[transcrição
do artigo publicado na edição do ‘Jornal de Sintra’ de 20.09.2013]
A
Grande Junta
Alguns
leitores lembrarão que, nestas mesmas páginas do Jornal de Sintra, há tantos como onze anos, iniciei uma reflexão acerca da dimensão e da governabilidade do
concelho que, posterior e periodicamente, tenho alimentado com novos elementos,
à luz dos parâmetros que, para todos os efeitos, considero manterem-se
inalteráveis e, por isso, justificando a pertinência das propostas pelas quais
me tenho batido.
Muito
sumariamente, considero que o actual concelho deveria dar origem, pelo menos, a
duas mas, preferencialmente, a três novas unidades municipais, cada uma das
quais agrupando freguesias cujos conjuntos seriam determinados pelas mais
evidentes afinidades de ordem sociocultural, económica, geográfica e ecológica,
entre outras.
Na minha
perspectiva, a comprometida governabilidade deste tão compósito território exigiria
a viabilização de novos concelhos mas nunca solução semelhante à que resultou
na redução e, portanto, consequente, inevitável e necessariamente controversa união
de freguesias.
De qualquer
modo, já é neste contexto que se está a concretizar o actual processo que
conduzirá à consulta eleitoral autárquica, nos termos do qual os munícipes eleitores
decidirão a quem entregar a gestão da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia.
Não deixa de
ser curioso que, na sua coerência de arrumação articulada e integrada, a minha
proposta sempre tivesse mantido o princípio de que as três freguesias da sede
do concelho, Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro, deveriam submeter-se
à gestão de uma entidade comum que pudesse potenciar todos os elementos
resultantes das interdependências suscitadas por tríade tão especial,
aproveitando as sinergias assim suscitadas.
Não sendo
esta a solução que eu propunha, muito menos quaisquer iniciativas que possam
contribuir para a diluição da identidade de cada uma das freguesias que
integram a União, a verdade é que no quadro da que vai vigorar coincidem alguns
dos objectivos, de coordenação, de análise sistémica e de intervenção articulada
que presidiam ao modelo que perspectivei.
As
designadas jóias da coroa estão quase
todas sediadas nesta que será uma enorme freguesia onde, há demasiado tempo,
continuam por resolver grandes problemas que, tão evidentemente, comprometem a
qualidade de vida dos cidadãos residentes bem como a visita e estada de
forasteiros.
Pendentes mas inadiáveis
Permita-se-me,
mais uma vez, lembrar alguns dos mais pertinentes, cuja concretização pressupõe
íntima articulação de medidas entre a Câmara Municipal e a Junta, problemas centrais,
cuja resolução já foi equacionada:
1.Impedimento de acesso de veículos
particulares ao centro histórico, recorrendo ao encerramento de vias, exceptuando
os dos residentes, comerciantes e veículos prioritários, decisão que, muito naturalmente,
se conjuga com um inequívoco e exigente regime de horários de cargas e
descargas;
2.urgentíssima
necessidade de instalação de parques
periféricos de estacionamento em articulação com transportes públicos, de
todos os tipos, para os diferentes destinos quer turísticos quer de serviços; 3.repensar
as soluções para os fluxos de trânsito
entre os bairros da Portela e da Estefânea, bem como circulação de peões,
altamente comprometida pela remoção da ponte metálica sobre a linha férrea
junto à Garagem Sintra;
3.requalificação geral da Avenida Heliodoro
Salgado, nomeadamente da vergonhosa zona pedonal, com reposição dos carris do eléctrico, permitindo continuação da linha,
entre o actual terminus, a estação da CP de Sintra e a Vila, tal como aconteceu
num passado não muito longínquo;
4.requalificação
do parque de estacionamento adjacente ao
edifício do Departamento do Urbanismo e instalação do projectado parque
subterrâneo e aproveitamento de todas as pequenas bolsas de parqueamento
disponível;
5.requalificação do recinto da Feira de São
Pedro, reabilitação das zonas circundantes do mercado municipal da
Estefânea e do que funciona informalmente adjacente ao estádio do Sintrense, que «civilizem» as actividades
desenvolvidas e a atitude dos cidadãos;
6.obras de saneamento básico da zona do centro
histórico, recuperação e manutenção de fontes e fontanários;
7. recuperação e reafectação dos edifícios
do Hotel Netto, Gandarinha, ruínas das Escadinhas da Misericórdia e da zona do
Rio do Porto bem como a recuperação do percurso romântico do Passeio dos
Castanhais, entre a Quinta dos Alfinetes e o centro histórico, este último
como paradigma de atitudes congéneres a concretizar em tantos lugares congéneres
e emblemáticos;
8.intervenção
afim do escrupuloso cumprimento das disposições vigentes relativas à recuperação de edifícios, limpeza de
fachadas, requalificação de pavimentos e passeios;
9.condicionaento do acesso de veículos
particulares aos pontos altos da Serra e, em articulação com a Parques de
Sintra Monte da Lua, operacionalizar os circuitos
pedonais, recorrer aos hipomóveis de
grande capacidade (galeras e similares) e concretizar os projectos de
instalação de um funicular de acesso
à Pena, a partir do Rio do Porto, e de outro para Santa Eufémia com origem em
Ramalhão/São Pedro.
Nota final
Felizmente
deixou de haver dinheiro para lobos
grandes, para as designadas obras de
regime, a exemplo do lamentável mastodonte do Tribunal que o Arq. Leon
Krier, consultor e perito da UNESCO, considerou como de guerra a Sintra… Também é escusado virem com cantos de sereia, como
o de uma hipotética Feira Popular, que tresanda à famigerada Sintralândia de má memória e com
promessas de outros gigantes que jamais serão para cumprir.
Em tempo de
vacas magras e da máxima contenção de gastos, urge concretizar as iniciativas
constantes da lista supra e outras igualmente inquestionáveis, algumas das
quais envolvem grandes trabalhos, grandes empenhos, o tempo necessário de
concretização, de acordo com a escala adequada às necessidades em presença, sem
arrivismos bacocos de novo riquismo bem falante, sem precipitações, com a
qualidade que Sintra merece, operacionalizando equipas permanentes de
manutenção e nunca se demitindo do exercendo a autoridade que os eleitores
conferem aos eleitos.
[João
Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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