[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 8 de setembro de 2015



8 de Setembro,
Dia Internacional da Alfabetização
Preocupantes números


Na ponta mais meridional da Europa, quando nos esforçamos por melhor entender o caso português, logo deparamos com um quadro cujos contornos, além de negativos, se evidenciam com assinalável persistência. De facto, que evolução poderá ter existido se, em 1900, cerca de setenta por cento da população era analfabeta e, três quartos de século depois, tal percentagem era próxima dos trinta por cento?

Mais ou menos trinta por cento, em 1974? Será necessário recordar que trinta por cento era a taxa de analfabetismo que países como a Irlanda ou a Áustria apresentavam na última década do século dezanove, praticamente cem anos antes?

No que respeita às tentativas de remediação da situação depois do 25 de Abril, cumpre lembrar as generosas e inúmeras iniciativas de alfabetização promovidas e protagonizadas, entre outros, por intelectuais, professores, estudantes e militares dos três ramos das forças armadas.

Foi necessário, contudo, aguardar cinco anos para que, por unanimidade, o Parlamento tivesse aprovado a Lei 3/79 de 10 de Janeiro e, com ela, apresentasse o Plano Nacional de Alfabetização e Educação de Base dos Adultos [PNAEBA] cujo Relatório de Síntese, datado de Junho do mesmo ano, sistematizou e, grosso modo, apontou o fim da década seguinte para irradicação do analfabetismo.

Foram investidos recursos muito significativos e montada uma estrutura nacional, dotada dos indispensáveis meios materiais e recursos humanos. Muito, muito se fez mas também muito ficou por fazer, razão pela qual Portugal ainda é um país em que a Educação de Base de Adultos se impõe de modo determinante.

Com uma preocupante incidência de mais de vinte por cento dos cidadãos vivendo no limiar da pobreza e, pasme-se, com a mais elevada taxa de analfabetismo de todos os países da Europa a 28, será que surpreendem as marcas de subdesenvolvimento?

Aliás, para bem de todos, a verdade dos baixos índices socioculturais portugueses deveria ser devidamente partilhada, tanto a nível nacional como na UE. Ora bem, não é, está longe de ser e isso só prejudica o país que, nem se mobiliza internamente nem é objecto da solidariedade europeia na dimensão de que carece.

Finalmente, outra realidade não menos preocupante se vai perfilando. Refiro-me à literacia cuja definição remete para as capacidades de processamento da informação escrita na vida quotidiana. Trata-se das capacidades de leitura, escrita e cálculo com base em textos, documentos, gráficos, de uso corrente na vida social, profissional e pessoal.

Pois bem, importa assumir que 47,3% da população portuguesa se distribui pelos níveis 0 (zero) e 1 (um), ou seja, correspondentes à mais radical indigência da literacia. São números tremendos, quase metade da população!... Na realidade, o analfabetismo surge com outros e radicalmente novos desafios aos quais preciso é responder, quanto antes, integradamente, com todos os recursos disponíveis.

 

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