[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 9 de maio de 2014


Sintra, Raul Lino

Uma disciplina que se transforma em instinto…

[facebook, 8 de Maio de 2014] 
 
 
“(…) Se os tempos correm mal para a paisagem, podemos dizer que a nossa terra também é pouco propícia à conservação, quanto menos à valorização daquilo que chamamos belezas naturais. No entanto, sem nos afastarmos muito da raia do país, podemos gozar – por exemplo – uma cidade como Sevilha, isolada na vasta campina, que nos oferece um quadro sem mancha ofensiva; e, melhor ainda, mais adiante a cidade de Granada, em contacto directo com uma paisagem acidentada e colorida, formando com ela uma completa harmonia sem falha ou desafinação.

E este milagre é possível porque a Espanha é um país muito conservador, em que perdura ainda a tradição, a tradição que não é, como muitos imaginam, uma veleidade passadista mas resultado da experiência acumulada de gerações sucessivas, constituindo por si uma disciplina que acaba por se transformar como que num instinto.

Este instinto não é exclusivo da Espanha; revela-se noutros países, nomeadamente na França, na Inglaterra, na Holanda ou na Alemanha. Mas entre nós, desde há muito que ele deu o que tinha a dar, e para ele agora pudesse reviver, seriam precisos esforços hercúleos de uma reforma educacional.
(…)”

[Arq. Raul Lino, em conferência proferida na Sociedade de Geografia de Lisboa, no dia 16 de Janeiro de 1957, subordinada ao título ”Arquitectura, Paisagem e a Vida”.]

Ao reler esta página, logo pensei em
Chábeli de Castro-Camacho a quem remeto estas palavras do seu colega, um dos maiores arquitectos portugueses do século vinte. Neste ano de 2014, comemora-se o centenário da inauguração da Casa do Cipreste – a sua morada em Sintra e que, no seu dizer, foi a única obra em que teve completa liberdade – cuja visita lhe recomendo o mais vivamente possível.
 
 

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