Sintra e a lógica dos caça-níqueis
Aquelas caixinhas que, sem custos para o explorador, nos caçam moedas em cabines, parquímetros, estampilhas e, até, para massagens, sem satisfação do desejado, criam a convicção de impunidade pelos proventos indevidamente recolhidos, ainda por cima com pouco risco.
Estamos perante uma habilidade em que os manipuladores das moedas recolhidas não denotam intenções de reinvestir no desenvolvimento, antes as usam para alargar o seu espaço e interesses. Incentivados pela quase indiferença dos lesados, também na política se nota uma cáfila de sujeitos cada vez mais convencidos de que o voto lhes deu direito ao esbanjamento dos níqueis que são de todos nós.
Graças à progressiva falência da moral pública e de actos concretos para a salvaguarda dos mais alargados direitos dos administrados, os caça-níqueis têm sido génese de outros segmentos em que a filosofia é sacar o mais possível ou esbanjar segundo calendários estabelecidos. A grande maioria dos portugueses tem incertezas sobre o futuro? Somos cada vez mais penalizados com a desculpa de que é preciso recuperar e economia? Paciência, há sempre um motivo para gastar de qualquer maneira, mesmo que isso venha a hipotecar o futuro. Como tudo seria diferente se o dinheiro fosse dos decisores...
Nesta matéria, conhecendo-se as carências estruturais em Sintra, a que se acrescentam afirmações frequentes do Presidente da Câmara sobre os gastos e apoios à pobreza (a sociedade é que apoia...), élegítimo que nos questionemos sobre algumas transacções em curso. À cabeça de todas está a ameaça de se concretizar a aquisição da Quinta do Relógio, usando um empréstimo de muitos milhões de euros, sem que se saiba quantos outros milhões custará a recuperaçãoe quais os fins em vista.
Trata-se de um gasto não reprodutivo que apenas irá tornar milionários os vendedores. Para os munícipes será mais um sacrifício a pagar por um negócio que não é deles. Nestas coisas não pode haver abstenção. Muito menos o recurso à habilidade semântica de pretender justificá-la politicamente como distanciamento...
Que devemos pensar quando num espaço pago com dinheiros públicos por uma Freguesia de Sintra (em canal fechado de TV), a pretexto de Feiras Temáticas, são notórias as promoções ao futebol e ao clube em que o presidente também o é da Junta? O facto de serem super-amigos (ver “Portugal SemFronteiras”, RTP, 14.2.2009) justificará que o Presidente da Câmara, depois de o seu rosto ser mostrado durante dois segundos, sem palavras, venha a perorar também sobre futebol?
Do território, seus problemase anseios, nada foi abordado, num nítido sintoma de total alheamento. Para terminar os exemplos de como se gasta o nosso dinheiro, refira-se que numa autarquia onde a pobreza é frequentemente invocada, deveria ser publicamente conhecida a lista de assessores e outros cargos ocupados por vocação partidária, com custos, serviços que desempenham e respectiva utilidade.
Se os munícipes soubessem os contornos dos envolvimentos partidários neste bodo, ficariam claras as razões porque tudo parece correr em Sintra no melhor dos mundos, sem que haja a denúncia activa de muitos actos praticados. O silêncio de certas forças é justificado pela exacta dependência das benesses...
Aqui chegados, não é despiciendo que os caça-níqueis tenham evoluído para os esbanja-níqueis. O perigo está, isso sim, cada vez mais, nos níqueis-dependentes, porque vendem a alma ao diabo. Pelo meio, quase a adormecer os súbditos, organizadamente, são precisas histórias de encantar...
Fernando Castelo
4 comentários:
O Fernando Castelo e o João Cachado estão a bater-se para que a compra da Quinta do Relógio não vá para a frente. A população está anestesiada e isto passa-lhe ao lado. Mas a CDU (que se absteve) e o PS que votou contra podiam acabar com este negócio que é um verdadeiro escândalo. O problema é terem todos rabos de palha...
Margarida
A dedicação que estes senhores prometeram deu nesta pouca vergonha que temos que aguentar porque o povo não vota em gente capaz mas no careca do Benfica. Este é que é o problema, esta gente não merece a democracia.
Celso Dantas
Caros amigos Fernando Castelo e João Cachado,
Tendo em consideração o teor deste texto, tomei a liberdade de o reproduzir na integra no blog Por Penaferrim (http://porpenaferrim.wordpress.com).
Cumprimentos.
Nuno Barros
Já há um tempo não passava por aqui...alertada pelo Fernando Castelo ,sobre um comentário,possivelmente da minha autoria,vim espreitar e, mais uma vez, deparo com um comentário assinado por Margarida,sem apelido, como já vem sendo habitual e de novo, vejo-me obrigada a esclarecer que não fui eu, Margarida Paulos,quem o fez;embora esteja de acordo com uma parte do que se diz, não fui eu,pois quando comento assino.
Margarida Paulos
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