Shakespeare,
como ele nos conhece!...
[publicado no facebook em 04.01.2016]
Em 2016, mais precisamente no dia 23 de Abril, comemoraremos os 400 anos da morte de William Shakespeare. Durante todo o ano que agora se iniciou, não faltarão oportunidades para nos interessarmos e aqui pertilharmos o nosso mais profundo envolvimento, nomeadamente, com a sua obra.
Entretanto, para já, permitam que transcreva parte de um artigo que subscrevi, publicado pelo 'Jornal de Sintra' na sua edição de 24 de Abril de 2013 e, dois dias depois, também no blogue sintradoavesso através do qual poderão aceder ao texto completo
___________________
"(...)
Shakespeare, a sua proclamada, reconhecida e justa universalidade. Na História da Cultura Ocidental, em especial depois do Renascimento, muito dificilmente se encontraria outro vulto das Artes e das Letras cuja produção tivesse inspirado tantos poetas, pensadores e artistas, de todas as áreas. E, tão somente, ao nível das traduções para a nossa língua, como não lembrar as que fizeram homens tão diferentes mas igualmente fascinantes como, por exemplo, o nosso Rei D. Luís, de "Hamlet", "The Merchant of Venice", "Richard III", e "Othello, the Moor of Venice" ou o Dr, Álvaro Cunhal, de "King Lear"?
É certamente por tudo isto e muito mais que, com tanta frequência, ao folhear compêndios de História das Artes, da Literatura, da Filosofia, deparamos com testemunhos de figuras de proa da vida cultural, de todos os quadrantes ideológicos, de acordo com os quais a obra shakespeariana ocupa, em todas as vertentes de análise, um espaço matricial na formação do seu pensamento individual.
É impressionante a galeria de personagens criadas por Shakespeare. Porém, verdadeiramente surpreendente é o carácter universalista dessas criações únicas e, no domínio da caracterização, a imensa quantidade de estudos de psicologia que têm como objecto essa série interminável de ‘dramatis personae’ de toda a lavra do autor de Stratford-upon-Avon.
Pois bem, se tal acontece, é porque os seus traços característicos, em todos os matizes, atingem o paradigma da absoluta diversidade na unidade. Mais, essa evidência não pode deixar de radicar na circunstância de o autor se revelar um ímpar conhecedor do comportamento humano, um «psicólogo» ‘avant la lettre’, em todas as situações, na paz ou em conflito, em todos os enquadramentos, estratos e estatutos sociais, em ambientes rurais e urbanos, ficcionais, mitológicos.
E, se alguma dúvida subsistisse acerca deste ponto, bastaria ter em consideração o próprio Sigmund Freud que, como sabemos, ao longo de anos, se manifestou tão fascinado como perplexo perante o fenómeno Shakespeare, dificilmente aceitando que fosse o real autor da monumental obra que tem assombrado os maiores génios destes últimos séculos. Apenas a título de referência sumária, recorde-se que Freud atribuiria a verdadeira autoria das obras de William Shakespeare a Edward de Vere, 17º Conde de Oxford, teoria esta de que viria a abdicar parcialmente.
No que respeita a Carl Jung, a outra grande figura máxima da Psicologia, também não faltam estudos sobre as tragédias e comédias de Shakespeare à luz da sua perspectiva de abordagem**. E, se não ficarmos por estes gigantes e nos lembrarmos de que outros grandes mestres como Thomas Ogden ou Michel Foucault, só neste particular aspecto da psicologia ‘sticto sensu’, dedicam tanto do seu labor e atenção ao mesmo universo dramatúrgico, teremos de render-nos à evidência de que estamos perante um caso que, eventualmente, só tenha paralelo em Leon Tolstoi.
(...)
Em diferentes fases do pleno período romântico em que viveram e trabalharam, também eles se deixaram prender por estímulos tão apelativos como os do legado do grande mestre isabelino. A nós, herdeiros de tão espectacular conjunto de artefactos culturais, apenas nos compete estar atentos e, se possível, usufruir de ensejos tão auspiciosos."
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*Apenas a título de exemplo, o interessantíssimo estudo Jung's Advice to the Players: A Jungian Reading of Shakespeare's Problem Plays, por Sally F. Porterfield, ed. Greenwood Press, Westport, 1994.
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Gostaria de vos proporcionar o visionamento de um excerto do filme "Henry V" que Kenneth Branagh realizou e interpretou a partir da peça homóloga. Trata-se do discurso da véspera do dia de S. Crespim. Quase 6 minutos de privilégio!
Bom visionamento!
https://youtu.be/A-yZNMWFqvM
como ele nos conhece!...
[publicado no facebook em 04.01.2016]
Em 2016, mais precisamente no dia 23 de Abril, comemoraremos os 400 anos da morte de William Shakespeare. Durante todo o ano que agora se iniciou, não faltarão oportunidades para nos interessarmos e aqui pertilharmos o nosso mais profundo envolvimento, nomeadamente, com a sua obra.
Entretanto, para já, permitam que transcreva parte de um artigo que subscrevi, publicado pelo 'Jornal de Sintra' na sua edição de 24 de Abril de 2013 e, dois dias depois, também no blogue sintradoavesso através do qual poderão aceder ao texto completo
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"(...)
Shakespeare, a sua proclamada, reconhecida e justa universalidade. Na História da Cultura Ocidental, em especial depois do Renascimento, muito dificilmente se encontraria outro vulto das Artes e das Letras cuja produção tivesse inspirado tantos poetas, pensadores e artistas, de todas as áreas. E, tão somente, ao nível das traduções para a nossa língua, como não lembrar as que fizeram homens tão diferentes mas igualmente fascinantes como, por exemplo, o nosso Rei D. Luís, de "Hamlet", "The Merchant of Venice", "Richard III", e "Othello, the Moor of Venice" ou o Dr, Álvaro Cunhal, de "King Lear"?
É certamente por tudo isto e muito mais que, com tanta frequência, ao folhear compêndios de História das Artes, da Literatura, da Filosofia, deparamos com testemunhos de figuras de proa da vida cultural, de todos os quadrantes ideológicos, de acordo com os quais a obra shakespeariana ocupa, em todas as vertentes de análise, um espaço matricial na formação do seu pensamento individual.
É impressionante a galeria de personagens criadas por Shakespeare. Porém, verdadeiramente surpreendente é o carácter universalista dessas criações únicas e, no domínio da caracterização, a imensa quantidade de estudos de psicologia que têm como objecto essa série interminável de ‘dramatis personae’ de toda a lavra do autor de Stratford-upon-Avon.
Pois bem, se tal acontece, é porque os seus traços característicos, em todos os matizes, atingem o paradigma da absoluta diversidade na unidade. Mais, essa evidência não pode deixar de radicar na circunstância de o autor se revelar um ímpar conhecedor do comportamento humano, um «psicólogo» ‘avant la lettre’, em todas as situações, na paz ou em conflito, em todos os enquadramentos, estratos e estatutos sociais, em ambientes rurais e urbanos, ficcionais, mitológicos.
E, se alguma dúvida subsistisse acerca deste ponto, bastaria ter em consideração o próprio Sigmund Freud que, como sabemos, ao longo de anos, se manifestou tão fascinado como perplexo perante o fenómeno Shakespeare, dificilmente aceitando que fosse o real autor da monumental obra que tem assombrado os maiores génios destes últimos séculos. Apenas a título de referência sumária, recorde-se que Freud atribuiria a verdadeira autoria das obras de William Shakespeare a Edward de Vere, 17º Conde de Oxford, teoria esta de que viria a abdicar parcialmente.
No que respeita a Carl Jung, a outra grande figura máxima da Psicologia, também não faltam estudos sobre as tragédias e comédias de Shakespeare à luz da sua perspectiva de abordagem**. E, se não ficarmos por estes gigantes e nos lembrarmos de que outros grandes mestres como Thomas Ogden ou Michel Foucault, só neste particular aspecto da psicologia ‘sticto sensu’, dedicam tanto do seu labor e atenção ao mesmo universo dramatúrgico, teremos de render-nos à evidência de que estamos perante um caso que, eventualmente, só tenha paralelo em Leon Tolstoi.
(...)
Em diferentes fases do pleno período romântico em que viveram e trabalharam, também eles se deixaram prender por estímulos tão apelativos como os do legado do grande mestre isabelino. A nós, herdeiros de tão espectacular conjunto de artefactos culturais, apenas nos compete estar atentos e, se possível, usufruir de ensejos tão auspiciosos."
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*Apenas a título de exemplo, o interessantíssimo estudo Jung's Advice to the Players: A Jungian Reading of Shakespeare's Problem Plays, por Sally F. Porterfield, ed. Greenwood Press, Westport, 1994.
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Gostaria de vos proporcionar o visionamento de um excerto do filme "Henry V" que Kenneth Branagh realizou e interpretou a partir da peça homóloga. Trata-se do discurso da véspera do dia de S. Crespim. Quase 6 minutos de privilégio!
Bom visionamento!
https://youtu.be/A-yZNMWFqvM
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