[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 20 de novembro de 2011



Poder local,
concelho adiado


Concelho adiado era o título de uma rubrica que, durante anos, mantive no saudoso 'Jornal de Sintra', justificado pela minha convicção de que este será sempre um município por resolver enquanto se mantiver tão ilógica concentração de freguesias, tornando radical e perfeitamente ingovernável um território que, teimosamente, continua a apregoar Sintra como sede.

Durante os últimos dez anos, não terá havido outro munícipe que mais se tivesse pronunciado, por escrito, acerca deste tema. Basta consultar o arquivo dos jornais regionais para confirmar a publicação dos inúmeros artigos que subscrevi acerca da matéria. Naturalmente, também neste blogue há textos abordando o problema.

Sempre advoguei que o concelho se deveria cindir, pelo menos, em duas unidades – preferencialmente, em três – portanto, dando origem a dois, três novos concelhos, agregando freguesias que, pelas afinidades múltiplas de algumas das suas características, suscitassem a constituição de tais novos conjuntos, resultantes dos agrupamentos sugeridos. Como, há muitos anos, considero que o concelho é ingovernável – e também justifiquei esta opinião através de argumentos razoáveis – escrevi imenso acerca da conveniência de agregação das freguesias, de acordo com o figurino que mais operacional sempre se me evidenciou.

Em relação à reunião que ontem se realizou no Palácio Valenças, promovida pela Alagamares, resolvi não comparecer, não porque subestime os organizadores ou a iniciativa mas, tão somente, porque, à partida, o jogo está viciado. Repare-se que, numa altura em que se devia aproveitar para introduzir as mudanças indispensáveis à operacionalidade do Poder Local, tudo se comprometeu com a determinação de, liminarmente, a todo o transe, suprimir freguesias e concelhos.

Quem pode afirmar que tal é a única solução? Eu não tenho a menor dúvida de que, em Sintra, por exemplo, a solução não passa por suprimir freguesias e, ao contrário do que é advogado pelo Governo – no quadro do designado Memorando da Troika – este mastodôntico concelho, que não passa de manta de retalhos desarticulados, até deveria dar origem a mais um ou dois...

Decidi não aparecer porque esta minha perspectiva e consequente proposta não tem a mínima hipótese de vingar, numa terra em que os mais lúcidos – portanto, todos quantos se reivindicam de mais luz – já se submeteram a imposições exteriores, pouco ou nada consentâneas com a realidade que o terreno aponta, reduzindo-se à condição de cegos para que um qualquer reizito possa vir a reinar…

Tenho idade e experiência bastantes para já poder ter chegado à conclusão de que as lutas só devem ser encaradas desde que haja o mínimo de viabilidade de pôr em comum uma alternativa que, seriamente, possa ser equacionada. Caso contrário, quem tenha opinião radicalmente oposta àquela que a onda do momento suscita e sugere, como é o meu caso, o melhor é reservar-se, não arriscando o protagonismo de uma luta quixotesca, nada mais do que desgastante para o próprio.

A propósito da decisão que tomei, lembro o Dr. Amílcar Ramada Curto, bom amigo do meu pai, advogado, político, jornalista e dramaturgo que, como todos sabem, foi um grande democrata e oposicionista ao regime instaurado pelo Estado Novo. Uma das frases que dele herdei e que, cada vez mais, vou degustando, é aquela em que afirmava ser preferível, em muitas circunstâncias, a ausência de físico pela presença de espírito…

Raras vezes, como ontem, me senti tão bem representado pelas palavras que dão substância a tal opinião. Enfim, fica-me o consolo de saber que, não tendo estado ontem presente no Palácio Valenças , não deixei – como acima referi – de registar a minha opinião, em tempo oportuno, copiosamente, em dezenas e dezenas de páginas de jornais regionais e no blogue, acerca da matéria em apreço. A minha participação, portanto, já estava civicamente assegurada. Quem estiver interessado, não terá a mínima dificuldade de consulta.

Nestes termos, creio que compreenderão as razões da minha ausência. De qualquer modo, não posso deixar de confessar a pena que sinto porquanto, num período que foi anunciado como de reforma do Poder Local, tudo está inquinado à partida. Pena, na realidade, por se estar a perder mais uma oportunidade. E, talvez, ainda pior, por mais um manifesto de falta de capacidade.



2 comentários:

Salvador Nunes disse...

Caro Prof João Cachado:
Parece-me que a legislação que aí vem é cega. Não é só o caso de Sintra. Há muitos concelhos que deviam desaparecer que são mais pequenos do que muitas freguesias de Sintra. Mas também há outros que deviam nascer. O caso do Cacém é evidente. Tem razão o Prof João Cachado pois não vale a pena remar contra a maré da ignorância. Olhe vá escrevendo os seus textos sobre assuntos musicais onde aprendo sempre coisas novas. Abraço, Salvador Nunes

Anónimo disse...

Só Mem-Martins é igual a dois ou três concelhos, quanto mais o Cacém. Estes senhores não sabem o que andam a fazer. Querem juntar cinco freguesias mas sem conferir categoria de concelho? Estão todos doidos...