São Tiago,
uma carta contundente
uma carta contundente
[Texto publicado no facebook em 30 de Setembro]
Entre outras fontes essenciais, o meu catolicismo cristão radica em textos absolutamente estruturantes, não só da Fé que professo, mas também da intervenção cívica que reivindico e da cidadania que, devo confessar, gostaria de partilhar, com muito mais evidência pública e notória, com os cristãos católicos da minha comunidade. Provavelmente, outros fossem os pastores e outra, muito diferente, seria a prática quotidiana de tantos cidadãos, afinal, ávidos da palavra que é preciso animar, isto é, fazendo brilhar o ânimo que contém.
Vem isto a propósito da epístola da Missa de hoje, extraída do Livro de Tiago, Cap. 5 [1-6]. Num momento tão especialmente difícil da vida comunitária, em que o Governo do Estado se escusa e recusa ir buscar aos ricos e poderosos a quota parte que lhes compete para o esforço comum, eis que São Tiago profere algumas das palavras mais certeiras contra a atitude dos acima referidos, que se conduzem através da olímpica ignorância dos direitos dos mais desfavorecidos.
São palavras que qualquer revolucionário, a começar pelo próprio Jesus de Nazaré, subscreveu e continuará a assinar em todos os tempos e lugares onde for justo e oportuno. Porém, ontem, na Missa vespertina da nossa comunidade, o celebrante passou por este texto como cão por vinha vindimada. Com uma oportunidade destas para alertar consciências em patológico letargo, será que Sua Reverência assim terá decidido porque Arménio Carlos, em pleno Terreiro do Paço, já lhe teria feito o favor?
Bem, o melhor é acederem ao texto que passo a transcrever. Não tenho a menor dúvida de que, enquanto inevitáveis herdeiros da cultura judaico cristã que é a nossa, incluindo agnósticos e ateus, não deixarão de concluír como, com estas palavras, São Tiago nos fornece um tão grande motivo de orgulho.
“1.Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós.
2.As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça.
3.O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. 4.Fraudamente, privastes do salário trabalhadores que ceifaram os vossos campos. O seu salário clama e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhordo Universo.
5.Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança.
6.Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.(…)”
Foi por lembrarem verdades como esta e outras dos Evangelhos, que, por exemplo, nos anos 50 e 60, os Padres Adriano Botelho e José da Felicidade foram perseguidos pelo regime e pela própria Igreja. Conheci-os pessoalmente, devo-lhes, desde criança e jovem, uma perspectiva do entendimento da Vida que tento honrar. Mas, meu Deus, por vezes, tanto retrocesso!...
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