[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 23 de setembro de 2015



23 de Setembro
Primeiro dia de Outono,
meia hora da melhor música de todos os tempos


 
Joseph Haydn,
Die Jahreszeiten [As Estações] - Der Herbst, O Outono



Esta é a obra que, em dia tão especial, me agrada partilhar convosco, não na sua totalidade mas, tão somente, a parte correspondente ao Outono. Die Jahreszeiten, [As Estações], é uma oratória em quatro partes, Hob.XXI, 3 de Joseph Haydn, com libreto do Barão Gottfried van Switten, segundo um poema de James Thomson, traduzido por Brockes. A obra foi composta entre 1799-1801 e, apesar de o autógrafo ter desaparecido, existe em Viena uma cópia corrigida pelo próprio compositor.

A primeira apresentação aconteceu em privado, no palácio Schwarzenberg, em 24 de Maio de 1801 e a estreia pouco mais de um mês depois, em 29 de Maio, no Burgtheater, ambas em Viena. Com o objectivo de lembrar as linhas mestras do «enredo», apenas notas muito sumárias.

Os solistas encarnam três camponeses, Hanne, Lukas e Simon que vivem o desenvolvimento das quatro estações, através das quatro componentes concebidas por Haydn, cada uma das quais precedida por uma introdução sinfónica. Van Switten não foi particularmente feliz com o texto, um mero encadeamento de quatro poemas de cantatas que o compositor considerou «uma vulgaridade à francesa».

Fosse como fosse, Haydn compôs uma peça esplêndida, com uma unidade e um cunho dramático verdadeiramente notáveis, numa sofisticada articulação entre temas populares e eruditos, de canções tradicionais, coro de pastores e de fiadeiras, um compósito mosaico servido por uma partitura ainda mais brilhante que a da "Criação", muito embora se tivesse esgotado, com risco da própria saúde.

Sucedem-se os momentos de especial efeito, com grandes frescos corais, como a fuga final da Primavera, a divertida fuga dos vindimadores no Outono ou a grande fuga final do Inverno, considerada por vários musicólogos como uma das mais belas páginas de toda a obra de Haydn. Mas, ainda outras passagens, como a cavatina de Lukas “dem druck erliegt die Natur” no Verão, a canção de Hanne, lembrando Papageno, no Inverno ou ainda as grandes peças descritivas, tais como o nascer do Sol e tempestado no erão, hino ao trabalho, caça e vindima no Outono são marcos indeléveis.
 
Bem pode afirmar-se que As Estações fecham com chave de ouro a carreira de Haydn. Mesmo no início de oitocentos, há quem nela veja a primeira grande obra romântica do século dezanove, prenunciando Freischütz e O Navio Fantasma. Parece-me que afirmá-lo não é grande ousadia.

Então, nesta data tão especial do primeiro dia de Outono, uma preciosa interpretação da Haydn Society of Boston sob a direcção de Sir Roger Norrington. A vossa atenção para os momentos que aludi, em particular, a cena de caça, em que Haydn introduz fanfarras austríacas e francesas - Le Débuché, Le Vol-ce-l’est, L’Hallali sur pied. Igualmente, insere o tema do segundo andamento da sua Sinfonia no. 94, A Surpresa, sob a forma de ária – Schon eilet froh der Ackersmann. 

Sem dúvida alguma, esta é uma das mais cativantes páginas da História da Música da transição do período Clássico para o Romântico.  

A distribuição das vozes é a seguinte:

• Hannah: Sally Matthews
• Lukas: James Gilchrist
• Simon: Jonathan Lemalu


Boa Audição!
 
 
__ Haydn: Die Jahreszeiten, oratorio, H. 21/3 • Hannah: Sally Matthews • Lukas: James Gilchrist •...
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