A melhor do mundo
[transcrição do artigo publicado no Jornal de Sintra, edição de 6 de Dezembro de 2013]
Em tempo que é de grande regozijo pelo evento, em primeiro lugar, gostaria de partilhar convosco dois parágrafos do texto veiculado pela própria PSML, com data do passado dia 30 de Novembro, dia em que a Parques de Sintra Monte da Lua venceu o World Travel Award para a “Melhor Empresa do Mundo em Conservação”:
“(…) António Lamas, Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, também presente na entrega de prémios, referiu que "este é um dos prémios mais desejados por qualquer empresa na área do Turismo e a Parques de Sintra está muito orgulhosa de o ter conseguido", acrescentando ainda que "o reconhecimento internacional de um World Travel Award contribuirá garantidamente para uma maior divulgação dos parques e monumentos de Sintra, reforçando a sua visibilidade junto do público".
Este prémio vem juntar-se a vários já recebidos pela Parques de Sintra e que reconhecem a qualidade do trabalho desenvolvido, não só ao nível do acolhimento a visitantes como também da recuperação e restauro dos parques e monumentos sob a sua gestão. Um dos prémios mais recentes foi o European Garden Award que selecionou o Parque de Monserrate como melhor recuperação de um jardim histórico. Também este ano a Parques de Sintra recebeu o prémio EuropaNostra para o trabalho de recuperação e restauro do Chalet e Jardim da Condessa d'Edla, local que já antes havia também garantido o Prémio do Turismo de Portugal e do Grémio Literário. (…)”
O palmarés de prémios acumulado pela Parques de Sintra Monte da Lua é verdadeiramente impressionante e este último é dos de maior prestígio mundial. Está de parabéns o Prof. António Ressano Garcia Lamas, está de parabéns a equipa que ele lidera e estamos de parabéns todos nós, sintrenses reconhecidos pelo trabalho notabilíssimo de gestores e técnicos tão conceituados.
Quem, como eu, tem acompanhado de muito perto o trabalho desenvolvido pela empresa, desde o início da sua constituição, só pode rejubilar e sentir o maior orgulho. Infelizmente, nem sempre foi assim. Como não tenho memória curta, entendo o total alcance das citadas palavras do Prof. António Lamas, já que me recordo do verdadeiro pesadelo que foram os primeiros anos de actividade da PSML, sob a incompetente gestão do biólogo Serra Lopes.
Na realidade, tendo em consideração o paradoxal contraste entre o actual período de permanente júbilo e o anterior de desapontamento constante, é perfeitamente imaginável o que seria de Sintra sem o empenho que esta boa gente tem demonstrado na defesa dos nossos interesses, tendo conseguido o Prof. António Lamas, será bom não o esquecer, salvar a PSML do abismo em que a encontrou, erguendo-a e notabilizando-a a este nível absolutamente ímpar e invejável.
A melhor do mundo e o Netto
Pois bem, não deixa de ser curioso que a concessão de galardão tão importante e cobiçado em todo o mundo, relacionado com a recuperação do património, tivesse coincidido com o recente episódio afim da intenção de reabilitação de um bem patrimonial como é o Hotel Netto.
Entre o Tivoli e o Palácio da Vila – no preciso local onde, nos anos quarenta, se alojaram refugiados judeus, hotel que Ferreira de Castro procurou para as suas estadas em Sintras, onde, mais tarde, em tempo de refluxo do império, residiram retornados das colónias – jaz morto, apodrece, um edifício que, de um dia para o outro, adquire uma notoriedade interessante.
Vale a pena lembrar que tudo começou há cerca de um ano. No contexto de um trabalho levado a cabo ao longo de meses, a PSML empenhou-se, não só no diagnóstico fino da situação de prática ruína a que dezenas e dezenas de anos de abandono conduziram aquela unidade hoteleira, mas também na definição do programa de recuperação cujo objectivo seria a sua transformação e adaptação a um hostel, portanto, vocacionado para uma clientela jovem.
Naturalmente, definidos os parâmetros da reabilitação, em zona tão crítica como é o centro histórico de Sintra, praticamente paredes-meias com o Palácio da Vila, uma das jóias da coroa que lhe está afecta, a PSML também terá procedido às diligências afins do financiamento, equacionado e negociado com as entidades credoras o período de liquidação nas melhores condições, enfim, tudo preparando sem comprometer quaisquer detalhes das várias etapas a vencer.
Há precisamente um mês, no dia 6 de Novembro, em que o Rotary Clube de Sintra, tão justa e oportunamente, atribuíu ao Presidente do Conselho de Administração da PSML a distinção do Profissional do Ano, todos quantos participaram daquele jantar de homenagem no Hotel Tivoli, bem puderam verificar a satisfação do Prof. António Lamas ao anunciar como estaria para breve o começo de uma nova vida para o Netto.
Percebia-se que tal notícia – não constituindo o corolário fosse do que fosse para uma empresa de capitais públicos que já provou como, ao seu alcance, estão todos os desafios do mais alto nível – representava, afinal, a oportunidade para resolver mais um problema dentre os muitos que, em Sintra, tanta preocupação têm causado a diferentes executivos camarários em sucessivos mandatos.
Enfim, ali estava a PSML tornando pública mais uma recuperação de património, portanto, no perfeito contexto e âmbito da sua especialidade. Recuperar aquele edifício para um tempo próximo, em que a animação da zona histórica ficará indissociavelmente ligada à qualidade com que a obra for concretizada, permitindo tanto aos sintrenses como aos visitantes em geral, jovens utentes, à hotelaria e restauração e ao comércio vizinhos, uma articulação facilitada com um espaço compósito, eis um programa, eis uma carta de intenções cuja concretização, não estando ao alcance de todos, estava-o da PSML.
A melhor do mundo e a caravana
Subitamente, erguendo-se da letargia de décadas em que se mantivera relativamente a instalações que deixou apodrecer até à indecente ruína em que se encontra, a Câmara Municipal de Sintra, através do inegável direito de preferência que lhe assiste, vem anunciar não pretender desperdiçar esta oportunidade para demonstrar como, agora, é que o Hotel Netto, às suas mãos, vai ter o destino que merece.
Já que, apenas na sede do concelho, a Câmara tanto tem com que se entreter, por exemplo, com o edifício Gandarinha, cinema da Portela e outros interessantes imóveis, nas mesmas circunstâncias, igualmente abandonados há décadas, parece-me que pretenderá, isso sim, aproveitar o Netto como caso paradigmático.
Pois, se querem que vos diga, acho muito bem. Trata-se de um excelente sinal do novo executivo. Aproveitando a oportunidade, sobe a fasquia a uma altura admirável e demonstra 'urbi et orbi', ou seja à cidade e ao mundo, que está ao nível da melhor empresa do mundo em conservação.
E, afinal, se as coisas correrem como é justo esperar, como a Câmara Municipal de Sintra até participa do capital social da PSML, a empresa à qual Sintra tanto deve, que até é a Melhor Empresa do mundo em Conservação, poderá mesmo envolver-se na recuperação do Netto, para a qual já contribuiu, durante tantos meses, com um inestimável trabalho de sapa. Enfim, continuando a caravana a passar, agora apenas resta estar atento ao cumprimento do cronograma.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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