8 de Março de 1781
8 de Março de 1791
Duas efemérides mozartianas,
Duas árias célebres.
Um assombro
[publicado em 08.03.2016]
Está visto que o dia 8 de Março era muito propício à manifestação do génio de Mozart no domínio das Árias de concerto. Com o intervalo de dez anos, datadas de 1781 e 1791, eis duas das mais interessantes composições do género, respectivamente, “Misera, dove son!“ – Ah! non son io che parlo“ para soprano, KV 369 [I] e “Per questa bella mano” para voz de Barítono e Contrabaixo obligato, KV 612 [II].
1. Portanto, estamos em presença não de uma mas de duas efemérides que nos cumpre celebrar através de excelentes interpretações. Quanto à primeira, proponho a minha «definitiva» opção por Edita Gruberova, com a Orquestra de Câmara da Europa sob direcção de Nikolaus Harnoncourt, numa gravação ao vivo em Graz, Junho de 1991, por ocasião dos duzentos anos da morte de Mozart.
Como verificarão, com texto de Metastasio, nesta peça temos todo um curso de canto mozartiano. No meu caso pessoal, há cerca de cinquenta anos, lhe devo o melhor Mozart que ouvi desde então, sendo justo assinalar que faz parte de uma élite de ouro, em que pontificam Schwarzkopf, Stich-Randall, Edith Mathis.
2. Quanto à segunda Ária, devo confessar-vos uma especial preferência. Uma preferência que, aliás, me tornou num perfeito embasbacado... Adoro esta Aria! Neste caso, dentre as perfeitamente excepcionais características da composição, destacarei a mestria de Mozart no domínio daquele que, aparentemente, é o pesado contrabaixo, um quase mastodonte, «condenado» à emissão dos mais graves registos das cordas, que o compositor emancipa através de uma proposta fascinante.
Tenham em consideração que estamos em Março de 1791, o último ano da curta vida de Mozart. É a derradeira Aria de concerto que compõe. Ouçam como é possível fazer soar um contrabaixo, com tão inquestionável mas surpreendente ligeireza. E reparem como os graves registos do instrumento e da voz se encontram em terreno tão propício.
Mozart, em Viena, começara a pensar em Die Zauberflöte [A Flauta Mágica]. Tinha à sua disposição a voz excepcional de Franz Gerl, o barítono que assumiria o primeiro desempenho de 'Sarastro' e o virtuosismo de Friedrich Pichelberger, chefe de naipe dos contrabaixos da orquestra do Theater auf der Wieden onde aquela ópera seria estreada.
Acompanhem-me nesta obra sublime e verifiquem como o virtuosismo, quando não é apenas tecnicismo – aliás, absolutamente indispensável para atingir o efeito que Mozart pretende, através de uma imparável sucessão de arpejos e de cordas duplas em terças no contrabaixo – nos remete para as culminâncias da Arte mais cativante.
O texto desta Aria, escrito por Giambattista Neri, faz parte do libreto da ópera cómica "Le vicende d'amore", de Giambattista Neri. Na gravação proposta, Thomas Quasthoff é «a voz» e Eugene Levinson o contrabaixista, com Riccardo Muti dirigindo a New York Philharmonic, ao vivo, numa transmissão a partir do Lincoln Center.
Portanto, para as duas peças,
Boa audição!
http://youtu.be/hc-Atq1vZOk [I] - Gruberova
https://youtu.be/5k_1uuc2C7c[II] - Quasthoff
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