[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 15 de dezembro de 2012

 
 
Mozart,
Sinfonia, No. 36
 

Entre 31 de Outubro e 3 de Novembro de 1783, Mozart e sua mulher Constanze, dirigindo-se a Viena provenientes de Salzburg, ficaram hospedados em Linz no palácio do Conde Thun, um grande amigo e admirador do compositor. Desafiado pelo anfitrião a dirigir um concerto no dia 4, Mozart compõe, em tão pouco tempo, esta peça para a ocasião em que, naturalmente foi estreada sob a sua direcção.

Vale a pena determo-nos um pouco na análise de cada andamento. A abrir, com um ‘Adagio. Allegro spiritoso’, Mozart escreve, pela primeira vez, uma introdução lenta numa sinfonia. Alfred Einstein, um conhecidíssimo estudioso da obra mozartiana, referia ser heróica no início e que, depois de um clima claro-escuro, nos faz passar da mais doce nostalgia à mais profunda angústia.

É verdade e, não deixemos jamais de ter em consideração, tão verdade que, de facto, esta é uma das fundamentais características de Mozart, ou seja, uma permanente polaridade que, não raro, como acontece no desenvolvimento do longo tema do ‘Allegro’, nos transporta através de enorme diversidade de climas espirituais.

O ‘Andante’, em Fá Maior, é um verdadeiro assombro no qual, da repetição do tema de siciliana – bastante longo, terno e nostálgico – se eleva do registo grave uma escala inusitada, quase um mistério, ‘piano’ e ‘staccato’. O terceiro andamento, ‘Menuetto’, é visivelmente dançante, marcado, no trio, por um diálogo estupendo entre o oboé e o fagote.

Finalmente, o ‘Presto’, vibra de alegria, de entusiasmo e de subtileza. Hão-de reparar que o terceiro tema será retomado por Mozart no segundo andamento do seu “Concerto para piano no. 27, em Si bemol Maior”, KV 595. Não é coisa rara, não só em Mozart mas também noutros compositores, revelando uma sábia gestão de ‘conteúdos’…

Não há quem não reconheça nesta sinfonia ainda a influência de Haydn mas o espírito é declaradamente mozartiano e, em geral, no território da sinfonia, a escrita contrapontística de Mozart revela requintes de originalidade sem precedentes.

Deixo-vos com uma interpretação absolutamente recomendável e de referência máxima, pela Columbia Symphony Orchestra, sob a direcção do mítico Bruno Walter.

Boa audição!
 

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