[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014



 
Bach,
a epifania de Landowska



[facebook, 10.12.2014]

[Esta proposta de audição e sua breve introdução vão directas à minha querida amiga Margarida Bénard da Costa cujo aniversário hoje celebramos. Diria que a Guidinha é daquelas pessoas que tem Bach nos cromossomas, numa genealogia em que muitos dos nós nos incluímos, irmãos, portanto, herdeiros de um legado que continua a deslumbrar como no primeiro dia da apresentação.]

Teclas especiais

Para que conste, passo a traduzir, do original alemão, as intenções de J.S. Bach, quanto às "Variações Goldberg, BWV 988": “Quarta parte dos ‘Clavier Übung’, compondo-se de uma ária com diferentes variações para o cravo com dois teclados. Composto em intenção dos amadores para o prazer dos seus espíritos (…).”

E, para que não haja a mínima dúvida a menção ’para dois teclados’, pois ela figura em cabeçalho das variações nos. 11, 13, 14, 17, 20, 23, 25, 26, 27 e 28; a menção ‘a 1 ovvero 2 Clav’ em cabeçalho das variações nos. 5, 7 e 29; as restantes trazem a menção ‘a 1 Clav’.
 
Quando Bach entendia precisar, muito especificamente, o instrumento para o qual compusera determinada obra, fazia-o tal qual como no caso vertente. Significa isto que, em relação às “Variações Goldberg”, o compositor não podia ter sido mais peremptório.

Por exemplo, já quanto ao “Das Wohltemperierte Clavier” [O Teclado bem Temperado, Livros I e II, BWV 846-893], a palavra ‘Clavier’ designa, sem especificação, o instrumento de teclas sem que se possa concluir, inequivocamente, se Bach terá pensado primeiro no cravo ou no clavicórdio, ou no órgão para algumas peças ou mesmo no novo pianoforte para outras…

A verdade, porém, é que os modernos pianos se adaptam muito bem aos desígnios do compositor. Daí que, hoje em dia, se tenham vulgarizado as versões para piano das “Variações Goldberg”, avultando as duas de Glenn Gould.

Não serei desmancha-prazeres mas prefiro outras, por exemplo, de András Schiff ou de Angela Hewitt mas, enfim, não é caminho que agora me apeteça percorrer, dirimindo argumentos a favor destas minhas opções nesta hora de começo da madrugada…

«A» interpretação

Contudo, nada me consegue desviar do propósito inicial de Bach. O Cravo, inequívoco! Daí que vos proponha a leitura absolutamente definitiva da inultrapassável – não, não tenho mais adjectivos... – Wanda Landowska.

Por favor, a última coisa em que devem reparar é na qualidade da gravação… Pois, de 1933, mas perfeitamente inteligível e concludente quanto à suprema qualidade da interpretação. Bach, nas mãos de Landowska é uma epifania.

Quanto à estrutura, enquadramento e curiosidades acerca das "Variações Goldberg" já me aturaram noutra oportunidade. Em caso de absoluta necessidade, já sabem, o arquivo está disponível. E, sem mais delongas, o que pretendo partilhar convosco.


Boa audição!


http://youtu.be/HWD-JvJ-6yk

 
 

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