[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014




Sintra, novamente
o velho Casino







[Não é por estar longe de Sintra que me esqueceria da «encomenda semanal» do ‘Jornal de Sintra’. Portanto, aí têm a transcrição do meu último artigo, publicado na edição do dia 24.01.2014. Tenham em atenção que, tal como está assinalado, os três primeiros parágrafos são assinados por João de Mello Alvim, funcionando como epígrafe desafiadora do meu escrito.]




No final do mandato, legal mas não ponderadamente, o anterior Executivo camarário assinou um protocolo para a instalação do espólio do gravador Bartolomeu Cid no Casino, edifício que já foi museu (sem se afirmar, diga-se, por falta de estratégia de quem o dirigia) primeiro espaço do Chão de Oliva (e onde nasceu a primeira companhia de teatro profissional de Sintra), escola preparatória e repartição de finanças, mas nunca casino.
Nada me move contra o artista – foi mesmo por indicação de um dos meus mestres, era então eu um jovem estudante de Belas-Artes, Ângelo de Sousa, a minha primeira referência na gravura -, mas não estou convencido que a instalação do espólio deste gravador de prestígio internacional, seja a melhor opção na actual gestão dos espaços municipais, assim como na dinâmica da oferta artística daquela zona da Estefânia.
Actualmente, Sintra precisa de um espaço de gestão partilhada, município/agentes culturais com provas de gestão e programação dadas, que permita a disponibilização de salas para conferências e congressos, assim como de salas para ensaios, apresentação de pequenos espectáculos de artes performativas e exposições de artes plásticas, prioritariamente destinadas aos jovens criadores. A articulação da oferta dos espaços instalados nesta zona, de que a Vila Alda não pode ser excluída, ajudará a potenciar a dinamização da oferta artística, na diversidade vertical e horizontal: em rede, intransigente com a vulgaridade e a mediocridade, mas sem preconceitos elitistas.


["Três parágrafos", João de Mello Alvim, 20.01.2014]





Em geral, discordo do conteúdo dos Três parágrafos de João Alvim. Radica a minha opinião em argumentos que tenho publicado ao longo dos últimos anos, em particular nestas páginas do Jornal de Sintra, tendo-o feito não só a partir do momento em que todos nós, sintrenses, tomámos conhecimento da decisão de a Câmara Municipal de Sintra instalar o espólio de Bartolomeu Cid dos Santos no Casino, mas também, muito anteriormente, desde que o Casino passou a funcionar como Sintra Museu de Arte Moderna.

Aproveito a oportunidade para ir um pouco atrás no tempo, mais precisamente, ao fim século passado. Com base em interessantíssimas memórias, que importa conhecer convenientemente, objecto do opúsculo subordinado ao título História do Casino ou Os Equívocos de um Tempo Sintrense de José Sarmento de Matos, sabemos que o destino daquele edifício está marcado por uma específica vocação que, em Setembro de 1997, levou Edite Estrela a escrever as seguintes palavras, na breve Introdução à referida publicação:

“(…) Em Sintra, projectos como este, do novo Museu de Arte Moderna que instalámos no velho Casino, pela sua importância e valor, têm uma projecção internacional que consolida a personalidade histórica, estética e cultural que todos lhe reconhecem. Sintra (…) assume que nos nossos dias o reequilíbrio humano, emocional e sensível, só logra atingir resultados satisfatórios no âmbito de uma vertente turística assumidamente cultural (…)”*

Arte moderna, uma vocação

Dentre as medidas mais acertadas dos dois mandatos de Edite Estrela, neste contexto da actividade cultural do concelho, mas com inequívocas mais-valias e vantagens noutros domínios, com o do turismo a evidenciar-se, não tenho a menor dúvida em destacar a assinatura do Protocolo afim da disponibilização da Colecção Berardo no Casino, como das melhores e de maior alcance estratégico.

Ao contrário do que João de Mello Alvim dá a entender, durante o tempo em que funcionou como museu, mais de uma década sob a Direcção de Maria Nobre Franco e, finalmente, com Pedro Aguilar, o Casino foi um espaço privilegiado de usufruto das artes plásticas, procurado por inúmeros visitantes que, em muitos casos, demandaram Sintra expressamente, «por causa» da Colecção ou das exposições temporárias que, instalado no Casino, aquele museu promoveu. Tenha-se em consideração que, já com o espaço encerrado, entre Outubro e Dezembro do ano passado, estrangeiros houve que bateram à porta do Casino perguntando pela Colecção de Arte Moderna…

Se bem se entende, a incontornável realidade a que me reporto, que, de modo algum, poderá ser negligenciada, demonstra e afirma que o Museu do Casino passou a colocar Sintra no circuito nacional e internacional da Arte Moderna e Contemporânea. Ora bem, tal vivência e consumo da Arte, ainda tão recentes, não podem, não devem deixar de ser considerados por quem tem mandato para decidir sobre questão tão interessante ainda que compósita e complexa.

Os benefícios, efeitos e alcance do anterior Museu, são evidentes ainda que dificilmente mensuráveis e, uma vez que não são despiciendos, podem e devem ser capitalizados no mesmo território artístico. Foi neste âmbito e tendo tão determinantes factores em consideração, que o executivo camarário precedente, liderado por Fernando Seara, afinal, mais não fez do que honrar o implícito legado da sua e já referida antecessora.

Fez bem o anterior executivo. Sediar o espólio de Bartolomeu Cid dos Santos no Casino foi uma decisão de grande acerto, embora nada fácil de concretizar. Na medida do possível, como fui acompanhando pari passu o que sabia estar em vias de negociação, tive conhecimento de que o espólio chegou a ser disputado por outras entidades sem que, no entanto, Sintra tivesse deixado os seus créditos por mãos alheias e, finalmente, conseguindo que ficasse entre nós tão valioso acervo – ‘fabuloso’, segundo a avaliação de Jorge Telles de Meneses.

Entretanto, preocupado com um aparente adiamento da instalação da Colecção, solicitei esclarecimento conveniente à Assembleia Municipal de Sintra durante a sessão de 27 de Dezembro passado. Nessa oportunidade, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra sossegou, elucidando no preciso sentido de que, nestes tempos iniciais do seu mandato, o projecto não fora esquecido e que a CMS estava, tão somente, estudando detalhes do Protocolo de Cedência, certamente, no sentido de o melhorar.

Espaço não falta

Tratando-se de matéria para juristas dirimirem, esperemos serenamente o resultado do trabalho dos consultores da CMS e da cedente Maria Fernanda dos Santos, viúva do artista, na certeza de que, nos termos da oportuna decisão, a Colecção ocupará o espaço do Casino, mas não a totalidade das instalações. Como o espólio jamais poderá estar exposto na totalidade, deverá considerar-se uma adequada zona de reservas e, para o efeito, a necessidade de concretização das obras que já estavam previstas.

Assim sendo, haverá espaços livres para a concretização dos projectos culturais que a Câmara Municipal de Sintra ali decida promover, por sua iniciativa exclusiva ou em articulação com outras entidades. Mais, como o Casino se integra num dispositivo cultural indissociável do CCOC, portanto, não faltando espaço físico, ainda maior a pertinência deste enunciado programático de «boa vizinhança» com os agentes culturais locais.

É nestes termos, estou em crer, que se impõe rendibilizar tais espaços, ao máximo da sua capacidade, obviando os longos e nada recomendáveis «vazios», que se sabe existirem, absolutamente surpreendentes no caso do Centro Cultural Olga Cadaval e que, satisfazendo a sugestão de João Mello Alvim, já dispõe de salas e salinhas “(…) para conferências e congressos, assim como de salas para ensaios, apresentação de pequenos espectáculos de artes performativas e exposições de artes plásticas, prioritariamente destinadas aos jovens criadores (…)”.

Há uma íntima relação entre o CCOC e o Casino, fruto de características únicas de dois edifícios com grandes afinidades, inclusive estéticas, já que não podem negar terem resultado do atelier do mesmo arquitecto. Na disponibilidade de significativas áreas que, de modo algum, têm uma ocupação esgotada, o Centro Cultural Olga Cadaval, por um lado, e o Casino – que, repito, instalando a Colecção Bartolomeu Cid dos Santos, ainda ficará com áreas disponíveis – por outro, poderão articular as suas actividades e programação com associações culturais credíveis, indispensáveis e, como no caso de 'Chão de Oliva', até com peso histórico local e nacional amplamente reconhecidos.

*Câmara Municipal de Sintra, ed, 1997

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

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