14 de Agosto de 1385,
Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira,
São Nuno de Santa Maria
[Com algumas adaptações, a reprodução de um texto já com alguns anos, publicado no JS, no facebook e no blogue sintradoavesso. Neste último, poderão encontrar uma resumida biografia do Santo Condestável]
A figura de D. Nuno Álvares Pereira sempre me impressionou sobremaneira. Em especial e determinantemente, logo pelo facto de ter feito a instrução primária num externato em Belém cujo patrono era o Beato Nuno de Santa Maria, a histórica personagem passou a habitar o meu imaginário, muito de perto e desde garoto.
A Senhora D. Elisabeth Landeck, directora do colégio, não só era admiradora mas também verdadeiramente devota do Beato Nuno. E, meu Deus, como ela soube passar tal admiração e devoção! Por exemplo, o primeiro dia de aulas de cada ano lectivo, muito naturalmente, não podia deixar de contemplar a evocação do herói.
Com grande comoção, jamais faltava ao incendiado relato de D. Elisabeth aquela singular decisão de Álvares Pereira que, despojado dos bens materiais do mais poderoso proprietário de terras nacionais, se recolher ao Carmo em cumprimento do voto de pobreza, algo que me emocionava imenso, impressão fortíssima que, ainda hoje, permanece…
Em criança, aprendi que aquele guerreiro não era como os outros. Tendo que fazer a guerra, era senhor de uma inteligência e argúcia tais que, na estratégia seguida, sempre procurava fazer o menor número de vítimas tanto entre os seus como ao inimigo. E que era compassivo, um verdadeiro Cavaleiro no tratamento do adversário, derrotado, ferido ou moribundo, fazendo o possível por causar o menor mal e aliviando a dor, proibindo qualquer acto condenável de desrespeito pelos vencidos.
Um miliar, um guerreiro, pode ser santo? Pessoalmente, repudiando a guerra como o pior dos males que o homem pode infligir ao seu semelhante, não posso deixar de evidenciar a menor dúvida para a implícita e afirmativa resposta. E, de facto, perante os horrorosos exemplos que tenho tido conhecimento ao longo desta vida já a caminho dos setenta, a superior estirpe de humanidade de D. Nuno Álvares Pereira ainda mais exaltada permanece.
Depois da condição de Beato, a Igreja Católica reconheceu a sua santidade. Em 26 de Abril de 2009, durante a cerimónia, afirmou o Papa Emérito Bento XVI: "(...) Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus(...)".
Não tenho a menor dúvida de que esta insigne figura bem poderia ser olhada e considerada, em termos ecuménicos, como paradigma de atitude entre beligerantes de qualquer religião e latitude, em especial, por aqueles que invocam o santo nome de Deus para fazerem as suas ditas ‘santas’ guerras…
São Nuno de Santa Maria é o patrono da Infantaria. Há mais de quarenta anos, fui oficial miliciano deste ramo do Exército Português. Talvez entendam que, ao tempo, muitas vezes, tivesse pensado em Álvares Pereira, na tentativa de cumprir o melhor possível as tarefas em que me vi envolvido, numa fase tão difícil da minha vida e da vida nacional, mesmo 'em cima' do Vinte e Cinco de Abril.
Tendo feito a recruta, durante seis meses, na Escola Prática, muito reforçada saíu a minha já forte relação com a Vila de Mafra e com a figura do santo Condestável. Mais recentemente, como membro da equipa que concebeu e realizou o documentário biográfico “Marquesa de Cadaval, uma Vida de Cultura”, estreitei laços de amizade com a família, descendente directa de D. Nuno, em particular com os irmãos Teresa e Filipe Schönborn. Por isso, sempre que entro naquele Palácio da Quinta da Piedade, diante do retrato, a figura tutelar ainda mais se me impõe.
De algum modo, felizmente como acontecerá a muitos portugueses, também eu me sinto indissociavelmente «preso» a um dos nossos maiores. Em “Os Lusíadas”, não deve haver figura nacional que Camões mais tivesse citado. Aprendemos nós que o vate o faz quatorze vezes ao longo do poema. Prefiro o momento do Canto oitavo em que aponta a “(…) Ditosa Pátria que tal filho teve (…)".
Saber honrar a sua herança ética será sinal de sabedoria e maturidade.
Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira,
São Nuno de Santa Maria
[Com algumas adaptações, a reprodução de um texto já com alguns anos, publicado no JS, no facebook e no blogue sintradoavesso. Neste último, poderão encontrar uma resumida biografia do Santo Condestável]
A figura de D. Nuno Álvares Pereira sempre me impressionou sobremaneira. Em especial e determinantemente, logo pelo facto de ter feito a instrução primária num externato em Belém cujo patrono era o Beato Nuno de Santa Maria, a histórica personagem passou a habitar o meu imaginário, muito de perto e desde garoto.
A Senhora D. Elisabeth Landeck, directora do colégio, não só era admiradora mas também verdadeiramente devota do Beato Nuno. E, meu Deus, como ela soube passar tal admiração e devoção! Por exemplo, o primeiro dia de aulas de cada ano lectivo, muito naturalmente, não podia deixar de contemplar a evocação do herói.
Com grande comoção, jamais faltava ao incendiado relato de D. Elisabeth aquela singular decisão de Álvares Pereira que, despojado dos bens materiais do mais poderoso proprietário de terras nacionais, se recolher ao Carmo em cumprimento do voto de pobreza, algo que me emocionava imenso, impressão fortíssima que, ainda hoje, permanece…
Em criança, aprendi que aquele guerreiro não era como os outros. Tendo que fazer a guerra, era senhor de uma inteligência e argúcia tais que, na estratégia seguida, sempre procurava fazer o menor número de vítimas tanto entre os seus como ao inimigo. E que era compassivo, um verdadeiro Cavaleiro no tratamento do adversário, derrotado, ferido ou moribundo, fazendo o possível por causar o menor mal e aliviando a dor, proibindo qualquer acto condenável de desrespeito pelos vencidos.
Um miliar, um guerreiro, pode ser santo? Pessoalmente, repudiando a guerra como o pior dos males que o homem pode infligir ao seu semelhante, não posso deixar de evidenciar a menor dúvida para a implícita e afirmativa resposta. E, de facto, perante os horrorosos exemplos que tenho tido conhecimento ao longo desta vida já a caminho dos setenta, a superior estirpe de humanidade de D. Nuno Álvares Pereira ainda mais exaltada permanece.
Depois da condição de Beato, a Igreja Católica reconheceu a sua santidade. Em 26 de Abril de 2009, durante a cerimónia, afirmou o Papa Emérito Bento XVI: "(...) Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus(...)".
Não tenho a menor dúvida de que esta insigne figura bem poderia ser olhada e considerada, em termos ecuménicos, como paradigma de atitude entre beligerantes de qualquer religião e latitude, em especial, por aqueles que invocam o santo nome de Deus para fazerem as suas ditas ‘santas’ guerras…
São Nuno de Santa Maria é o patrono da Infantaria. Há mais de quarenta anos, fui oficial miliciano deste ramo do Exército Português. Talvez entendam que, ao tempo, muitas vezes, tivesse pensado em Álvares Pereira, na tentativa de cumprir o melhor possível as tarefas em que me vi envolvido, numa fase tão difícil da minha vida e da vida nacional, mesmo 'em cima' do Vinte e Cinco de Abril.
Tendo feito a recruta, durante seis meses, na Escola Prática, muito reforçada saíu a minha já forte relação com a Vila de Mafra e com a figura do santo Condestável. Mais recentemente, como membro da equipa que concebeu e realizou o documentário biográfico “Marquesa de Cadaval, uma Vida de Cultura”, estreitei laços de amizade com a família, descendente directa de D. Nuno, em particular com os irmãos Teresa e Filipe Schönborn. Por isso, sempre que entro naquele Palácio da Quinta da Piedade, diante do retrato, a figura tutelar ainda mais se me impõe.
De algum modo, felizmente como acontecerá a muitos portugueses, também eu me sinto indissociavelmente «preso» a um dos nossos maiores. Em “Os Lusíadas”, não deve haver figura nacional que Camões mais tivesse citado. Aprendemos nós que o vate o faz quatorze vezes ao longo do poema. Prefiro o momento do Canto oitavo em que aponta a “(…) Ditosa Pátria que tal filho teve (…)".
Saber honrar a sua herança ética será sinal de sabedoria e maturidade.
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