[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 21 de maio de 2012

 
 
 
Idílio de Siegfried,
um idílio em Tribschen


(texto inicialmente publicado no facebook no passado dia 4 do corrente mês de Maio)

Ontem, na Gulbenkian, pela orquestra da casa e com Scott MacAllister, Wolfgang Koch e Peter Galliard como vozes solistas, tivemos uma récita concertante do I Acto da ópera “Siegfried” de Richard...
Wagner, segunda jornada do ‘Ring’, sob a direcção de Kirill Petrenko.

Para já, fiquei muito bem impressionado, tendo confirmado a excelente impressão que tenho do trabalho de Petrenko que, em 2013, em Bayreuth, por ocasião do segundo centenário do nascimento de Wagner, dirigirá uma nova produção da Tetralogia.

Na perspectiva do concerto da próxima semana, em que o mesmo maestro nos dará mais dois excertos da mesma ópera, ou seja, o ‘Idílio de Siegfried’ e Cena final do III Acto, decidi voltar a escrever-vos sobre a génese do ‘Idílio’.

A primeira apresentação da peça aconteceu na escadaria interior da Villa Tribschen, na manhã do dia de Natal de 1870, por ocasião do aniversário de Cosima.

Acordou ela ao som da melodia de abertura e escutou aqueles vinte minutos de extrema beleza enquanto Wagner, o marido, dirigia um pequeno grupo de treze músicos [dois violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboe, dois clarinetes, duas trompas, trompete e fagote] , que tinha recrutado em Zürich. Que melhor presente poderia imaginar?

O título original da peça era “Tribschen-Idyl, com a canção dos passarinhos de Fidi e Nascer do Sol cor de laranja”. Está claro que, só pelo título, se percebe tratar-se de uma obra muito pessoal para Wagner.

Descodifiquemos. Tribschen é o nome da villa em Lucerna, na Suiça, onde Wagner vivia exilado com a família. Fidi era o petit nom de Siegfried, filho de Richard Wagner e de Cosima, sua mulher.

“Tribschen-Idyl” é um título certamente suscitado pelo fascínio do lugar. Quem lá vai, percebe logo… Aquilo é lindo de morrer. Vem a propósito lembrar que Wagner escreveu ao Rei Luís II da Baviera “(…) para qualquer lado que me volte, fico no meio de um mundo mágico: não conheço outro lugar mais belo, nada mais acolhedor”

Oito anos mais tarde, com o título “Sigfried Idyl”, Wagner publicaria esta obra depois de ter acrescentado uma série de instrumentos à partitura original. Como é do conhecimento geral, algumas das melodias foram usadas pelo compositor na composição da ópera "Siegfried".

Como nada substitui um testemunho na primeira pessoa, numa tradução para Inglês, eis a conhecidíssima página do diário de Cosima Wagner em que dá conta do episódio:

"(...) Sunday, December 25, 1870 About this day, my children, I can tell you nothing—nothing about my feelings, nothing about my mood, nothing, nothing, nothing. I shall just tell you, dryly and plainly, what happened. When I woke up I heard a sound, it grew even louder, I could no longer imagine myself in a dream, music was sounding, and what music! After it had died away, R. came in to me with the five children and put into my hands the score of his "Symphonic Birthday Greeting." I was in tears, but so, too, was the whole household; R. had set up his orchestra on the stairs and thus consecrated our Tribschen forever! The Tribschen Idyll—thus the work is called. — At midday Dr. Sulzer arrived, surely the most important of R.'s friends! After breakfast the orchestra again assembled, and now once again the Idyll was heard in the lower apartment, moving us all profoundly (Countess B. was also there, on my invitation); after it the Lohengrin wedding procession, Beethoven's Septet, and, to end with, once more the work of which I shall never hear enough! — Now at last I understood all R.'s working in secret, also dear Richter's trumpet (he blazed out the Siegfried theme splendidly and had learned the trumpet especially to do it), which had won him many admonishments from me. "Now let me die," I exclaimed to R. "It would be easier to die for me than to live for me," he replied. — In the evening R. reads his Meistersinger to Dr. Sulzer, who did not know it; and I take as much delight in it as if it were something completely new. This makes R. say, "I wanted to read Sulzer Die Ms, and it turned into a dialogue between us two." (C. Wagner 312)"

Aqui tendes uma belíssima leitura de Sir Georg Solti dirigindo a Filarmónica de Viena. Boa audição!


 http://youtu.be/oFtpLhfKJ
 


Sem comentários: