27 de Outubro de 1914
Nascimento de Dylan Thomas (m. 1953)
[facebook, 27.10.2015]
Há cinquenta anos, em Letras, no primeiro ano da Faculdade, o poeta Tomaz Kim - pseudónimo de Joaquim Fernandes Tomás Monteiro Grilo, professor de Teoria da Literatura, a quem devo os maiores tesouros de descoberta da nova Poesia - dava-me a conhecer o portento. De tal modo desassossegou os me meus dezassete anos de então que não mais deixou de jorrar a sua verve. Permanente espanto. Até hoje.
Eis "Light breaks where no sun shines" de Dylan Thomas e, de seguida, a tradução por Jorge de Sena.
Light breaks where no sun shines;
Where no sea runs, the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the flesh where no flesh decks the bones.
A candle in the thighs
Warms youth and seed and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the candle shows its hairs.
Dawn breaks behind the eyes;
From poles of skull and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile the oil of tears.
Night in the sockets rounds,
Like some pitch moon, the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the skinning gales unpin
The winter’s robes;
The film of spring is hanging from the lids.
Light breaks on secret lots,
On tips of thought where thoughts smell in the rain;
When logics die,
The secret of the soil grows through the eye,
And blood jumps in the sun;
Above the waste allotments the dawn halts.
[Tradução por Jorge de Sena]
A luz rompe onde o sol não brilha;
Onde o mar não corre, as águas do coração
Avançam suas marés;
E, quebrados espectros com pirilampos nas cabeças.
As coisas da luz
Insinuam-se na carne onde carne não cobre os ossos.
Um círio entre as pernas
Aquece a juventude e o sémen e queima o sémen da idade;
Onde sémen se não agita,
O fruto do homem incha nas estrelas,
Brilhante como um figo;
Onde cera não há, o círio mostra os seus cabelos.
A alvorada rompe atrás dos olhos;
De mastros do crânio e dedos dos pés o soprante sangue
Desliza como um mar;
Sem muros nem estacadas, os borbotões do céu
Esguicham para a vara do vedor
Num sorriso o óleo das lágrimas.
A noite nas órbitas arredondada,
Como uma luz de paz, o limite dos globos;
O dia acende o osso;
Onde frio não há, as ventanias desprendem
As vestes do Inverno;
A película da Primavera pende nas pálpebras.
A luz rompe em lotes secretos,
Em pontas do pensar onde os pensamentos cheiram mal na chuva;
Quando a lógica morre,
O segredo do solo cresce pelos olhos dentro,
E o sangue salta ao sol;
Por sobre os terrenos vagos a alvorada pára.
Light breaks where no sun shines;
Where no sea runs, the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the flesh where no flesh decks the bones.
A candle in the thighs
Warms youth and seed and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the candle shows its hairs.
Dawn breaks behind the eyes;
From poles of skull and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile the oil of tears.
Night in the sockets rounds,
Like some pitch moon, the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the skinning gales unpin
The winter’s robes;
The film of spring is hanging from the lids.
Light breaks on secret lots,
On tips of thought where thoughts smell in the rain;
When logics die,
The secret of the soil grows through the eye,
And blood jumps in the sun;
Above the waste allotments the dawn halts.
[Tradução por Jorge de Sena]
A luz rompe onde o sol não brilha;
Onde o mar não corre, as águas do coração
Avançam suas marés;
E, quebrados espectros com pirilampos nas cabeças.
As coisas da luz
Insinuam-se na carne onde carne não cobre os ossos.
Um círio entre as pernas
Aquece a juventude e o sémen e queima o sémen da idade;
Onde sémen se não agita,
O fruto do homem incha nas estrelas,
Brilhante como um figo;
Onde cera não há, o círio mostra os seus cabelos.
A alvorada rompe atrás dos olhos;
De mastros do crânio e dedos dos pés o soprante sangue
Desliza como um mar;
Sem muros nem estacadas, os borbotões do céu
Esguicham para a vara do vedor
Num sorriso o óleo das lágrimas.
A noite nas órbitas arredondada,
Como uma luz de paz, o limite dos globos;
O dia acende o osso;
Onde frio não há, as ventanias desprendem
As vestes do Inverno;
A película da Primavera pende nas pálpebras.
A luz rompe em lotes secretos,
Em pontas do pensar onde os pensamentos cheiram mal na chuva;
Quando a lógica morre,
O segredo do solo cresce pelos olhos dentro,
E o sangue salta ao sol;
Por sobre os terrenos vagos a alvorada pára.
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