[sempre de acordo com a antiga ortografia]
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Sintra
Heliodoro Salgado,
o acidente que faltava
Há pouco, cerca do meio-dia, a Dra. Idalina Grácio, directora do ‘Jornal de Sintra’, telefonou-me dando conta de que um atropelamento tinha ocorrido na zona pedonal da Heliodoro Salgado, junto à charcutaria e frutaria ‘Urca’. Desconheço pormenores. Mas, perante tão desagradável notícia, apesar de me assaltarem sensações e sentimentos mais ou menos desencontrados, não fiquei minimamente surpreendido.
Era mesmo só o que faltava. Cruzada por veículos a qualquer hora do dia, transformada em parque de estacionamento, raramente controlada pela autoridade policial, impermeabilizada por pavimento irregular, que tem provocado inúmeras quedas – a mais célebre das quais de Maria José Ritta, mulher do nosso vizinho Jorge Sampaio, quando este ainda era Presidente da Repúblicaa – estava mesmo à espera de um acidente mais grave.
Compreendo a reacção da Dra. Idalina ao contactar-me. Em especial, no ‘Jornal de Sintra’, mas também nas redes sociais, contam-se por mais de uma centena as páginas que, durante mais de uma dúzia de anos, tenho escrito acerca do descalabro que é a Heliodoro Salgado. Desde a altura em que a Dra Edite Estrela apresentou aquele famigerado projecto, em sessão no então Sintra Museu de Arte Moderna-Colecção Berardo, que tive oportunidade de contestar, nunca mais foi possível deixar de intervir no mesmo sentido.
Embora os objectivos fossem perfeitamente aceitáveis, o resultado daquele encerramento ao trânsito, para que se transformasse em zona pedonal, revelou-se um perfeito desastre quer em termos técnicos quer como solução estética. Se articularmos este flagrante desatino com o licenciamento de grandes superfícies, num raio de acção estreitíssimo, logo se percebe porque o comércio tradicional – já de si pouco receptivo à mudança – tão evidente e rapidamente estiolou. A posterior proliferação «orientalizante», que a todos nos deixa de olhos em bico, essa é o corolário de estratégia tão pouco avisada…
Há dez anos, envolvi-me na realização de umas “Jornadas de Reflexão sobre a Estefânea” durante as quais foram avançadas as soluções mais consentâneas para acabar com o «sarcófago», termo usado pelo meu querido e saudoso amigo Bartolomeu Cid dos Santos, que contrapunha à minha designação de «cemitério».
Mais tarde, única digna de registo, uma polémica, através das páginas do ‘Jornal de Sintra’, em que tive como civilizadíssimo «oponente» o Arq. Jesus Noivo, autor do projecto, que, não tenho qualquer dúvida em reconhecer, foi ultrapassado pelas circunstâncias, nomeadamente, quanto à sua concretização técnica.
Ultimamente, de assinalar a respeitável opinião subscrita pelo Senhor Vereador Luís Patrício, que alvitra a hipótese de encarar a via como o grande eixo de um designado ‘Quarteirão das Artes’, susceptível de acolher todo o tipo de animação de rua, mas não avançando com qualquer proposta de requalificação da artéria.
A última vez que escrevi acerca do assunto foi precisamente na semana passada, na edição do referido jornal do dia 19 do corrente. Nessa altura, considerava indispensável que a Câmara Municipal de Sintra esclarecesse os munícipes. Embora possa não parecer, os cidadãos aguardam expectantes as explicações que se impõem. Em definitivo, o que pretende a edilidade?
Repara ou não o pavimento no segmento utilizado por todo o tipo de viaturas ligeiras e pesadas que, sistematicamente, batem com os cárteres e chassis na calçada de paralelepípedo? Ou, se ainda o não fez, é porque pretende concretizar a intenção de fazer circular o eléctrico, pela Heliodoro Salgado, com o objectivo de o levar até à estação e à Vila Velha? E, de qualquer modo, mesmo sem eléctrico, abrirá a via à circulação apenas num sentido? Recolocará a ponte metálica pedonal, facilitando os acessos à Portela e à Estefânea e permitindo aproveitar as vantagens do parque de estacionamento adjacente ao edifício do Departamento do Urbanismo?
Chegou-se a uma situação de inaudito desrespeito e de falta de civismo. Hoje mesmo, foi aparatosamente inaugurada a fase dos acidentes aparatosos. A Heliodoro Salgado ainda não nos envergonhou suficientemente? Se as soluções estão equacionadas, não chegou a altura de dizer basta e passar à acção civilizada e inadiável?
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