[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 13 de julho de 2013


7 de Julho,
Dia Mahler [III]
 
[Facebook, 7 de Julho, 2013]

Ainda tão quente esta tarde de aniversário Mahler! No meu caso, continuar a celebrar a data implica cruzá-la com um sete de Julho mais familiar pois a Ana Maria, uma das minhas irmãs, também faz hoje anos. Naturalmente, este compositor é-lhe particularmente querido. E, ao escutar este “Quarteto com Piano em Lá menor”, peça que nela tem a especial destinatária, de certeza que também recordará o nosso pai, a quem tanto devemos, por nos ter inculcado este... tão entranhado gosto pela grande música desde muito, muito garotos.

O caso das minhas primeiras abordagens a Gustav Mahler, pela mão do pai, aconteceu através de discos que ele importava, directamente dos Estados Unidos, para si próprio e para alguns amigos, músicos que com ele tinham feito o Conservatório, como o João de Freitas Branco, o Luís Villas Boas, o Joly e ainda para outros, caso do João Sassetti, cujo negócio, na Rua do Carmo, também passava pela venda de música gravada, o Pignatelli, o Duarte Borges Coutinho, etc.

Iria eu nos meus doze anos – numa altura em que, no nosso país, o compositor era conhecido apenas em meios muito restritos – quando tive a sorte incrível de um pai informado e com uma invejável cultura musical que, depois de outras bem mais precoces, me abriu a porta a este Titã. Como eu recordo, a sua introdução à Sinfonia No. 1 do Mahler, precisamente denominada ‘Titan’, em especial, àquele terceiro andamento ‘Feierlich und gemmessen, ohne zu schleppen’ [solene e moderado, sem arrastar] em que o tema do ‘Frère Jacques’ que, nos países germânicos, é conhecido por ‘Brüder Martin’, é adaptado a uma esplêndida marcha fúnebre… Meu Deus, há mais de meio século!

A grande herança do nosso pai foi a transmissão desse interesse pela Arte, não só pela Música, atitude que já o avô cultivava, por exemplo, nos célebres serões da sua casa em Belém. E, ainda mais relevante, a vontade insaciável de conhecer o que era possível saber, sempre subordinado à máxima ‘o saber não ocupa lugar’.

Neste dia de recordações, que me chegam a propósito do aniversário da mana, lembro que o pai tinha o topete de dizer que eu lia pouco. Eu lia enormidades mas, na verdade, comparado com ele, que, por dormir pouco, preenchia as madrugadas a ler de tudo, tinha eu, de facto, muito caminho para fazer… Meu Deus, onde já ia! Regressemos ao “Dia Mahler” e à coincidência dos aniversários.

Ouçamos o “Quarteto com Piano em Lá menor”, uma raridade nas salas de concerto, de inquestionável maturidade, ainda que composto aos dezasseis anos… A interpretação, de belíssimo recorte, foi confiada a Julia Fischer-Violino, Daniel Roehn-Violino, Alexander Chaushian-Violoncelo e a Milana Chernyavska-Piano.

Parabéns e, já sabem,

Boa audição!
http://youtu.be/JDaXUxudpbA
 

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