29 de Outubro de 1816
Nascimento de Fernando de Sax-Coburg-Gotha
[publicado no facebook em 29.10.2015]
Aniversário do Senhor D. Fernando II, no ano em que também passam 130 anos sobre a sua morte e, hoje, precisamente um ano antes de se comemorar os 200 anos do seu nascimento.
Será verdade que, para mim, as efemérides não são letra morta. Este mural bem-no atesta contemplando-as diariamente. À minha modesta escala e possibilidades, celebro-as e, com essa atitude, pelo menos junto daqueles que me são mais próximos, contrbuo para que se mantenha viva a memória.
Em Sintra, a celebração da memória do rei D. Fernando II, ou é muito bissexta ou, pura e simplesmente, omissa. Hoje, por exemplo, a nível de comemorações oficiais, se algo está preparado, não tenho conhecimento e, portanto, mesmo que viesse a acontecer, teria sido mal divulgado.
Na Escola D. Fernando II, aqui na Estefânea - a mesma Estefânea que foi mulher de D. Pedro V e, portanto, nora do Rei consorte - não hoje mas em próxima oportunidade, irei conversar com os meninos de uma turma do 6º ano acerca do patrono daquela casa. Lá está, tão só, ao nível do que me é possivel.
Não entendo, francamente não entendo como pode suceder que, tanto lhe devendo, esta terra, não consiga promover, anual e pontualmente, as celebrações mínimas que lhe são devidas. Trata-se de um défice interessante de analisar que, convenhamos, ultrapassa os casos de Sintra e da personagem em questão.
Permitam que, mais uma vez, me socorra de um texto publicado no 'Jornal de Sintra' em 2006, ao qual acrescentei a proposta final de audição de uma peça musical que tudo tem a ver com o texto, com o Senhor D. Fernando II, com a grande Música e com a Cultura ocidental judaico-cristã, nossa europeia matriz de absoluta referência.
___________
D. Fernando II
Pobre artista! Pobre rei!
[transcrição de um texto publicado no 'Jornal de Sintra' em 2006, com proposta final de audição de uma peça musical]
Há muitos anos que, para mim, o 29 de Outubro é subordinado à memória de Fernando de Sax-Coburg-Gotha (Coburg, 29.10.1816 - Lisboa, 15.12.1885), um dos homens que mais decisivamente marcou a segunda metade do século dezanove em Portugal, especialmente no âmbito da defesa e recuperação do património.
Muitas são as histórias e os episódios de salvaguarda de peças de valor patrimonial inestimável, in extremis resgatadas ao destino da pura e simples destruição, não fosse a sua directa intervenção. Um verdadeiro diletante, homem informado e de grande cultura, artista ele próprio, grande amante da Música, cantor, pintor de gabarito, tão impressiva foi a marca da sua atitude e actividades que ainda hoje é lembrado sob o epíteto de rei artista.
"(...) Pobre artista! Pobre rei!" É com estas exclamações que Ramalho Ortigão termina o texto subordinado ao título O Rei D. Fernando.* Estas palavras são precedidas por vinte páginas de uma homenagem que, passados que já são cento e vinte um anos sobre a sua escrita, ainda hoje continuam a funcionar como pretexto para que os portugueses melhor se reconheçam, quando lhes dá para o farisaísmo, mesquinhez, ordinarice, inveja, na acabada demonstração da incapacidade de se organizarem à volta dos seus mais autênticos interesses.
Animação da Leitura...
Quem ainda não leu aquelas estupendas linhas de "As Farpas" e julga conhecer a grande e a pequena História de Sintra, em especial no que se refere ao legado da Pena, não sabe o que tem andado a perder. Ramalho Ortigão escreveu-as, na sequência da morte do Senhor D. Fernando, a quente, reagindo à hipocrisia de uma data de ignorantes que, ao fim e ao cabo, ainda andam por aí. Ou ainda não terão notado? Verão a razão que me assiste quando as lerem.
Uma das maneiras para melhor comemorar a efeméride, não tenho a mínima dúvida, passa pela leitura de texto tão recomendável, que tanto proveito e gozo estético proporcionará a quem seguir o concelho deste humilde escriba que se atreve, não só ao beija-mão real, mas também à evocação de um escritor maior de oitocentos. Nos dias que correm, passe a presunção, não é façanha menor...
Animação da Música...
Mas ainda não vos deixo sem outra recomendação que, aliás é suscitada pela leitura que recomendo: "(...) E, instalando-se num fauteuil, ao fundo da sala de música, [D.Fernando] cantou-lhe ao piano, à mais larga expressão elegíaca da sua extensa voz de baixo cantante, A Criação, de Haydn (...)"
Ouçam essa outra obra-prima. Mesmo que já conheçam a oratória "A Criação", não deixem de repetir. Dêem-se ao luxo de participar naquele momento sublime da História da Música que cioincide com a fracção de Tempo em que, no Espaço do caos, a luz se fez. O grande Haydn, introduzido pelo próprio Mozart na Maçonaria, deixa nesta obra o seu mais alto contributo para o brilhante acervo artístico da Augusta Ordem. Ouçam. Repitam.
Ainda vos escreverei que, durante alguns anos de luto, pelo que estava a acontecer no Parque da Pena, especialmente sob a desastrada administração do biólogo Serra Lopes, pedia eu a Brahms que, com o seu "Ein Deutsches Requiem", me acompanhasse na celebração da efeméride fernandina. Como sabem, trata-se de um Requiem profano, já que não segue o cânone cristão. Mas raramente, música e textos, do Antigo e Novo Testamentos, traduzidos por Lutero, tão bem encontraram um caminho comum para celebrar a Morte das coisas e das pessoas.
...e Animação da Arte, em geral
Mas, por favor, nada de misturas. Em primeiro lugar, leiam. Depois, escutem as músicas. Não façam como tanta e tão boa gente, que afirma precisar da Música como fundo para a concretização de outras actividades culturais, como a leitura da Literatura, por exemplo. Se querem saber, eu sou completamente contra. É que tanto a Literatura como a Música são tão exigentes de concentração, que o leitor-simultaneamente-ouvinte, mesmo de obras literárias e musicasis afins, com certeza, perderá inúmeros aspectos de uma e outra obras de Arte.
Hoje, em memória de um pobre rei, em memória de um pobre artista, saibamos conceder-nos o benefício da Arte e, muito a propósito, lembremos o horaciano 'carpe diem' que, ao contrário do que alguns consideram bem interpretar, nada tem de aconselhamento à facilidade. E facilidade foi coisa que D. Fernando jamais promoveu embora tivesse sabido muito bem aproveitar os dias da sua passagem por aqui.
(*) RAMALHO ORTIGÃO, José Duarte, O Rei D. Fernando, in As Farpas, Obras Completas de Ramalho Ortigão, tomo III, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1969
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Fim de citação. Apenas uma proposta final para vos pôr a vibrar comigo e com o senhor D. Fernando II. Como não podia deixar de ser, de acordo com a preferência do homenageado, aqui vos deixo com os momentos "A Criação" de Joseph Haydn, na estupenda leitura de Pinnock, dirigindo a Orchestra of the Age of Enlightenment, com os solistas • Christina Landshamer: soprano • Toby Spence: tenor e • Matthew Rose: barítono.
Ficam com a obra integral, uma das mais fabulosas realizações não só da Música mas também da Arte de todos os tempos, que bem atesta o sofisticado gosto do homem de cultura que era D. Fernando. Não se fiquem pelos momentos iniciais e, por aquela célebre explosão que, nesta gravação ocorre, precisamente, aos 8 minutos..
Boa audição!
Nascimento de Fernando de Sax-Coburg-Gotha
[publicado no facebook em 29.10.2015]
Aniversário do Senhor D. Fernando II, no ano em que também passam 130 anos sobre a sua morte e, hoje, precisamente um ano antes de se comemorar os 200 anos do seu nascimento.
Será verdade que, para mim, as efemérides não são letra morta. Este mural bem-no atesta contemplando-as diariamente. À minha modesta escala e possibilidades, celebro-as e, com essa atitude, pelo menos junto daqueles que me são mais próximos, contrbuo para que se mantenha viva a memória.
Em Sintra, a celebração da memória do rei D. Fernando II, ou é muito bissexta ou, pura e simplesmente, omissa. Hoje, por exemplo, a nível de comemorações oficiais, se algo está preparado, não tenho conhecimento e, portanto, mesmo que viesse a acontecer, teria sido mal divulgado.
Na Escola D. Fernando II, aqui na Estefânea - a mesma Estefânea que foi mulher de D. Pedro V e, portanto, nora do Rei consorte - não hoje mas em próxima oportunidade, irei conversar com os meninos de uma turma do 6º ano acerca do patrono daquela casa. Lá está, tão só, ao nível do que me é possivel.
Não entendo, francamente não entendo como pode suceder que, tanto lhe devendo, esta terra, não consiga promover, anual e pontualmente, as celebrações mínimas que lhe são devidas. Trata-se de um défice interessante de analisar que, convenhamos, ultrapassa os casos de Sintra e da personagem em questão.
Permitam que, mais uma vez, me socorra de um texto publicado no 'Jornal de Sintra' em 2006, ao qual acrescentei a proposta final de audição de uma peça musical que tudo tem a ver com o texto, com o Senhor D. Fernando II, com a grande Música e com a Cultura ocidental judaico-cristã, nossa europeia matriz de absoluta referência.
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D. Fernando II
Pobre artista! Pobre rei!
[transcrição de um texto publicado no 'Jornal de Sintra' em 2006, com proposta final de audição de uma peça musical]
Há muitos anos que, para mim, o 29 de Outubro é subordinado à memória de Fernando de Sax-Coburg-Gotha (Coburg, 29.10.1816 - Lisboa, 15.12.1885), um dos homens que mais decisivamente marcou a segunda metade do século dezanove em Portugal, especialmente no âmbito da defesa e recuperação do património.
Muitas são as histórias e os episódios de salvaguarda de peças de valor patrimonial inestimável, in extremis resgatadas ao destino da pura e simples destruição, não fosse a sua directa intervenção. Um verdadeiro diletante, homem informado e de grande cultura, artista ele próprio, grande amante da Música, cantor, pintor de gabarito, tão impressiva foi a marca da sua atitude e actividades que ainda hoje é lembrado sob o epíteto de rei artista.
"(...) Pobre artista! Pobre rei!" É com estas exclamações que Ramalho Ortigão termina o texto subordinado ao título O Rei D. Fernando.* Estas palavras são precedidas por vinte páginas de uma homenagem que, passados que já são cento e vinte um anos sobre a sua escrita, ainda hoje continuam a funcionar como pretexto para que os portugueses melhor se reconheçam, quando lhes dá para o farisaísmo, mesquinhez, ordinarice, inveja, na acabada demonstração da incapacidade de se organizarem à volta dos seus mais autênticos interesses.
Animação da Leitura...
Quem ainda não leu aquelas estupendas linhas de "As Farpas" e julga conhecer a grande e a pequena História de Sintra, em especial no que se refere ao legado da Pena, não sabe o que tem andado a perder. Ramalho Ortigão escreveu-as, na sequência da morte do Senhor D. Fernando, a quente, reagindo à hipocrisia de uma data de ignorantes que, ao fim e ao cabo, ainda andam por aí. Ou ainda não terão notado? Verão a razão que me assiste quando as lerem.
Uma das maneiras para melhor comemorar a efeméride, não tenho a mínima dúvida, passa pela leitura de texto tão recomendável, que tanto proveito e gozo estético proporcionará a quem seguir o concelho deste humilde escriba que se atreve, não só ao beija-mão real, mas também à evocação de um escritor maior de oitocentos. Nos dias que correm, passe a presunção, não é façanha menor...
Animação da Música...
Mas ainda não vos deixo sem outra recomendação que, aliás é suscitada pela leitura que recomendo: "(...) E, instalando-se num fauteuil, ao fundo da sala de música, [D.Fernando] cantou-lhe ao piano, à mais larga expressão elegíaca da sua extensa voz de baixo cantante, A Criação, de Haydn (...)"
Ouçam essa outra obra-prima. Mesmo que já conheçam a oratória "A Criação", não deixem de repetir. Dêem-se ao luxo de participar naquele momento sublime da História da Música que cioincide com a fracção de Tempo em que, no Espaço do caos, a luz se fez. O grande Haydn, introduzido pelo próprio Mozart na Maçonaria, deixa nesta obra o seu mais alto contributo para o brilhante acervo artístico da Augusta Ordem. Ouçam. Repitam.
Ainda vos escreverei que, durante alguns anos de luto, pelo que estava a acontecer no Parque da Pena, especialmente sob a desastrada administração do biólogo Serra Lopes, pedia eu a Brahms que, com o seu "Ein Deutsches Requiem", me acompanhasse na celebração da efeméride fernandina. Como sabem, trata-se de um Requiem profano, já que não segue o cânone cristão. Mas raramente, música e textos, do Antigo e Novo Testamentos, traduzidos por Lutero, tão bem encontraram um caminho comum para celebrar a Morte das coisas e das pessoas.
...e Animação da Arte, em geral
Mas, por favor, nada de misturas. Em primeiro lugar, leiam. Depois, escutem as músicas. Não façam como tanta e tão boa gente, que afirma precisar da Música como fundo para a concretização de outras actividades culturais, como a leitura da Literatura, por exemplo. Se querem saber, eu sou completamente contra. É que tanto a Literatura como a Música são tão exigentes de concentração, que o leitor-simultaneamente-ouvinte, mesmo de obras literárias e musicasis afins, com certeza, perderá inúmeros aspectos de uma e outra obras de Arte.
Hoje, em memória de um pobre rei, em memória de um pobre artista, saibamos conceder-nos o benefício da Arte e, muito a propósito, lembremos o horaciano 'carpe diem' que, ao contrário do que alguns consideram bem interpretar, nada tem de aconselhamento à facilidade. E facilidade foi coisa que D. Fernando jamais promoveu embora tivesse sabido muito bem aproveitar os dias da sua passagem por aqui.
(*) RAMALHO ORTIGÃO, José Duarte, O Rei D. Fernando, in As Farpas, Obras Completas de Ramalho Ortigão, tomo III, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1969
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Fim de citação. Apenas uma proposta final para vos pôr a vibrar comigo e com o senhor D. Fernando II. Como não podia deixar de ser, de acordo com a preferência do homenageado, aqui vos deixo com os momentos "A Criação" de Joseph Haydn, na estupenda leitura de Pinnock, dirigindo a Orchestra of the Age of Enlightenment, com os solistas • Christina Landshamer: soprano • Toby Spence: tenor e • Matthew Rose: barítono.
Ficam com a obra integral, uma das mais fabulosas realizações não só da Música mas também da Arte de todos os tempos, que bem atesta o sofisticado gosto do homem de cultura que era D. Fernando. Não se fiquem pelos momentos iniciais e, por aquela célebre explosão que, nesta gravação ocorre, precisamente, aos 8 minutos..
Boa audição!
__ Haydn: Die Schöpfung, oratorio in three parts, Hob. XXI:2 • Christina Landshamer: soprano • Toby…
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