O 10 de Dezembro
com as Goldberg no novelo da amizade
[publicado em 10 de Dezembro de 2015]
Há muitos anos, o 10 de Dezembro assinala uma data tão especial que, provavelmente, nem sequer aqui a deveria expor. Penso eu que os nossos maiores tesouros devem manter-se sob reserva. Sem fotos, sem mundo, sem ribalta de espécie alguma. Tal é o caso do aniversário da Margarida Bénard da Costa, um 10 de Dezembro que se me cola como a mais solene data anual de celebração da amizade, da maior amizade.
Então, o Bach neste contexto? Diria que a Guidinha tem Bach nos cromossomas. A sua é uma genealogia em que muitos de nós nos incluímos, irmãos, portanto, herdeiros comuns de um legado que continua a deslumbrar como no primeiro dia da apresentação da obra fascinante que venho partilhar.
Trago-lhe o «seu» Bach, não através de uma entre as mais conhecidas e tidas como excepcionais abordagens, mas daquela que, pelas mãos de Landowska, não posso deixar de considerar como uma epifania. Aqui, também muito viva, a memória de meu pai que soube ensinar-me a grandeza daquela que ele próprio cognominou como 'la grande polonaise brillante'...
____________________________
Para que conste, passo a traduzir as intenções de J.S. Bach, em relação às "Variações Goldberg, BWV 988":
“Quarta parte dos ‘Clavier Übung’, compondo-se de uma ária com diferentes variações para o cravo com dois teclados. Composto em intenção dos amadores para o prazer dos seus espíritos (…).”
E, para que não haja a mínima dúvida a menção ’para dois teclados’, pois ela figura em cabeçalho das variações nos. 11, 13, 14, 17, 20, 23, 25, 26, 27 e 28; a menção ‘a 1 ovvero 2 Clav’ em cabeçalho das variações nos. 5, 7 e 29; as restantes trazem a menção ‘a 1 Clav’.
Quando Bach entendia precisar, muito especificamente, do instrumento para o qual compusera determinada obra, fazia-o tal qual como no caso vertente. Significa isto que, em relação às “Variações Goldberg”, o compositor não podia ter sido mais peremptório.
Por exemplo, já quanto ao “Das Wohltemperierte Clavier” [O Teclado bem Temperado, Livros I e II, BWV 846-893], a palavra ‘Clavier’ (sempre assim grafada, não com 'k') designa, sem especificação, o instrumento de teclas sem que se possa concluir, inequivocamente, se Bach terá pensado primeiro no cravo ou no clavicórdio, ou no órgão para algumas peças ou mesmo no novo pianoforte para outras…
A verdade, porém, é que os modernos pianos se adaptam muito bem aos desígnios do compositor. Daí que, hoje em dia, se tenham vulgarizado as versões para piano das “Variações Goldberg”, avultando as duas de Glenn Gould. Não serei desmancha-prazeres mas prefiro outras, por exemplo, de András Schiff ou de Angela Hewitt.
«A» interpretação
Contudo, nada me consegue desviar do propósito inicial de Bach. O Cravo, inequívoco! Daí que vos proponha a leitura absolutamente definitiva da inultrapassável – não, não tenho mais adjectivos... – Wanda Landowska.
Por favor, a última coisa em que devem reparar é na qualidade da gravação… Pois, de 1933, mas perfeitamente inteligível e concludente quanto à suprema qualidade da interpretação. Bach, nas mãos de Landowska é uma epifania.
Quanto à estrutura, enquadramento e curiosidades acerca das "Variações Goldberg" já me aturaram noutras oportunidades. E, sem mais delongas, a peça e «a» interpretação!
Boa audição!
com as Goldberg no novelo da amizade
[publicado em 10 de Dezembro de 2015]
Há muitos anos, o 10 de Dezembro assinala uma data tão especial que, provavelmente, nem sequer aqui a deveria expor. Penso eu que os nossos maiores tesouros devem manter-se sob reserva. Sem fotos, sem mundo, sem ribalta de espécie alguma. Tal é o caso do aniversário da Margarida Bénard da Costa, um 10 de Dezembro que se me cola como a mais solene data anual de celebração da amizade, da maior amizade.
Então, o Bach neste contexto? Diria que a Guidinha tem Bach nos cromossomas. A sua é uma genealogia em que muitos de nós nos incluímos, irmãos, portanto, herdeiros comuns de um legado que continua a deslumbrar como no primeiro dia da apresentação da obra fascinante que venho partilhar.
Trago-lhe o «seu» Bach, não através de uma entre as mais conhecidas e tidas como excepcionais abordagens, mas daquela que, pelas mãos de Landowska, não posso deixar de considerar como uma epifania. Aqui, também muito viva, a memória de meu pai que soube ensinar-me a grandeza daquela que ele próprio cognominou como 'la grande polonaise brillante'...
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Para que conste, passo a traduzir as intenções de J.S. Bach, em relação às "Variações Goldberg, BWV 988":
“Quarta parte dos ‘Clavier Übung’, compondo-se de uma ária com diferentes variações para o cravo com dois teclados. Composto em intenção dos amadores para o prazer dos seus espíritos (…).”
E, para que não haja a mínima dúvida a menção ’para dois teclados’, pois ela figura em cabeçalho das variações nos. 11, 13, 14, 17, 20, 23, 25, 26, 27 e 28; a menção ‘a 1 ovvero 2 Clav’ em cabeçalho das variações nos. 5, 7 e 29; as restantes trazem a menção ‘a 1 Clav’.
Quando Bach entendia precisar, muito especificamente, do instrumento para o qual compusera determinada obra, fazia-o tal qual como no caso vertente. Significa isto que, em relação às “Variações Goldberg”, o compositor não podia ter sido mais peremptório.
Por exemplo, já quanto ao “Das Wohltemperierte Clavier” [O Teclado bem Temperado, Livros I e II, BWV 846-893], a palavra ‘Clavier’ (sempre assim grafada, não com 'k') designa, sem especificação, o instrumento de teclas sem que se possa concluir, inequivocamente, se Bach terá pensado primeiro no cravo ou no clavicórdio, ou no órgão para algumas peças ou mesmo no novo pianoforte para outras…
A verdade, porém, é que os modernos pianos se adaptam muito bem aos desígnios do compositor. Daí que, hoje em dia, se tenham vulgarizado as versões para piano das “Variações Goldberg”, avultando as duas de Glenn Gould. Não serei desmancha-prazeres mas prefiro outras, por exemplo, de András Schiff ou de Angela Hewitt.
«A» interpretação
Contudo, nada me consegue desviar do propósito inicial de Bach. O Cravo, inequívoco! Daí que vos proponha a leitura absolutamente definitiva da inultrapassável – não, não tenho mais adjectivos... – Wanda Landowska.
Por favor, a última coisa em que devem reparar é na qualidade da gravação… Pois, de 1933, mas perfeitamente inteligível e concludente quanto à suprema qualidade da interpretação. Bach, nas mãos de Landowska é uma epifania.
Quanto à estrutura, enquadramento e curiosidades acerca das "Variações Goldberg" já me aturaram noutras oportunidades. E, sem mais delongas, a peça e «a» interpretação!
Boa audição!
BACH - VARIAZIONI GOLDBERG - Cembalo: Wanda Landowska (First Rec 1933)
youtube.com
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