[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Obviamente, sejam eleitos...

Francisco Assis esteve de tal modo empenhado na defesa das mais contundentes asneiras do Governo cessante, que chegou ao ponto de protagonizar tristíssimas figuras, difíceis de encaixar num homem inteligente como ele é. A perspicácia que não lhe falta deveria ter-lhe ditado, neste momento, uma estratégica retirada que permitisse, logo que possível e conveniente, um regresso auspicioso ao desempenho de missões para as quais poderá estar vocacionado.

Assim não considerou Francisco Assis. Decidiu expor-se à conquista do lugar de Secretário-Geral do partido, objectivo que, muito dificilmente, alcançará. No entanto, tenha-se em consideração que, durante anos a fio, ninguém melhor do que ele poderia ter desempenhado, tão dedicada e afanosamente, aquele papel de chefe do grupo parlamentar. Contudo, em vez de um capital que, agora, poderia render dividendos, funções tão recentes, acabam por suscitar o efeito contrário.

Naquele lugar de absoluto destaque, na primeira fila do Parlamento, Assis foi a vítima sacrificial de um Sócrates sacerdote, que dele fez uso e abuso, submetendo-o a provas de fogo onde, tão flagrantemente, o queimou para além do aceitável. Pois bem, agora, em vez de lhe reconhecerem serviço tão abnegado, os camaradas, que tanto o incensaram, afastam-se, receando chamuscarem nas brasas que transporta do inferno que Sócrates atiçou. Até para que a fénix nasça das cinzas, preciso é que o tempo passe. Assis esqueceu-se e vai pagar caro o erro.

Provindo de cinzentas paragens, sabiamente e com florentinas pinças gerindo seus tempo e espaço, eis que, impoluto, surge António José que até Seguro tem o nome propício aos mais infantis e óbvios trocadilhos. O saldo de Sócrates, no partido e no país, é tão negativo que difícil não é ser substituído por quem não conheço um rasgo, uma centelha, uma ideia. Nem sequer uma peregrina ideia, por onde pegar. É a aposta no óbvio. Tudo neste sujeito é óbvio, fastidiosa, tendencial e intencionalmente óbvio.

É, obviamente, o futuro líder sem mácula, o acabado produto de uma designada terceira via – que, para todos os efeitos, nem sequer cabe na matriz definidora de que, in illo tempore, Blair se reclamava – prestes a percorrer uma via sem escolhos, sob os aplausos dos mesmíssimos militantes que, ainda noutro dia, ao som de trombetas triunfantes, elegiam José Sócrates com noventa e tal por cento dos votos, num evento que teve muito mais de comício do que de congresso.

Nunca pensei que um óbvio sentimento de orfandade pudesse afectar tantos socialistas – ou, melhor, tantos militantes do Partido Socialista, o que não é bem a mesma coisa... – ao ponto de, tão manifestamente, se envolverem numa aventura em que não há ponta de carisma, onde nem há palavras nem obras. Que mistério é este, que deserto, que miragem? Será que, no Largo do Rato, uma série de boas cabeças aceitam encolherem-se, autorizando o contento da maioria com esta indigência?

Não me parece que, tão facilmente, assim possamos concluir. Algo de muito mais profundo se passa que, aliás, é comum a todas as latitudes europeias, à esquerda, ao centro e à direita do espectro político-partidário. A mediocridade mais desalentada tomou de assalto partidos, governos nacionais e supranacionais. É o império dos Sarkozy, Berlusconi, Merkl e Barroso e está tudo dito. Está e estará, ainda por mais uns anos.

Entretanto, numa estratégica e sábia reserva, as boas cabeças esperam pelo momento de aparecerem. Compreensivelmente, trata-se de uma elite que recusa partilhar o poder com os folclóricos pacóvios que vão proliferando como cogumelos. Ora bem, é neste túnel de desmedida e negra ignorância que, por enquanto, vamos esperando a luz que, fatalmente, surgirá. Por enquanto, ainda é o tempo dos Seguro e Passos Coelho. Obviamente, pois que sejam eleitos! Um dia destes, obviamente, serão demitidos…



3 comentários:

Anónimo disse...

Uma amigo do PS cá de Sintra já me tinha falado acerca deste seu texto que está publicado no facebook. Como não estou no facebook só agora o vi. Devo dizer que votarei em Francisco Assis. Como diz o Cachado não se escondeu como o Seguro para aparecer agora estrategicamente.É um homem corajoso e "com passado". Veremos se o PS fará a escolha mais prudente.

Carlos Sousa disse...

Caro Cachado,
Se o Seguro tiver juízo, facilmente dentro de 8 anos pode ser o futuro Primeiro Ministro de Portugal porque agora vamos ter que aturar o PPD durante 2 mandatos...
Carlos Sousa

Anónimo disse...

Os partidos estão todos sem capacidade de apresentarem lideres com a qualidade que havia há trinta anos. Agora o que há é oportunistas que fazem carreira política porque sairam das jotas e não sabem fazer mais nada na vida.