[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sintra,
Tiradas de cidadão causticado

[facebook, 31.10.2014]


Acreditem que não posso estar mais animado, mais motivado do que estou em relação à intervenção cívica que se impõe concretizar no próximo futuro. Membro de associações cívicas e culturais nacionais e locais, é no quadro dos seus programas de actividades que pretendo continuar a partilhar as preocupações que comungo com muitos que, como eu, são militantes das causas da defesa do património.

Naturalmente, de vez em quando, oferece-se a oportunidade de avaliar atitudes. Quer pela positiva quer pela negativa. Quanto à primeira, não preciso de dar exemplos porque sabem como eu gosto de elogiar, de enaltecer o bom trabalho, de estimular, de me render perante o que de bom se vai fazendo. Poderá ser um companheiro de luta, o administrador ou técnicos da Parques de Sintra, um Vereador ou o Presidente da Câmara, um jornalista, professores, amigos, enfim, seja quem for. Elogiar é mesmo o que eu mais gosto.

Tal não significa que me retraia ou cale perante motivos susceptíveis de gerar uma qualquer perplexidade, um desconforto, uma deselegância, um desagrado provocado por uma atitude evidente e negativamente criticável. Aqui chegado, é neste contexto da avaliação do menos positivo e negativo, que me permito transcrever o excerto abaixo identificado:

"(...) A Câmara adquiriu o Hotel Netto e agora diz-se que o problema é o dinheiro que custa manter a sua fachada! Mas poderia ser de modo diferente? Não se sabia, de um saber obrigatório, que a fachada era para manter? É a Câmara que deve obrigar a manter todas as fachadas e, obviamente, obrigar-se a si própria. (...)"
["Nem tudo são rosas no paraíso ou 10 questões sobre o Património de Sintra", Blogue 'Sintra Deambulada', terça-feira, 28 de Outubro de 2014]


Já tive oportunidade de vos chamar a atenção para o estupendo texto de João Rodil do qual extraí o excerto supra. Pois a ele voltei porque me dá oportunidade de enquadrar o manifesto de inquestionável incómodo em relação à maneira como o Senhor Presidente da Câmara, na abordagem do específico caso do Netto, depois de um primeiro momento, há cerca de um ano, agora protagoniza este segundo episódio.

Mostrou-se o Senhor Presidente agastado com a exigência da manutenção dos traços mais característicos e definitivos da marca do edifício na urbe, portanto da obrigação do respeito pela estética inicial, que implicará na recuperação da fachada. Surpreendido o Senhor Presidente? Mas, pergunta-se, a quem pode surpreender tal determinação quanto a uma peça que, isoladamente, tem uma identidade que seria posta em causa se tal não sucedesse e que, por outro lado, faz parte de um conjunto cuja memória – ah, meus senhores, disso bem nos lembramos nós!... – já sofreu impensáveis tratos de polé com a destruição do Nunes e implantação do Tivoli?

Então o Senhor Presidente permitiu-se usar o direito de preferência sem se ter apercebido de todas as implicações da tomada de tal decisão? Não estudou o projecto de recuperação? Não percebeu que havia um sindicato de bancos já apostados no financiamento das obras de recuperação do património, que a Parques de Sintra Monte da Lua trabalhara durante meses e meses?
 
Será, exactamente, porque não se ter apercebido, que também não terá em conta que os financiadores não estavam absolutamente nada preocupados com a necessidade de manutenção da fachada do edifício – coisa que o Senhor Presidente, agora, avalia em um milhão e setecentos mil euros – por ser impensável que a empresa promotora do projecto, dispondo de um crédito a toda a prova no domínio técnico, não tivesse considerado tal «detalhe» na justa proporção da obra a financiar…

Não terá percebido que, para chegar àquele patamar, em que já anunciara obras praticamente iminentes, a PSML percorrera todas as etapas de um percurso que, para si, eram fruto de uma ímpar experiência adquirida, nacional e mundialmente reconhecida como uma das melhores?
O que podem e devem pensar os munícipes perante esta atitude do Senhor Presidente da Câmara? Um ano depois de anunciar a sua decisão quanto ao Netto, o que presentemente se permite afirmar é a evidente e flagrante revelação, não direi de uma certa ligeireza que sei não ser seu timbre, mas de falta de aconselhamento técnico, que se transformou em pública forma de precipitação.

Tenho ouvido opiniões no sentido de interpretar a decisão de a CMS usar o direito de preferência como uma frustre atitude de marcação de território. Eu apenas descortino que, com um saber fazer que é a sua mais-valia de excelência, a PSML desejaria, isso sim, resolver o problema daquele cadáver adiado por décadas e décadas de letargia.

Para que mal entendido algum exista ou subsista, cumpre afirmar que nenhuma das considerações supra belisca a máxima consideração que continuo a nutrir pelo Senhor Presidente da Câmara. Não só consideração mas estima, que sei ser mútua, pois já me deu provas bastantes nesse sentido. Aqui, além das tiradas de cidadão causticado, apenas deverá ser entendido o desejo de colaboração, de partilha de preocupações cuja clarificação melhor habilitem às melhores decisões.
 
 
 

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