[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 14 de novembro de 2015



Uma «Sinfonia» à esquerda

[publicado no facebook em 10.11.2015]

Já acederam às reacções que vão por essa Europa fora acerca das horas históricas que estamos a viver no Parlamento de São Bento? Pois, ao conhecê-las, cada vez estou mais convencido de que o exemplo português, depois do que se passou e está a passar na Grécia, vai promover um abanão muito significativo no instabilíssimo equilíbrio que se tem vivido nas designadas «instituições europeias».

Há décadas a viver uma vida «economico-financeira de-faz-de-conta-que-está-tudo-bem», acabada imagem de avestruz com a cabeça sob a areia, a Europa - nomeadamente, o eixo Paris-Berlin - está habituada a um 'quero, posso e mando' que, num primeiro andamento, Atenas soube pôr de sobreaviso de maneira magistral.

Depois dos resultados das eleições legislativas em Portugal e do subsequente histórico acordo que, hoje mesmo, a esquerda formal portuguesa assinará, comprometendo-se com um entendimento que parece ter condições para sustentar a legislatura agora iniciada, também começa o segundo dos andamentos do acordo, ou seja, em grego, da «sinfonia» [συμφωνία].

Estou em crer na previsibilidade de uma Europa que poderá começar a tocar uma «sinfonia de esquerda», um grande acordo de esquerda, se souber concentrar alianças e esforços para fazer frente aos «mercados» que, por natureza, são apátridas, imorais, amorais e a assumpção mais radical dos valores que o Papa Francisco não se cansa de lembrar como sendo os da «economia que mata».

O actual governo espanhol já receia o que, por via do «exemplo ao seu lado» poderá bater à porta já nas próximas. eleições. No Reino Unido, o Partido Trabalhista acabou de eleger um líder que saberá aproveitar a onda que começa a subir das costas meridionais. Portugal, a Grécia, a Itália - que só está à espera deste importante empurrão - a Espanha, num próximo futuro, a França que não quererá perder a oportunidade de se posicionar como fortíssimo interlocutor com o centro e norte europeus, a Irlanda, a Islândia, como periféricos a Norte, todos podem constituir um seríssimo dique, para cá do qual se lute pelo enquadramento mais conveniente à renegociação das dívidas respectivas, cada vez mais incomportáveis.

Permitam que cite as palavras que subscrevi num post aqui ontem publicado, subordinado ao título "Histórico":

"(...) Momentos históricos? Sem dúvida alguma e na certeza absoluta de que a ribalta está a abarrotar de quem tudo vai fazer para destruir uma solução com pés para andar e, inclusive, de contribuir para as profundas mudanças no centro-esquerda e na esquerda europeia. Sem essas mudanças político-partidárias não vingará o designado projecto europeu, tão compósito, complexo e desafiante."

Enfim, esta é a minha esperança que se mescla com laivos de convicção. Se nos assistir a lucidez bastante, talvez consigamos dar os certos passos que tantos, tantos, poderão aproveitar, se não como exemplo, pelo menos, como significativos marcos para reflexão.


 

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