[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 16 de novembro de 2014



Gulbenkian,
Concerto 14 de Novembro


Subordinado ao tema 'Uma noite na Ópera', o concerto semanal da Orquestra Gulbenkian contou com Susanna Mälkki como dirigente e Karita Mattila, soprano, preenchendo o programa que passo a detalhar:

- Carl Maria von Weber, Abertura da ópera "Der Freischütz";
- Alfredo Catalani - da ópera "La Wally", 'Ebben! Ne andrò lontana’ *
- Giuseppe Verdi - Abertura da ópera "La forza del destino"
   - da ópera “Un ballo in maschera”: ‘Morrò, ma prima in grazia’ *
-Antonin Dvorák - Danças eslavas, op. 46 (selecção)
   - da ópera “Rusalka”: Canção de Rusalka à Lua *
- Richard Strauss – Suite de “Der Rosenkavalier, op. 59
- Franz Lehár – da ópera “Giuditta”, ‘Meine Lippen, sie küssen so heiss’*


Primeiramente, em linhas muito gerais, a assinalar a estupenda relação entre a Orquestra e Mälkki, maestrina convidada principal. Sabe o que quer e, com base na autoridade que lhe reconhecem, percebe-se como é assertiva e pode pedir aos músicos o que quiser. Naipes muito bem controlados, entradas muito bem assinaladas, músicos em excelente nível de rendimento.

Com o «advento» de Mattila, apenas confirmei impressões anteriores. Cantora com uma imensa tarimba de palco, dominando todos os truques do métier, sabendo defender-se de modo a nada ou muito pouco arriscar, cumpriu mais uma etapa da tournée nos termos da qual, pela enésima vez, interpreta as mesmas árias…

Tratando-se de peças conhecidíssimas, pois, muito naturalmente, além da avaliação da interpretação que, naquele momento presenciava, também comparava a interpretação de Matilla com outras. E, mesmo sem exemplificar, há dezenas de bem mais gratificantes.

Não, de facto, não me trouxe nada de enriquecedor e, meus caros amigos, este é outro dos meus grandes defeitos, espero sempre, sempre, ganhar com a experiência de mais um concerto, mais um recital, mais um evento musical que possa ter o privilégio de assistir.

Desta vez, Matilla conseguiu a façanha de não se fazer entender em inúmeras passagens. Dei por mim sem perceber uma palavra de ‘Ebben! Ne andrò lontana’. Verdade. Estava sentado num bom lugar do meio da plateia, sem qualquer hipótese de prejuízo acústico, e não percebi patavina dos versos do libretista Luigi Illica. Que hei-de eu fazer? Sou daquela velha escola onde aprendi que a dicção só pode ser absolutamente impecável, em que cada palavra tem de ser inequivocamente perceptível pelo público…

Mas estaria eu enganado e com algum problema pessoal de falta de audição? Felizmente não. No fim do concerto – depois de uma série de peripécias no palco, em que a cantora ultrapassou tudo quanto seria de esperar, mesmo na mais informal das circunstâncias – eis que o meu querido amigo Dr. Carvalho Cardoso, Presidente do Círculo Richard Wagner, homem habituadíssimo na avaliação de vozes, vinha subindo os degraus da plateia.

Ao deparar comigo, logo me pergunta se eu tinha percebido alguma coisa da sobredita ária. Rimos a bom rir, com os truques de Matilla, enquanto o público aplaudia. Despedimo-nos, com um abraço cheio de ironias, até ao próximo evento, ou seja, já amanhã. No domingo, a coisa é muito séria ou não tivéssemos a já mítica Mitsuko Uchida em recital imperdível. Enfim, outros meandros…

Quase à saída, ouvi alguém trocando impressões sobre o extra que a cantora oferecera. E dizia a pessoa que até nem tinha gostado muito daquela interpretação de “O mio bambino Caro”. Ora bem, para que conste, não está correcto. De facto, é 'O mio babbino caro', cuja tradução 'Oh meu paizinho querido', [pappa, babbo, babbino, diminutivos de 'padre', pai] reproduz o primeiro verso de uma ária de Lauretta, filha de Gianni Schicchi, momento absolutamente marcante e icónico da ópera "Gianni Schicchi" de Puccini. [bambino=criança, garoto, menino // babbino=paizinho].

E, oferta minha, eis um estupendo momento de Montserrat Caballé, no Concerto de Munique, em 1990, cantando a famosa ária.

Boa audição!

http://youtu.be/RxZSP1Dc78Q

Sem comentários: