[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 20 de março de 2011

Pela Correnteza,
novamente... [1]

Moro na Estefânea, numa zona em que, como edifícios vizinhos, tenho o Sintra Museu de Arte Moderna-Colecção Bernardo, o Centro Cultural Olga Cadaval, ambos mesmo defronte de minha casa. A Biblioteca Municipal também fica a escassas dezenas de metros, na Correnteza, designação toponímica comum da Alameda dos Combatentes da Grande Guerra. Entre outros assuntos, pretendo chamar a atenção para as instalações onde, em situação soberba, ali funcionam um café, restaurante e esplanada.


Antes, porém, impõe-se tratar do enquadramento. Tão perto de casa, raro é o dia em que não passo por esta grande e estupenda varanda, donde se alcança um dos mais belos panoramas de Sintra. Todavia, com horizonte tão privilegiado, entre a serra e o Atlântico, a Correnteza está longe de ser um miradouro irrepreensível. Pena é que assim suceda já que, à partida, tem sobejas condições que permitiriam atribuir-lhe os maiores encómios.


Se, logo no título, dou a entender que este é um escrito de revisitação, tal se deve ao facto de, neste mesmo blogue,* já ter abordado as questões objecto do texto que hoje inicio. Não é bom sinal que, passados quase quatro anos, nada, absolutamente nada, se tenha alterado que pudesse dignificar esta herança que foi obra da edilidade liderada por Francisco Craveiro Lopes, oficial da Força Aérea que, na sequência da morte do Marechal Carmona, lhe sucedeu na Presidência da República.

Começo pelo singular pavimento, em calçada à portuguesa, dotado de profusos, simples mas extremamente eficazes motivos de negro ondular, conferindo ao lugar uma tal dinâmica que, paradoxalmente, em articulação com outros elementos cenográficos, acaba por promover uma atmosfera deveras repousante. As pérgulas, propondo assentos e parapeitos convidativos à contemplação – com lindas latadas de glicínias, suportadas por espessa e sólida estrutura de madeirame – constituirão, porventura, a imagem de marca do local.


Porém, infeliz e habitualmente descuidado, trata-se de um espaço que, em determinadas circunstâncias, resultado da falta de higiene, por ausência de lavagem, chega a ser perigosamente escorregadio, verdadeiro caso de desleixo, impeditivo do desfrute por crianças que, acompanhadas por familiares, todo o direito teriam ao sossego que cumpre à autarquia assegurar.


Se, de facto, o local é varrido todos os dias, tal operação não basta. Aliás não parece razoável que, dispondo de equipamento à altura, não se proceda adequadamente. Por se tratar de um problema de higiene pública, vão permitir que, a propósito, insira este parêntesis para lembrar como, no caso vertente, bem se aplica a controvérsia acerca da pertinência de manutenção em actividade de empresas municipais, como a HPEM, cuja actuação e actividade, em vez de beneficiar, acabam por, manifestamente, prejudicar os interesses mais evidentes de munícipes e visitantes.


[continua]

*1. A Caminho da Correnteza,2. Na Correnteza, 3. Ainda na Correnteza, 4. Na Casa Mantero (todos datados de 27.09.2007); 5. O IIM da Correnteza (26.02.2009); 6. HP…o quê? (19.10.2010)

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Cachado,
Só em Portugal uma coisa tão bonita pode estar tão degradada. Por acaso o ambiente geral melhorou porque agora aquilo já não é terreno de drogados. Mas
a Câmara tem de intervir
para melhorar a higiene e recuperar
gradeamento, pavimento, etc. A Correnteza merece o melhor cuidado.
Bernardo

Luísa Câmara disse...

Professor,
A zona ajardinada da Correnteza até é insignificante. Parece impossível como não se mantém impecável. À consideração dos serviços da Câmara que não
precisam de inventar nada
para darem aos sintrenses e
forasteiros a alegria simples
de poder estar bem a olhar para coisas bonitas. É só saber gerir
bem o dinheiro dos cidadãos.
Luisa Câmara

Sara Esteves disse...

Bom dia Professor Cachado,
A Correnteza é apenas um dos "buracos" da Estefânia. O estacionamento, o Vale da Raposa que é uma porcaria tapada de vegetação selvagem, a Av. Heliodoro Salgado que é um horror,
a Rua Dr Alfredo da Costa, com tanta casa ainda suja e degradada, etc.
Muito trabalho e ninguém capaz
na Câmara para pôr ordem neste
caos.

Sara Esteves

Anónimo disse...

É o império da falta de asseio. O problema não é dos pombos que andam por lá mas de quem não
cuida dos pombos. Porcos não são
os pombos...

Carla Lemos disse...

Caro Prof. João Cachado,
Ainda bem que está no facebook.A sua ligação a este blogue é que me trouxe aqui. Veja lá que não sabia que se chama Correnteza. Concordo totalmente consigo. Tenho uma filha de 2 anos que não posso deixar ali brincar à vontade. É uma pena num lugar tão especial. Se houver muita gente a protestar talvez a câmara faça qualquer coisa.
Carla Lemos

Rui Dinis disse...

A Correnteza só não é um caso sério de animação urbana porque a Câmara de Sintra não quer. O caso do mercado de antiguidades é apenas uma entre muitas iniciativas
que ali podem funcionar. A música de palanque, feiras várias, etc, mas é fundamental a limpeza e o
arranjo, não o desprezo em que
tudo está.
Rui Dinis

Graça Sampaio disse...

É dos locais mais belos e mais românticos de Sintra. Com uma vista admirável sobre o Palácio e sobre a Vila. Não vivo aí há mais de trinta anos, mas, quando aí vou, nunca falho um saltinho à Correnteza, um dos locais da minha juventude.
E tem razão quanto ao abandono. Aliás como a sua comentadora Sara Esteves.