[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 29 de abril de 2011


Festival de Sintra, 2011
- a bonança, depois da tempestade...


Após alguns anos de programação muito controversa que tive oportunidade de denunciar constante e sistematicamente, posso hoje anunciar as linhas mestras do Festival de Sintra de 2011, quase com dois meses de antecedência em relação ao primeiro evento. E, desde já vos afirmo que tenho as melhores razões para ser inequivocamente encomiástico.

Se bem se lembram, os meus mais veementes reparos referiam-se à desarticulação das iniciativas, com particular destaque para os designados contrapontos que, sem a mínima coerência ou lógica internas, propunham eventos desgarrados completamente avessos à ideia de Festival, enquanto proposta integrada, propícia ao desfrute de um produto global e enriquecedor do público destinatário.

Pois bem, dissiparam-se aquelas pesadas nuvens. O que trago à vossa consideração, talvez em primeira mão - por especial deferência do Dr. Mário João Machado, Vice-Presidente do Conselho de Administração da SintraQuorum e meu prezado amigo de longa data - é um bom e diversificado repositório de eventos, em geral, de qualidade irrepreensível, todos relacionados com duas efemérides do mais alto significado para o universo musical.

No ano em que comemoramos o bicentenário do nascimento de Franz Liszt e os cem anos da morte de Gustav Mahler, eis que o Festival de Sintra, encontrou o núcleo duro a partir do qual tudo se organiza, na devida harmonia, articulação, coerência e lógica. Concertos sinfónicos, Lieder, Música de Câmara, Conferências, Cinema, etc, vão fazer aalegria de todos os interessados, podendo constituir um conjunto de momentos altamente enriquecedores.

Não deixo de ficar espantado perante aquilo que à organização do Festival de Sintra, foi possível contratar numa altura de tanto aperto financeiro. Todavia, repito, não fico surpreendido com a qualidade das propostas que, aliás, nunca esteve em causa, inclusive nestes anos mais recentes de despautério programático.

Por hoje, deixo-vos com este bouquet de promessas. Para um dos próximos dias fica, então, a minha promessa de desfolhar o ramalhete, entrando nalgum pormenor mais ou menos aliciante, de um programa que tão caro me é pela referência a compositores a quem tanto devo, que me acompanham desde miúdo.

Vão por mim e, em tempo de crise, comecem já a pensar nos bilhetes embora se saiba que, em Sintra, o investimento pessoal, mesmo para uma assinatura, é coisa mesmo muito acessível que não carece de crédito especial na banca... Agora, atentem nos detalhes e, comigo, concluam quanto à razão e ao júbilo que me assistem.




FESTIVAL de SINTRA 2011


Sexta – 24 de Junho
21:30 Horas

Centro Cultural Olga de Cadaval

Conferência de abertura

Liszt e Mahler: os construtores da “música do futuro”

Rui Vieira Nery, musicólogo


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Sábado – 25 de Junho – Quarta – 29 de Junho

Palácio Nacional de Queluz


SÉRIE FRANZ LISZT

Leslie Howard, piano

Fernando Eldoro, maestro conductor *
Coro Gulbenkian *


* Artistas participantes no último recital da série featuring in the last recital of the series


Sábado – 25 de Junho
18:00/19:00 Horas

Recital 1 – Quatro Obras-Primas de Liszt

Grande Solo de Concerto, S.176
Variações sobre o motivo de J. S. Bach «Weinen, Klagen, Sorgen, Zagen», S.180
Sarabanda e Chaconne sobre temas da ópera «Almira» de Händel, S.181
Scherzo e Marcha, S.177


21:30/23:00 Horas

Recital 2 – Liszt, o Franciscano Poeta Liszt

-Harmonias poéticas e religiosas, S.173, nºs 1 a 10
-Duas Lendas, S.175
-Deux légendes (Two Legends), S.175
-1. São Francisco de Assis: A Pregação aos Pássaros
-2. São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas


Domingo – 26 de Junho
18:00/19:00 Horas


Recital 3 – Liszt, o Viajante Liszt

Anos de Peregrinação – Terceiro Ano: Itália, S.163
Romanceiro Espanhol, S.695c


21:30/23:00 Horas

Recital 4 – Liszt, o Nobre Virtuoso

-Quatre Valses oubliées, S.215
-
Doze Estudos de Execução Transcendental, S.139 – Partes I e II

Segunda – 27 de Junho
21:30/23:00 Horas

Recital 5 – Liszt em Casa e na Ópera

-Weihnachtsbaum (Árvore de Natal), S.186
-Peça de Fantasia sobre Temas da ópera «Rienzi» de Wagner, S.439
-«Aida», dança sacra e dueto final: Transcrição para piano S.436
-Les adieux: «Rêverie» sobre um motivo da ópera «Romeu e Julieta» de Charles -Gounod, S.409
-Fantasia sobre Temas das óperas «Le nozze di Figaro» e «Don Giovanni» de Mozart, S.697


Terça 28 – de Junho
21:30/23:00 Horas

Recital 6 – Liszt, Bardo e Profeta

-Balada nº 1, em Ré bemol Maior, S.170
-Balada nº 2, em Si menor, S.171
-Regis prodeunt: Hino da Procissão da Cruz, S.185
-En rêve: Nocturno, S.207
-Insónia: Pergunta e Resposta (Nocturno sobre um poema de Toni Raab), S.203
-Nuvens Cinzentas, S.199
-Bagatela Sem Tonalidade, S.216a
-Rapsódias Húngaras XVI-XIX, S.244: nºs 16 a 19
-«Adelaide» de Beethoven: Transcrição para Piano (3ª versão), S.466iii
- Seis Melodias Favoritas de «La belle meunière» de Franz Schubert, S.565
- Canções Polacas de Chopin: Transcrição para Piano, S.480
- Sonhos de Amor: Três Nocturnos, S.541


Quarta – 29 de Junho
21:30/23:00 Horas


Recital 7 – Liszt, Deus e Mefistófeles Liszt, God and Mephistopheles

Com a participação de:

Coro Gulbenkian
Fernando Eldoro, maestro

-Fantasia e Fuga sobre o Tema B-A-C-H, S.529ii
-Dois Episódios do «Fausto» de Lenau, S.513a & 514
-Mefisto-Valsa nº 2, S.515
Sonata para Piano em Si menor, S.178
-«Via Crucis», para coro misto e piano, S.53

Quinta – 30 Junho
21:30 Horas


Palácio Nacional de Sintra

Quarteto Ehrlenbusch Michael Barenboim, 1º violino 1st violin
Petra Schwieger, 2º violino Madeleine Carruzo, viola

Timothy Park, violoncelo
Matan Porat, piano

Anton Webern (1883-1954)
Seis Bagatelas


Johannes Brahms (1833-1897)
Quarteto para Cordas nº 2 em Lá menor, op. 51 nº 2


Gustav Mahler (1860-1911)
Quarteto com Piano

-1904)
Quinteto com Piano em Lá Maior, op. 81
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Sexta - 01 Julho
21:30 Horas


Palácio Nacional de Sintra

Ana Maria Pinto, soprano
Nuno Vieira de Almeida, piano

José Viana da Mota (1868-1948)

-Guter Rat (Bom conselho)
-Umflort, gehült in Trauern (Enevoado, envolto em tristeza)
-Ein Briefelein (Uma cartinha)
-Erfüllung (Realização)
-Canção perdida
-Amores, amores
-Lavadeira e caçador

Franz Liszt (1811-1886)
-Die Lorelei, S.273
-Und wir dachten der Toten (E pensávamos nos mortos), S.338
-Ihr Glocken von Marling (Os Sinos de Marling), S.328
-Du bist wie eine Blume (És como uma flor), S.287
-Vergiftet sind meine Lieder (São veneno as minhas canções), S.289
-Die drei Zigeuner (Os Três Ciganos), S.320
-Oh quand je dors (Oh quando durmo), S.282
-Einst (Outrora), S.332
-Ich möchte hingehen (Desejaria ir), S.296
-Der König in Thule (O Rei em Tule), S.278


Sábado – 02 Julho
21:30 Horas

Centro Cultural Olga de Cadaval – Auditório Jorge Sampaio


Orquestra Sinfónica Portuguesa
Julia Jones, maestrina conductor
Lilian Akopova, piano *


* Vencedora do 1º Premio do Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta 2010


Gustav Mahler (1860-1911)
Sinfonia nº 1 em Ré Maior, «Titã»

Franz Liszt (1811-1886)
Totentanz (Dança dos Mortos): Paráfrase sobre o «Dies Irae», S. 126
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Domingo - 03 Julho
17:00 horas


Quinta da Regaleira

Trio Bamberg
Robert Benz, piano
Jevgeni Schuk, violino
Alexander Hülshoff violoncelo

Franz Liszt (1811-1886) / Camille Saint-Saëns (1835-1921)
«Orfeu», poema sinfónico, S.98: transcrição para violino, violoncelo e piano

Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Trio nº 1 em Fá Maior, para violino, violoncelo e piano, op. 18

Franz Schubert (1797-1828)
Trio em Mi bemol Maior, para violino, violoncelo e piano, op. 100, D. 929


Quinta 07 Julho
21:30 Horas


Palácio Nacional de Sintra

Manuel Araújo, piano *

* Prémio Vianna da Motta «Melhor Pianista Português» em 2010

César Franck (1822-1890) / Aquilles Delle Vigne (n. 1946)
Prelúdio, Fuga e Variação, op. 18

Franz Schubert (1797-1828)
Fantasia em Dó Maior, op. 15 (D. 760) «Wanderer»

Richard Wagner (1813-1983)
Sonata em Lá bemol Maior, WWV 85 (1853)

Richard Wagner (1813-1883) / Franz Liszt (1811-1886)
«A Morte de Amor» da ópera «Tristão e Isolde»: transcrição para piano

Franz Liszt (1811-1886)
Après une lecture du Dante (Após uma leitura de Dante), Fantasia quasi Sonata, de «Années de Pèlérinage», Ano II: Itália
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Sábado 09 Julho
17:00 Horas


Quinta da Piedade


Octeto de Leipzig*

Markus Petsch, tenor
Stefan Genz, barítono

* E instrumentistas convidados

Gustav Mahler (1860-1911)
A Canção da Terra
Das Lied von der Erde


Domingo 10 Julho
21:30 Horas


Palácio Nacional de Queluz

Sequeira Costa, piano

José Vianna da Motta (1868-1948)

-Balada, op.16
-Cenas Portuguesas op. 9
-Cenas Portuguesas, op. 18, nº 2
-Malhão: Canção de Aveiro
-Cenas Portuguesas, op. 15 nº 2
-Adeus minha Terra

Franz Liszt (1811-1886)

-Bênção de Deus na Solidão, de «Harmonias Poéticas e Religiosas», S.173, nº 3
Au bord d'une source (À Beira de uma Fonte), de «Années de Pèlérinage», Ano I: Suíça
-Sposalizio (Casamento da Virgem Maria), de «Années de Pèlérinage», Ano II: -Itália
-São Francisco de Paula Caminhando sobre as Ondas, de «Duas Lendas», S.175





CONTRAPONTOS


(PROGRAMA PROVISÓRIO)

30 de Junho 19h00
Palácio Nacional de Sintra

Inês Ferro – Conferência

3 Julho 19h00

Centro Cultural Olga Cadaval

Liszt - Sonho de Amor (cinema)
Com apresentação de Carlos de Pontes Leça

4 Julho 21h00

Centro Cultural Olga Cadaval

Morte em Veneza (cinema)
Com apresentação de Carlos de Pontes Leça

4 Julho 21h30

Igreja de S. Martinho

Música Sacra Portuguesa – O Romantismo

Ensemble Vocal do Sintra Estúdio de Ópera
Direcção musical: Miguel Anastácio

Programa:

FRANCISCO DE SÁ NORONHA (1820-1881)
-Missa "para a Festa do Coração de Maria"
-Missa a Quatro Vozes

Solistas a designar

5 Julho 21h30

Igreja da Ulgueira

Perspectivas
Bruno Ribeiro (viola)
Joana Barata Lígia Madeira (piano)

1.ª parte
JOHANN KASPAR MERTZ
Elegia

FRANZ LIZST (arr. Bruno Ribeiro)
Liebesträume nº 2

GIULIO REGONDI
Introdução e Capricho

Bruno Ribeiro Viola dedilhada a solo

2.ª parte
L.V. BEETHOVEN (arr. C. Czerny)
Sinfonia “Heróica” em Mib M, op.55

FRANZ LISZT (arr. compositor)
Rapsódia Húngara nº16

Joana Barata e Lígia Madeira Piano a 4 mãos


6 Julho 21h30
Adega de Colares

Nova Criação – Companhia de Dança Contemporânea de Sintra

8 & 9 Julho 21h30

Palácio Nacional de Sintra

Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garret – Utopia Teatro

9 Julho 10h00 & 11h30

Quinta da Piedade

Concertos para Bebés


MAHLER E LISZT: DOIS AMIGOS COM OS BEBÉS

Um projecto de Paulo Lameiro
Convidada: Cristiana Francisco
Instrumento: Flauta Transversal

10 Julho 19h00

Palácio Nacional de Queluz

Luísa Cymbron Manuel Carlos de Brito – Conferência






6 comentários:

Carlos Sousa disse...

Caro Dr. João Cachado,
Julgo que entendi sempre a sua opinião acerca do que aconteceu à programação do Festival de Sintra. Como não sou entendido, se o Dr. Cachado não pusesse tanto empenho nas suas críticas dos últimos anos ao Festival de Sintra, confesso que o assunto me passava ao lado. O que me parece é que faltava este programa que hoje publicou no blogue para me esclarecer definitivamente.
Assim compreendi tudo: a lógica de um tema que se estende aos programas de cada dia. Ficamos com uma ideia muito enriquecida acerca de cada compositor. Mas isto é um convite a ir a todas... Até por isso já deviam ter seguido o seu conselho há mais tempo porque este modelo deve vender mais bilhetes.
Fico muito satisfeito por o terem ouvido e adoptado a sua proposta. Parabéns à organização do Festival de Sintra e parabéns ao Dr. João Cachado.

Carlos Sousa

Suzana Mendes disse...

Parece que, finalmente, podemos estar descansados quanto à proposta do Festival de Sintra deste ano. Como «estrela» lá está o pianista L. Howard mas até nem são precisas estrelas para que
as coisas corram bem. Acho que o cinema e as conferências são
uma boa aposta. Devia haver um género de banca de livros e de discos só sobre Liszt e Mahler.
Muito bem, parabéns à organização.
S. Mendes

Rute Miguel disse...

Caro Prof.
Desta vez há um tema que está tão respeitado que parece um curso sobre os dois compositores. Mas gostei muito da novidade.
Rute Miguel

Pedro Branco disse...

Olá João Cachado,

Não há dúvida que a programação é boa. Mas a organização saberá fazer a festa? Não esqueça que
a ideia de Festival tem a ver
com um ambiente que é preciso
favorecer. Sobre isso tenho
dúvidas porque raramente
senti isso em Sintra. Parece tudo
muito sombrio.
Abraço, Pedro Branco

I. Ferro disse...

Quem não acompanhou as suas crticas dos anos passados não deve perceber como um concerto para bebés incluído nos contrapontos também está relacionado com o tema do festival. Tenho a certeza de que
acolheram os comentários e conselhos do Dr. Cachado.
Era tudo uma questão de bom senso
que veio a vencer. Parabéns
à organização e a si.
I. Ferro

JAC disse...

Sem dúvida que lhe deram ouvidos! Quem o acompanha desde os seus artigos do Jornal de Sintra sabe reconhecer a importância da sua participação cívica. E os seus resultados estão a vista, nomeadamente, nesta matéria e na da Quinta do Relógio. Obrigada pela sua persistência. Com a falta de bom jornalismo compensa de certo modo encontrar no blogue uma opinião isenta, informada, honesta e coerente. Obrigada mais uma vez.