Atenção aos cêntimos…
A braços com uma crise cujos contornos e conteúdo não é necessário escurecer com matizes mais carregadas para se revelar tão altamente preocupante, não há decisor político que, finalmente, se atreva ao desperdício de qualquer cêntimo sem que logo seja acusado de escandaloso despesismo. Até parece que terá sido preciso chegar a tal situação para que o cidadão comum começasse a acordar para a realidade das coisas…
É neste contexto que, até mesmo quem tanto tem tardado a assumir as definitivas consequências das medidas de austeridade que se vão abater sobre a sua já difícil vida quotidiana, já começa a perceber que tem de alterar hábitos de consumo e a entender que a administração central e local dispõem de recursos limitadíssimos perante os quais importa estar atento e exercer o escrutínio que se impõe.
Se, a nível nacional, a inquietação não pode ser mais aguda, mergulhados que estamos em águas cuja turbulência não têm par nas décadas mais recentes, no âmbito municipal, neste território de um concelho desproporcionado e multifacetado, onde vivem quinhentas mil pessoas – cem mil das quais no limiar da pobreza ou na miséria mais abjecta – a situação social não pode ser mais séria.
Se bem recordados estamos, aquando da visita a Sintra do Presidente da República, com a comitiva reunida em determinada escola das redondezas, o Senhor Presidente da Câmara Municipal , sem quaisquer problemas quanto à contundência do seu discurso, denunciou o que vinha acontecendo em termos da situação social, conduzindo à necessidade de manter abertas, inclusive nos fins de semana, as cantinas de determinados estabelecimentos escolares para matar a fome às criancinhas e até às famílias.
Mais recentemente, no passado sábado, o semanário Expresso, em parangona de primeira página e desenvolvimento de grande destaque nas centrais, voltou à questão, implicando os Presidente e Vice-Presidente da Câmara através de declarações que não puderam deixar de sensibilizar tanto a comunidade nacional como a local. De facto, Sintra atravessa uma gravíssima situação social, a miséria acontece, a fome atinge os mais desprotegidos, instituições públicas, associações, a Igreja já dificilmente conseguem acorrer a tanta necessidade.
Perante tudo isto – e volto ao início desta reflexão – a única coisa que se espera dos autarcas sintrenses é que sejam consequentes e inequivocamente coerentes com as suas tomadas de posição. Significa isto que, perante tal estado de coisas, não se incorra em qualquer despesa evitável.
Quando se chegou à situação de a Câmara Municipal de Sintra, apesar de exaurida de recursos, ter de acorrer às necessidades de crianças com fome, cujas famílias entraram em ruptura total, soçobram quaisquer argumentos afins da manutenção de gastos supérfluos, embora os cidadãos estejam habituados a considerá-los como normais.
Nesta altura, de carências tão absolutas que levam ao quadro de fome, deixou de ser normal engalanar as ruas com iluminações de Natal. Na minha opinião, já aqui oportunamente expressa, pura e simplesmente, acabava com elas. Concedo, no entanto que, não optando pela solução radical, será possível dar um ar de graça simbólica, numa ou noutra artéria, através de arranjo o mais doméstico possível – por exemplo, envolvendo os miúdos das escolas – até para que os cidadãos percebam a seriedade do momento que vivemos.
Naturalmente, já a outro nível, e, por maioria de razão, não se percebe que a autarquia mantenha o propósito de se envolver no despautério total que, em momento de crise tão avassaladora, seria a aquisição da Quinta do Relógio.
11 comentários:
Meu estimado João Cachado,
Permita que comece pelo seu último parágrafo para salientar que, estou certo, o negócio da Quinta do Relógio seria uma modesta contribuição para o calor natalício de umas quantas pessoas, permitindo compras especiais, banquetes e, logicamente, umas horas de trabalho assegurado para uns indeterminados servidores.
Não espanta que, para contrariar a imagem de miserabilismo a que alguns políticos se dedicam, surjam as fartas iluminações, quiçá um convite à RTP para uma reportagem em directo sobre a inauguração da maior árvore de Natal do lado de cá do continente "Ibero-americano". Trata-se evidentemente de um problema de electrões em circulação do positivo para o negativo, aquecendo as almas até ao estoiro final.
De resto, como ao longo do ano vemos as caixas de derivação instaladas, os custos da alimentaçâo devem ser quase virtuais, uma autêntica pechincha que não obrigará a rapar nem gavetas nem tudo o que possa cheirar a dinheiro.
Prof. João Cachado,
Eu acho que o Seara não se atreve a fazer iluminações de Natal. Quanto à Quinta do Relógio também tenho a sensação que foi um teste
às reacções. Como houve muita reacção, a Quinta do Relógio já foi... É como o TGV. Quem não tem dinheiro...
Alice Lopes
Sr.Professor João Cachado, faz muito bem em recordar o negócio da Qt. do Relógio pois o esquecer leva a que prossiga. O Sr.Fernando Seara só quando disser oficialmente que desestiu é que deve deixar de ser criticado.Depois abale abale para o futebol e vá lá distribuir o dinheiro como quizer.
Já temos dores de cabeça que chegam.
Esta gente não tem qualquer ponta de vergonha. Ao contrário do comentário de Alice Lopes, penso que vai haver iluminações como nos anos anteriores e que não há nada a indicar que acabou o negócio da compra da Quinta do Relógio pela Câmara de Sintra.
Eduardo Serpa
As iluminações são feitas pelos Castros à muitos anos e aqui em Sintra as minas são ao pontapé.Se forem ao http://www.facebook.com/home.php?#!/pages/Queremos-o-Fernando-Seara-Na-federacao/116481118405601 ó primeiro apoiante para a Federação é uma...firma de jardins de RAL no concelho de Sintra. Cada um apoioa quem quer mas não inventem adubos para relvas sintéticas.
Colega João Cachado,
Um grande problema é que os autarcas em geral não têm preparação para ocupar os lugares. Dos presidentes de Junta nem é bom falar e quanto aos vereadores e presidentes das Câmaras tanto podem estar aqui como a tratar de sucatas ou de matadouros e lagares de azeite ou nas estruturas do futebol...
Em Portugal é assim. Claro que não sabem fazer pedagogia com os estudantes neste momento de crise, como sugere o colega. Para isso é preciso ter nível e preparação.
Em Mafra e Cascais há outra
gente embora sejam do mesmo partido que o Seara.
É preciso cortar custos e que a ASSembleia Municipal de Sintra faça o seu trabalho de controlo.
Com a amizade da
Conceição Almeida
Cascais está como está porque por lá vive a elite (a do capital) neta área da grande Lisboa. Sabem cuidar bem uns dos outros! Por cá (Sintra) estes "politicos" que nos governam tratam-nos como nos vêm,saloios ou suburbanos pouco esclarecidos, alvos fáceis. Ricardo Luis
A Quinta do Relógio e as iluminações de Natal são dois «negócios» escusados. Mas não creio que nos safemos destes erros do Dr. Seara. Só o tempo há-de
dizer os erros deste senhor. Mais tarde, tarde demais.
Rosário Pires
Estou convencido que há muita gente a aproveitar-se em todo o país da desgaça que estamos a atravessar. Em Sintra é o Seara
a acudir aos estudantes mas ningém sabe quantas são. Em Vila Franca será a mesma coisa ou outra
qualquer...
MB
Deve-se exigir as contas muito bem feitas a mostrar quantos alunos a mais do que antes dos casos de fome é que agora são alimentados e suas famílias. A não ser assim a Câmara pode afirmar uma coisa e o Ministério da Educação outra diferente.
Luz Anselmo
Não há dinheiro para dar de comer às crianças e vai-se gastar na compra da Quinta do Relógio assim como o governo está a pagar juros de 7% aos credores e insiste em fazer o TGV. Andaram todos na mesma escola e coçam todos para dentro...
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