[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017



17 de Janeiro,
117º aniversário da Marquesa de Cadaval



Dona Olga Maria Nicolis di Robilant Álvares Pereira de Melo (Cadaval), nasceu em Torino, aos 17 de Janeiro de 1900 e morreu em Lisboa, no dia 21 de Dezembro de 1996.

Permitam que retroceda quatro anos para voltar a 17 de Janeiro de 2013. Dias antes daquele 113º aniversário, desmultipliquei-me em diligências para conseguir que se concretizasse uma homenagem singela mas digna da memória da Senhora Marquesa de Cadaval.

Eu próprio fui à Escola D. Fernando II naquela manhã, falei a um grupo de alunos acerca da personagem que estávamos prestes a homenagear, e vim com eles até ao Centro Cultural Olga Cadaval onde a Dra. Paula Simões, Vereadora da Cultura de então, e a Condessa Teresa Schönborn, neta da Senhora Dona Olga, já nos aguardavam. Interviemos os três.

Quatro anos passados, num dia em que, «por força das circunstâncias», não é possível protagonizar acto análogo - infelizmente, esta é a actual e triste situação a que chegámos em Sintra!... - permitam que transcreva as palavras que proferi na ocasião.
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[17 de Janeiro de 2013]
Meus amigos,.

Acontece este acto, tão singelo, precisamente no local onde, constantemente, e sob as mais diversas formas, se celebra a Arte e vivem momentos de Cultura. É o local que a comunidade sintrense considerou adequado à perpetuação da memória de quem teve uma vida tão cheia, ocupada, preocupada e marcada pela Arte e pela Cultura, a Senhora Marquesa Dona Olga de Cadaval.

Se quiséssemos resumir em que consistiu a fundamental atitude de tão desinteressada mecenas, bem poderíamos dizer que passou muito do seu tempo numa total disponibilidade para quem mais carecia do seu apoio.
 
Sucedeu isso em todos os domínios mas, como é do conhecimento geral, a sua intervenção, em especial no universo musical, nacional e internacional, foi absolutamente determinante no sentido de facilitar os primeiros grandes passos de jovens valores, a quem sabia reconhecer inquestionáveis méritos e dotes, apontando-os ao mundo como expoentes que evidenciavam as mais gratificantes promessas.

Antes de 1974, por vezes enfrentando alguns riscos dos sombrios tempos que enquadravam a vida cultural portuguesa, disponibilizou os seus conhecimentos, colocou ao seu serviço a rede de contactos dos amigos, soube estar atenta e, sempre que se lhe ofereceu o ensejo, jamais desperdiçou a oportunidade de promover os talentos, de contribuir para a excelência, de sublinhar a excepcionalidade.

Ora bem, meus amigos, será que, à escala das possibilidades de cada um de nós, estaremos à altura desta nobre atitude, ou seja, da herança que recebemos da Senhora Marquesa de Cadaval?
E, perante estas crianças da nossa comunidade, crianças que, sendo o futuro, são o próprio tempo – como dizia o meu grande mestre Prof. Manuel Antunes – perante estas crianças, prestes a concretizar o gesto tão simbólico de oferecer flores à Senhora Marquesa, será que, interrogava eu, também nos poderemos comprometer com a nossa disponibilidade, para fazer tudo quanto estiver ao nosso alcance no sentido de reconhecer e respeitar a individualidade sagrada de todos os meninos, as suas características próprias, sempre a seu favor, nunca em seu prejuízo?

Permitirão que assim me expresse, sincera e comovidamente, curvado perante a memória desta senhora que, para mim, tem revelado um fascínio, cada vez mais surpreendente, à medida que mais e melhor a venho conhecendo e descobrindo.

Uso desta veemência, porque considero o acto de homenagem, não uma formalidade para preencher agenda mas, isso sim, algo de altamente interpelante, verdadeiro desafio de gente que reconhece os valores da cultura e da civilização em que nasceu, enaltecendo alguém que, tendo-os encarnado no passado, nos ajuda a transmiti-los ao futuro.

Antes de terminar, gostaria de vos trazer um excerto do texto subscrito por um íntimo amigo da Senhora Marquesa, o Engº Luís Santos Ferro, palavras do programa comemorativo do aniversário de Dona Olga, em 1997.

Cito: “(…) Melhor é a sabedoria do que a valentia diz, numa moeda de ouro de 1724, o mote latino de um dos sete doges seus ancestrais, Alvise III Mocenigo, Melior est Sapientia quam Vires.
(…) Como participantes nesta cerimónia e, simbolicamente, representando tantos que a sua personalidade de alguma forma tocou, louvemos a sapiência e a generosa simplicidade com que distribuiu os seus invulgares talentos, multiplicados e enaltecidos no transcurso de toda uma ampla vida.”

Fim de citação.

Neste nosso tempo, tão conturbado, afirmar que "Melhor é a sabedoria do que a valentia", é um acto de profunda coragem, lucidez e de grande sabedoria, mensagem certíssima, meus amigos, na perspectiva do futuro, para bem do qual a Senhora Dona Olga, Marquesa de Cadaval, tanto, tão decisiva e positivamente contribuiu, o mesmo futuro que tanto prezava na actualidade e na modernidade da Arte que jamais a desconcertou, o futuro que aqui está, hoje, neste átrio, nestas crianças.

Pela primeira vez, celebram elas a memória de alguém que nós lhes apontamos como exemplo de vida. Estes alunos da Escola D. Fernando II sabem ao que vieram. Demos-lhes nós o melhor exemplo. Não as desapontemos.

Muito obrigado.
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[Ilustr: Além da foto da Senhora Marquesa, eis as das Intervenientes na homenagem: Condessa Teresa Schönborn (Teresa Álvares Pereira de Melo Schönborn-Wiesentheid) e a então Vereadora da Cultura Dra. Paula Simões. Eu também intervim mas, certamente, dispensam a minha foto...]


[
Foto de João De Oliveira Cachado.
 
 
 

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