Jornal de Sintra
- edição de 24 de Março
- edição de 24 de Março
É o faz-de-conta, a dissimulação institucionalizada. O caso abordado, pela enésima vez, também se inscreve noutro, o das promessas e mais promessas com que fomos 'empatados' no novelo de «inverdades» - muito interessante este eufemismo!... - tecido há quatro anos a esta parte. É este faz-de-conta, coincidente com o estratagema da dissimulação, que nada nos convém, que urge pôr termo como medida de «saneamento básico» da gestão autárquica.
Apenas o excerto de dois parágrafos do texto cuja leitura integral espero possa suscitar:
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"(...) Ou seja, ali, em vez de acontecer a obra completa de salvaguarda do património municipal que o Casal de São Domingos pressupõe, o Presidente da Câmara não hesita em protagonizar uma cena de magistral dissimulação, dando a entender como é sensível à questão e, ainda que parcialmente, até já começou a responder às denúncias e protestos que os sintrenses têm apresentado…
"(...) Ou seja, ali, em vez de acontecer a obra completa de salvaguarda do património municipal que o Casal de São Domingos pressupõe, o Presidente da Câmara não hesita em protagonizar uma cena de magistral dissimulação, dando a entender como é sensível à questão e, ainda que parcialmente, até já começou a responder às denúncias e protestos que os sintrenses têm apresentado…
Ao fazê-lo, mediante investimento tão insignificante de 11.000 Euros, em período que coincide com o da pré-campanha eleitoral já em curso, não há um qualquer possibilidade de resguardo na demonstração do carácter evidentemente eleiçoeiro da manobra. Deste modo, ao menorizar a capacidade de entendimento, não só dos eleitores mas também dos cidadãos em geral, de tão rasteiro e inqualificável, o recurso chega a ser ofensivo. (...)"
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Do faz-de-conta,
requintados mestres
Bem no coração da Estefânea, à direita de quem prossegue pela Rua Dr. Alfredo da Costa, seu eixo viário principal, a poucas dezenas de metros dos Paços do Concelho, escandalizando quem visita a Vila e todos quantos gostam de Sintra e lutam pela defesa dos seus interesses, o Casal de São Domingos, degradadíssimo, tem sido objecto de um abandono que brada aos céus.
Tão evidente, triste e desanimador é o quadro que, naturalmente, não sou eu apenas quem denuncia o estado do edifício que, cumpre lembrar, fazendo parte do património municipal, ainda tem jardim anexo onde, à falta de melhor destino, se plantaram umas couves e outros legumes nos últimos anos…
Sem a mínima dificuldade, poderia aqui citar vários artigos que subscrevi para o Jornal de Sintra acerca do assunto bem como inúmeros textos que publiquei nas redes sociais. E, de facto, tantas vezes a questão vem à baila que até parece haver falta de assunto…
Porém, tal não acontecendo, outros sintrenses – sempre os mesmos, refira-se em abono da verdade – se têm incomodado com a matéria e, atestando como esta é matéria da maior sensibilidade – em especial, por causa do local, que não pode ser mais central – o caso tem sido utilizado ad nauseam, aliás, muito justamente, como paradigma da designada cultura do desleixo, na expressão do ex-Presidente da República Dr. Jorge Sampaio, cuja casa de família é, praticamente, paredes-meias.
Um caso paradigmático
Pois bem, do mobiliário daquele jardim, faz parte uma estufa de ferro, peça de certo interesse que, votada ao maior dos descuidos, tal como a vizinha casa-mãe, a poucos passos, gritava por um socorro que tardava. Ora, contrariando a convicção de que, quando se acudisse ao lugar, isso mesmo aconteceria através de abordagem conjunta, num ataque ao todo que é o Casal e o jardim, eis que logo desenganados ficámos com o que nos esperava.
Inequivocamente, lá está o anúncio a garantir que é a estufa e apenas a estufa o objecto da intervenção em curso, circunstância demasiado esquisita para que mensagem tão explícita nos satisfaça. Não, caros leitores, não podemos deixar que fique por interpretar umsubentendido discurso que o actual executivo autárquico liderado pelo Dr. Basílio Horta também ali evidencia.
Ou seja, ali, em vez de acontecer a obra completa de salvaguarda do património municipal que o Casal de São Domingos pressupõe, o Presidente da Câmara não hesita em protagonizar uma cena de magistral dissimulação, dando a entender como é sensível à questão e, ainda que parcialmente, até já começou a responder às denúncias e protestos que os sintrenses têm apresentado…
Ao fazê-lo, mediante investimento tão insignificante de 12.000 Euros, em período que coincide com o da pré-campanha eleitoral já em curso, não há um qualquer possibilidade de resguardo na demonstração do carácter evidentemente eleiçoeiro da manobra. Deste modo, ao menorizar a capacidade de entendimento, não só dos eleitores mas também dos cidadãos em geral, de tão rasteiro e inqualificável, o recurso chega a ser ofensivo.
Promessas que envergonham
Ainda maiores proporções de dissimulação atinge este episódio de recuperação de património, se vos lembrar que, há tantos quantos como mais de 3 anos, na tarde do dia 28 de Fevereiro de 2014 – na sequência da leitura de um meu artigo na edição dessa mesma data do Jornal de Sintra – o mesmo Dr. Basílio Horta me telefonou para dar a satisfação de belíssimas notícias.
Nem mais nem menos, me afiançou que já tinha resolvido o problema do Casal de São Domingos e da sua recuperação ao decidir que iria ser a sede da Empresa Pública Municipal de Estacionamento de Sintra e que, igualmente, decididas tinham sido a limpeza da mata imunda do Vale da Raposa e a recuperação das fontes da Estrada Velha de Colares, assuntos que, no mesmo artigo, eu descrevia como absolutamente urgentes…
Enfim, promessas e mais promessas que, infeliz e desoladoramente, ficaram por cumprir. Convosco, aproveito a oportunidade para começar por partilhar duas, transmitidas em reunião formal na Câmara, entre os Senhores Vice-Presidente e Vereador com o Pelouro da Mobilidade Urbana e representantes da Associação de Defesa do Património de Sintra, da Alagamares e da Canaferrim, em Junho de 2015.
Era o prolongamento da linha do eléctrico até à estação terminal da CP, que estaria a funcionar até ao final do mandato do actual executivo autárquico, em Setembro de 2017 e que, em simultâneo, asseguraria a requalificação do pavimento da Heliodoro Salgado... Era, igualmente, a instalação dos parques periféricos de estacionamento, que estariam operacionais no Verão de 2016, incluindo um sistema de painéis electrónicos, colocados nas várias estradas de acesso a Sintra, para completa informação dos condutores …
Sintomaticamente, ainda poderia aludir à história do teleférico entre São Pedro e a Penaque, depois de dois anos de campanha publicitária, foi decidido descartar. E a reposição da ponte metálica entre os bairros da Estefânea e da Portela? E o Centro de Saúde na Desidério Cambournac? E as obras de regularização do Piso da Heliodoro Salgado que não contemplaram a rotunda Nunes Carvalho? E, no domínio da Cultura, o designado Quarteirão das Artes, uma proposta para a Estefânea, também anunciado em 2014 com o objectivo da animação cultural da zona? Ou o falhanço estrondoso do edifício do Casino de Sintra, com a galeria de arte do município sempre às moscas (dias há em que, pura e simplesmente ninguém visita, sendo a média anual, excluíndo sessões de animação cultural, inferior a 10 visitantes por dia)? E a designada Casa dos Escritores de Sintra, a instalar na Casa Francisco Costa (desenhada pelo Arq. Raul Lino) que, isso sim, está a degradar-se a olhos vistos?...
E o Festival de Sintra que, a partir de 2015, teria financiamento digno de Salzburg, afinal, vindo a traduzir-se, entre outras indigências, pela necessidade de a pianista Olga Prats pagar do seu próprio bolso 30 Euros a quem lhe virava as folhas durante um recital no Palácio da Vila?
E, tantas, tantas mais, santo Deus! Coisa assim, nunca, nunca aconteceu.Entretanto, não tendo sido feita qualquer promessa acerca do que veio a concretizar – e quase de um momento para o outro, tendo invocado o pretexto da oportunidade do negócio, sem objectivos que não pudessem ser preenchidos por um Casal de São Domingos ou Quinta da Ribafria devidamente recuperados – foi decidido comprar a vivenda Mont Fleuri, aos herdeiros de Jorge de Mello, por dois milhões e oitocentos mil Euros. Vá lá compreender-se!...
[João Cachado escreve
de acordo com a antiga ortografia]
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