[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 31 de julho de 2015



Permito-me duvidar...

[facebook, 08.07.2015]

Acerca da interessante matéria objecto deste artigo, participei em debates e escrevi alguns textos sobre a realidade da existência de muitos milhares de professores de Português no ensino público e privado em Portugal que, apesar de terem entrado nas Faculdades de Letras sem quaisquer conhecimentos de Latim, o «sistema» lhes permitiu fizessem licenciaturas em Línguas e Literaturas Modernas, afins da possibilidade da docência, não só da língua materna mas também de outras línguas românicas e germânicas, cujo património genético latino é absolutamente determinante para as mais diferentes abordagens dos universos da didáctica e da pedagogia.

Sei como aconteceu mas custa-me muito aceitar que tais docentes, sem a devida preparação académica - por razões que, aliás, não lhes podem ser assacadas – desconheçam as particularidades da etimologia mais pertinente, ignorem os fenómenos de evolução fonética, não façam a mais pequena ideia do que seja semiologia e semiogonia, tão importantes para o estudo da história das palavras e dos conceitos com os quais articulam.

E naturalmente, lastimo que não possam disfrutar do privilégio dos seus colegas mais velhos que, tendo cursado as licenciaturas das Filologias Românica, Germânica e Clássica, estavam apetrechados de todos os instrumentos essenciais à partilha dos conhecimentos que os alunos têm direito no acesso às aprendizagens quer da língua materna quer das que se enquadram nas suas opções.

Oxalá ainda estejamos a tempo de corrigir percursos que, durante muitos anos, tanto se desviaram das vias essenciais. Colocam-se questões de método - palavra esta da herança helénica que, precisamente, significa 'caminho' – questões em que radicam princípios que qualquer docente de Português dos ensino básico e secundário deveria dominar, na medida em que, por exemplo, são indissociáveis, da defesa da dispensabilidade do famigerado acordo ortográfico.

Final e precisamente, acerca da pseudo-inevitabilidade da aceitação do AO, a verdade é que outra e bem diferente seria a situação actual neste domínio se, em tempo oportuno, os professores de Português das escolas portuguesas tivessem sabido opor-se à proposta de um acordo perfeitamente abstruso.

Por razões que também se articulam com a fragilidade dos vínculos contratuais que ligam os docentes ao Sistema Educativo, ou seja, devido ao medo de ficar sem trabalho que grassa pelas escolas nacionais, o Ministério da Educação encontrou um terreno propício à imposição de um AO que, além de manifestamente falho quanto às bases científicas, radica num rol de iniquidades que já fazem parte de uma história em que sobressai uma radical falta de dignidade.

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