[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 29 de julho de 2015




Incompatibilidades de agenda [I]

[facebook, 07.06.2015]


No domínio da Música, perante várias solicitações em simultâneo, foi manifestamente ultrapassada a capacidade de estar presente em dois eventos programados para o derradeiro fim de semana, portanto, o do encerramento do Festival de Sintra.

E assim foi porque, também como já tive oportunidade de partilhar convosco, outras ‘atracções’ se me tinham previamente imposto em termos de agenda. Ou seja, quando o programa do Festival foi apresentado, já eu estava comprometido para estes dois dias 5 e 6 de Junho, com dois concertos do estupendo programa dos “Reencontros – Memórias Musicais de um Palácio”, no Palácio da Vila, para celebração da Música da Renascença e do Barroco, cujas primeiras impressões já vos transmiti através de posts anteriores.

Mesmo assim, a meio da tarde de ontem, ainda no âmbito do Festival, consegui ir ao Palácio de Monserrate para participar numa conferência muito interessante de Rodrigo Sobral Cunha subordinada ao tema “O Movimento Romântico em Sintra”, terceira e última ‘masterclasses’ enquadrada pelos designados ‘Contrapontos’. Porém, à noite, tal como na Sexta-feira, ser-me-ia impossível assistir à apresentação dos “Carmina Burana” de Carl Orff. Com muita pena, inclusive pela participação de Ana Paula Russo, soprano solista, que bem queria ter cumprimentado.
Onde Orff é para aqui chamado…

"A vida, sem música, seria um erro", é sentença de Friedrich Nietzsche que tenho conjugado durante toda a vida, qual Leitmotiv que me há-de acompanhar, estou em crer, até aos últimos momentos. Universalmente reconhecida pelas mais diversas culturas e civilizações como Arte máxima, demonstra-nos a História da Música que ela se confunde com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humanas.

No entanto, apesar de tantas evidências e encómios, «infelizes contextos» persistem, como o de Portugal, onde, com o devido peso específico, o Sistema Educativo ainda não reconhece à Música o estatuto de área absolutamente indispensável à Educação das crianças e dos jovens com o objectivo de se tornarem melhores indivíduos e cidadãos.

Gostaria de recordar um compositor que se confrontou com os mais interessantes problemas da pedagogia e didática musicais, Carl Orff (Munique, 10 de julho de 1895 — Munique, 29 de março de 1982) grande mestre alemão, um dos mais destacados do século XX - mundialmente conhecido pelos "Carmina Burana". Ora bem, aqui está ele, o mesmo que ontem o Festival de Sintra celebrou.

Contudo, o seu maior contributo para a História da Cultura e da Educação enquadra-se no contexto da pedagogia musical, com o 'Método Orff', baseado na percussão e no canto. Foi de tal ordem o seu empenho vital que, em 1925, criou um centro de educação musical para crianças, no qual trabalhou até aos últimos dias.

Pois bem, se não me foi possível ter ido a Queluz ouvir os “Carmina Burana”, irei hoje à tarde ao Coliseu participar no “Festival Foco Júnior 2015” em que o Método Orff será a grande vedeta. É verdade que o meu neto João frequenta um Jardim de Infância que privilegia esta pedagogia e, por isso, a família participa na festa.

Como Carl Orff é o grande homenageado, e eu vou lá estar, sinto-me totalmente 'compensado' pela falta de ontem.


Incompatibilidades de agenda [II]
Festival de Sintra, encerramento


Há poucas horas, escrevia eu que, ontem à noite, não me tinha sido possível ir assistir ao concerto de encerramento da 50ª edição do Festival de Sintra, por ter coincidido com um outro evento musical absolutamente imperdível, promovido pela Parques de Sintra, no Palácio da Vila, com o reputado agrupamento Capricio Stavagante, um dos maiores especialistas mundiais na interpretação de música dos períodos renas...centista e barroco. Escrevia eu:

"(...) Porém, à noite, tal como na Sexta-feira, ser-me-ia impossível assistir à apresentação dos “Carmina Burana” de Carl Orff. Com muita pena, inclusive pela participação de Ana Paula Russo, soprano solista, que bem queria ter cumprimentado. (...)"

Eis que, apanhado completamente desprevenido, e acabado de regressar do Coliseu, onde fui assistir ao espectáculo que referi no meu citado post, sou confrontado com o seguinte comentário de Ana Paula Russo:

"Amigo João De Oliveira Cachado, não se penitêncie porque, por motivos alheios aos solistas e ao coro, e de que não temos exacto conhecimento, não foram feitos os Carmina.
Gostaria de perceber como algo assim aconteceu e, mesmo assim, o público não foi avisado e a publicidade continuou a ser feita.
Mas não é de admirar porque, até a data, não recebi qualquer justificação por parte da produção do festival (e penso que os meus colegas também não). Apenas tive uma ou duas conversas pouco claras com o director do festival...
Acho mesmo alarmante que nunca tenha sido contactada pela produção para combinar ensaios e pormenores de produção - se não fosse o maestro do coro eu não sabia de nada. Como sei que aconteceu com outro colega meu que há dois dias apenas sabia que tinha uma concerto dia 6 e mais nada de nada (Nem ensaios, nem detalhes nem que tinha sido cancelado para data a anunciar)... "

Bem, estou tão estupefacto que não sei o que possa replicar. Desconheço em absoluto o que se terá passado. O testemunho de Ana Paula Russo - uma das mais notáveis vozes do canto lírico nacional, contratada como solista para a interpretação de uma obra à qual tem estado indissociavelmente ligada, sempre com a maior notoriedade e sucesso - a quem não foi dada uma palavra de explicação sobre o cancelamento, é de tal modo eloquente que apenas resta aguardar.
 
Para já, infelizmente, Sintra não está «nada bem no retrato». Sem precipitações de qualquer ordem, julgo ser de aguardar pelo esclarecimento que não pode deixar de se fundamentar em razões absolutamente inequívocas e determinantes de um desfecho tão bizarro.

Entretanto, à querida Ana Paula Russo, um abraço muito afectuoso, com a admiração de sempre, que, pode ter a certeza, é partilhado por todos quantos, em Sintra, tal como eu, a têm no maior apreço.

 

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