[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 4 de junho de 2015





Aos 106 anos,
morreu Manoel de Oliveira


[facebook, 02.04.2015]


Um grande poeta! Eis a sua primeira obra, datada de 1931, uma primeira obra que é uma obra-prima. Antes de acederem ao documento, reparem na ficha técnica. A omnipresença de Manoel de Oliveira é impressionante, bem revelando a sua polivalência artística. Música de Luís de Freitas Branco. Pois...
Tenho muita sorte com os «meus» velhos centenários, Além de Oliveira, os MQI Emídio Guerreiro, Fernando Valle. Todos tão especiais! O que lhes devo eu?! Que herança incrível!

Também já não está connosco aquele com quem mais aprendi sobre Manoel de Oliveira. O meu querido e saudoso João Bénard da Costa, à memória de quem bebi, precisamentei no passado sábado, aqui em Sintra, numa casa que ele terá sob sua especial protecção... Vão-se-me as referências, oxalá não me vá diminuindo a sua Luz.

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Um documentário de 20 minutos sobre a cidade do Porto e o seu eixo principal: o rio Douro. Um documentário que oscila entre uma corrente mais tradicionalista e uma corrente experimentalista que estava em voga nessa altura (1931). Assim, Oliveira procura uma estética sofisticada e rigorosa que não se fica por uma pontual observação da realidade social. Pelo contrário, ele quis e foi muito mais longe neste seu primeiro trabalho, experimentando uma outra forma de apresentar o real.

Todos os elementos os homens, as máquinas, o curso do rio, estão judiciosamente colocados numa série dentro de um grandioso poema. A montagem busca complementar e encadear todos os elementos para que estes sejam distinguíveis dentro de um todo coerente. Assim, o rio que corta a cidade do Porto não está pensado como um elemento de separação, mas como um obstáculo que é necessário superar para restabelecer a comunicação.

A estrutura do Douro deve-se muito a um cinema de vanguarda, como era o de Walter Ruttman, que teve bastante influência sobre este primeiro trabalho de Oliveira, através da sua obra "Berlim, Sinfonia de uma Capital." Para além de Ruttman, Dzigavertov e Jeanvigo, eram os mais vanguardistas na altura e Oliveira não lhes ficou atrás no seu primeiro trabalho.

Douro, Faina Fluvial, provocou um verdadeiro impacto entre a crítica da época, devido à sua inteligentíssima e veloz montagem e à beleza da sua fotografia. Criticado pela crítica portuguesa e elogiado pela estrangeira no V CONGRESSO INTERNACIONAL DA CRÍTICA, Oliveira acabava de entrar desta forma no mundo do cinema.

Este trabalho foi realizado com António Mendes, seu amigo, fotografo amador. Ambos demoraram aproximadamente 2 anos na recolha de imagens, porque só filmavam nos tempos livres (fins-de-semana).

Ficha Técnica

35 mm pb 575 mt 21 mn
Realização: Manoel de Oliveira
Produção: Manoel de Oliveira
Argumento: Manoel de Oliveira
Planif/Seq: Manoel de Oliveira
Fotografia: António Mendes
Direc de Som: Fernando Vernalde, Eder V. Frazão
Op Som: Luís V. Frazão
Música: (Versão Sonora) Luís de Freitas Branco
Montagem: Manoel de Oliveira
Exteriores: Porto
Data Rodagem: 1929/Set 1931
Distribuição: Agência Cinematográfica H. da Costa, Sociedade Portuguesa Actualidades Cinematográficas/SPAC
Antestreia: Salão Central V Congresso Internacional da Crítica, Lisboa
Data Antestreia: 21 Set 1931 Estreia: Tivoli

 
 

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