, dotada de uma belíssima colecção de azulejos de Nadir Afonso – e depois comparar com os arranjos [?!?] ali à volta da Praia Grande ou da Praia das Maçãs…
8 comentários:
Mais uma vez totalmente de acordo. Sintra é um deserto cultural.
Deve ser por isso que uns parasitas armados em agentes culturais andam aí
armados em saltimbancos
agarrados à erva a fazerem distúrbios e a pôr em causa a segurança das pessoas
atrás do Olga Cadaval
sem a GNR fazer
o que deve nem a Câmara.
Desculpe mas tenho medo de assinar. Noutro dia foi um parar ao hospital muito mal tratado
e eu tenho filhos pequenos.
Parece que a passagem do Parque Palmela ainda não foi inaugurada e já é um grande êxito. Cascais tem muita sorte: - o caso do Museu da Paula Rego é incrível enquanto em Sintra nem se pode dizer que estamos cá para ver andar os carros eléctricos, porque estes senhores da câmara nem sabem pô-lo a funcionar...
Carlos Sousa
Caro João Cachado,
Chamaram a minha atenção para o seu blogue pelas comparações entre Sintra e Cascais, sempre muito favoráveis à minha terra que é Cascais.
Todas as comparações são possíveis mas quando aparecem tão bem justificadas como as suas é um prazer muito grande. Tenho pena por Sintra que confirmo está muito mal tratada.
Dou-lhe os parabéns pela correcção do português que escreve. Dá gosto numa altura em que se escreve tão mal. Muito obrigada.
Lurdes Cabral
Caro Dr. Cachado,
Vê-se que é um homem de cultura. Num pequeno texto, cita Rodrigo da Fonseca (tão esquecido...), Luís de Camões e ainda refere Nadir Afonso. Tudo sem alarde de erudição. Era bom que a maioria dos blogues tivesse esta qualidade.
Sintra está mal, é muito verdade que Cascais compensa mas Portugal é mesmo um país de brutos, uma piolheira sem renédio.
Luís Macedo
Há os brutos de que fala o Rodrigo da Fonseca e os "analfabrutos" que são duma espécie muito frequente em Sintra.
Em Sintra também há ainda uns senhores que prometeram muita dedicação e agora andam mas é a ver se caçam níqueis
sem se saber para que cofre...
João Fernandes
A propósito do primeiro comentário acerca do que se passa atrás do Olga Cadaval, ontem a polícia fez uma boa rusga ao Espontâneo e à casa do dono do bar que toda a gente sabe que é primo do Dr. Lacerda Távares...
Também acompanho a persistência da Casa de Teatro de Sintra - Chão de Oliva. Temos, agora, outro pequeno grãozinho de areia - O café Saudade - tão bom que até parece que estamos em Cascais... Seria realmente de esperar outra coisa do Centro Cultural Olga de Cadaval... O que vale é que Lisboa e Cascais vão colmatando as falhas mas que dá pena dá...
Concordo inteiramente com o comentário anónimo datado de 26 de Julho. Moro na Praceta em frente ao referido bar "S'pontaneo" pertencente a Diogo Pessoa Lopes (pessoa muito querida por alguém/ns da C.M.S.) agora membro de um "Colectivo Social" com actividade Cultural na região de Sintra e arredores de nome "Cuspo e Fita-cola"... que negociando qualquer coisa a que chamam cultura... vão sobrevivendo!
- Em qualquer outro local (regido por regras democráticas ou simplesmente por regras de convivência e respeito pelos outros - porque ali o que reina é a anarquia) já estaria fechado ao público há muito tempo.
Desculpe o desabafo mas pouco mais nos resta depois de passar inúmeras noites sem poder descansar por causa da barulheira até de madrugada vinda daquele "colectivo"...
Aproveito o seu blogue para chamar atenção a instituições como a Casa de Teatro de Sintra, a Alagamares, a Sociedade União Sintrense e o Teatro Tapa-furos (que penso serem seus leitores) para o facto de estarem a figurar nas páginas de internet criadas por este colectivo de Cuspos e Fitas-colas como: - amigos e aderentes. Proponho que tentem saber mais sobre esta gente que não tem pudor em transformar a vida de dezenas de famílias e comerciantes num inferno...
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