Nós, reféns
Como sabem, sou Vice-Presidente de um dos Sindicatos e membro do Secretariado Nacional da Federação Nacional da Educação, [FNE/UGT], organização da qual já fui Presidente durante alguns anos. Sou dirigente sindical, represento professores e pessoal de apoio educativo, ou seja, técnicos superiores, assistentes técnicos e assistentes operacionais, portanto, várias dezenas de milhar de Trabalhadores da Educação que, neste momento, estão em negociação com o Governo e, se as coisas não correrem como seria de esperar, prestes a uma ruptura indesejável.
No entanto, gostaria que entendessem estas linhas como subscritas não pelo dirigente sindical, que também sou, mas, isso sim, por um cidadão indignado com declarações de membros do Governo e do Presidente da República relativas à hipótese de as referidas negociações resultarem em ruptura e numa greve que coincidirá com o período de exames nacionais e avaliações outras.
Paulo Portas e Cavaco Silva, em especial, têm feito uma pressão perfeitamente inusitada, escandalosa, sobre a opinião pública, considerando que os estudantes vão ser tomados como reféns nesta questão. A propósito, muito gostaria eu de saber que epítetos atribuíram tais senhores, por exemplo, aos utentes da Transtejo, da CP, dos Metro de Lisboa e Porto, da Carris e da STCP, etc, vítimas indefesas dos maquinistas que declararam e concretizaram as inúmeras greves que todos temos bem presentes… Afinal, na mesma condição, os mesmos portugueses, tão cidadãos como os estudantes…
Então, como é? Num país em que a iliteracia é enorme e galopante na maioria das famílias, se um governante e a mais destacada figura da República fazem tais afirmações, o que se impõe é aproveitar esta como a melhor oportunidade para lançar uma campanha de esclarecimento junto dos estudantes, seus pais e encarregados de educação, acerca das razões que assistem, não só aos professores, em particular, mas também a todos os funcionários públicos, alvo de um ataque que envergonha as instituições nacionais.
Se bem elaborada e conduzida, uma tal campanha até poderia contribuir para voltar o feitiço contra o feiticeiro… A bem dizer, de facto, reféns somos todos nós, reféns estamos de governantes iníquos e de um PR conivente. Estamos, outrossim, prisioneiros de compromissos que ultrapassam a nossa capacidade de resposta, de algum modo, somos escravos de uma palavra que, democrática mas perversamente, nos usurparam quando assinaram o Memorandum com a Troika.
Não se espantarão, portanto, pela proposta da peça musical que já estão mesmo a prever. Atenção, que se trata de uma afirmação política que usa a obra para o efeito, afinal, como o próprio compositor havia feito originalmente...
http://youtu.be/QB4w-QJVu84
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