[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 12 de outubro de 2014


Miguel de Unamuno,
 12 de Outubro de 1936

"Dia da Coragem Ibérica!"
 

[Com especial dedicatória a Châbeli Jardim]]

Em 12 de Outubro de 1936, Miguel de Unamuno, Reitor da Universidade de Salamanca, protagonizou aquele que, na minha opinião, é um dos mais corajosos manifestos e comovente episódio da luta dos povos ibéricos contra as forças do obscurantismo fascista. Ao mesmo tempo que o lembro, com toda a emoção, também invoco o meu querido e saudoso professor Vitorino Nemésio, que tanto estimava e celebrava Miguel de Unamuno.

Naquela data, durante uma cerimónia oficial na Aula Magna da referida universidade, foi posto em causa o patriotismo de bascos e catalães por um dos oradores, Francisco Maldonado de Guevara, permitindo-se afirmar que eram “(…) anti-Espanha e 'tumores' no sadio corpo da nação", asseverando que "o fascismo redentor da Espanha saberá como exterminá-los, cortando na própria carne, como um decidido cirurgião, livre de falsos sentimentalismos".
 
Subsequentemente, alguém na platéia teria gritado o lema da Falange: "Viva la muerte!", ao que Milán-Astray, general falangista, célebre fundador da ‘Legião estrangeira’, respondeu com um habitual repto: "Espanha!". A plateia respondeu "Unida!". Ele repetiu "Espanha!" e a massa replicou "Grande!". Millán-Astray exclamou pela terceira vez "Espanha!" e a multidão gritou "Livre!". Nessa altura, um grupo de camisas azuis da Falange entrou no recinto e fez uma saudação oficial - braço direito ao alto - ao retrato de Franco ali exposto.

Foi naquele momento que Millán-Astray exclamou: «Morra a intelectualidade traidora! Viva a morte!» que obteve a seguinte réplica de Unamuno: “Este é o templo da inteligência e eu sou seu sumo sacerdote! Vós estais profanando este recinto sagrado. Tenho sempre sido, digam o que disserem, um profeta no meu próprio país. Vencereis porque tendes sobrada força bruta. Mas não convencereis porque, para convencer, há que persuadir. E, para persuadir, falta-vos algo que não tendes: razão e direito!”

A reacção do público presente foi tremenda. Unamuno ouviu todo o tipo de insultos chegando alguns oficiais a sacar das suas pistolas. A verdade é que, graças à intervenção de Carmen Polo de Franco, que se agarrou a seu braço, Unamuno conseguiu retirar-se do local.

Nesse mesmo dia, o Conselho Municipal decretou a expulsão de Unamuno. O proponente, conselheiro Rubio Polo, solicitou a medida sob o argumento de que «...a Espanha, afinal, apunhalada traiçoeiramente pela pseudo-intelectualidade liberal-maçónica cuja vida e pensamento [...] só na vontade de vingança se manteve firme, em tudo o mais foi sinuosa e oscilante, não teve critérios, somente paixões [...]». Seguidamente, Franco assina o decreto de destituição de Unamuno como reitor da Universidade de Salamanca.

Miguel de Unamuno foi reconduzido, a título póstumo, como Reitor da Universidade de Salamanca em Outubro de 2011. Um grande de Espanha! Um dos mais estimados referentes do iberismo que professo.

 

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