[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 28 de março de 2017






Jornal de Sintra
- edição de 24 de Março

É o faz-de-conta, a dissimulação institucionalizada. O caso abordado, pela enésima vez, também se inscreve noutro, o das promessas e mais promessas com que fomos 'empatados' no novelo de «inverdades» - muito interessante este eufemismo!... - tecido há quatro anos a esta parte. É este faz-de-conta, coincidente com o estratagema da dissimulação, que nada nos convém, que urge pôr termo como medida de «saneamento básico» da gestão autárquica.

Apenas o excerto de dois parágrafos do texto cuja leitura integral espero possa suscitar:
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"(...) Ou seja, ali, em vez de acontecer a obra completa de salvaguarda do património municipal que o Casal de São Domingos pressupõe, o Presidente da Câmara não hesita em protagonizar uma cena de magistral dissimulação, dando a entender como é sensível à questão e, ainda que parcialmente, até já começou a responder às denúncias e protestos que os sintrenses têm apresentado…
Ao fazê-lo, mediante investimento tão insignificante de 11.000 Euros, em período que coincide com o da pré-campanha eleitoral já em curso, não há um qualquer possibilidade de resguardo na demonstração do carácter evidentemente eleiçoeiro da manobra. Deste modo, ao menorizar a capacidade de entendimento, não só dos eleitores mas também dos cidadãos em geral, de tão rasteiro e inqualificável, o recurso chega a ser ofensivo. (...)"

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         Do faz-de-conta,
    requintados mestres



Bem no coração da Este­fânea, à direita de quem prossegue pela Rua Dr. Alfredo da Costa, seu eixo viário principal, a pou­cas dezenas de metros dos Paços do Concelho, escandalizando quem visita a Vila e todos quantos gostam de Sintra e lutam pela defesa dos seus interesses, o Casal de São Domingos, degradadíssimo, tem sido objecto de um abandono que brada aos céus.



Tão evidente, triste e desanimador é o quadro que, naturalmente, não sou eu apenas quem denuncia o estado do edifício que, cumpre lem­brar, fazendo parte do património municipal, ainda tem jardim anexo onde, à falta de melhor destino, se plantaram umas couves e outros legumes nos últimos anos…



Sem a mínima dificuldade, poderia aqui citar vários artigos que subs­crevi para o Jornal de Sintra acerca do assunto bem como inúmeros textos que publiquei nas redes sociais. E, de facto, tantas vezes a questão vem à baila que até parece haver falta de assunto…


Porém, tal não acontecendo, outros sintrenses – sempre os mesmos, refira-se em abono da verdade – se têm incomodado com a matéria e, atestando como esta é matéria da maior sensibilidade – em especial, por causa do local, que não pode ser mais central – o caso tem sido utilizado ad nauseam, aliás, muito justamente, como paradigma da designada cultura do desleixo, na expressão do ex-Presidente da República Dr. Jorge Sampaio, cuja casa de família é, praticamente, paredes-meias.


Um caso paradigmático

Pois bem, do mobiliário daquele jardim, faz parte uma estufa de ferro, peça de certo interesse que, votada ao maior dos descuidos, tal como a vizinha casa-mãe, a poucos passos, gritava por um socorro que tardava. Ora, contrariando a convicção de que, quando se acudisse ao lugar, isso mesmo aconteceria através de abordagem conjunta, num ataque ao todo que é o Casal e o jardim, eis que logo desenganados ficámos com o que nos esperava.

Inequivocamente, lá está o anúncio a garantir que é a estufa e apenas a estufa o objecto da intervenção em curso, circunstância demasiado esquisita para que mensagem tão explícita nos satisfaça. Não, caros leitores, não podemos deixar que fique por interpretar umsubenten­dido discurso que o actual executi­vo autárquico liderado pelo Dr. Basílio Horta também ali evidencia.

Ou seja, ali, em vez de acontecer a obra completa de salvaguarda do património municipal que o Casal de São Domingos pressupõe, o Presi­dente da Câmara não hesita em pro­tagonizar uma cena de magistral dis­simulação, dando a entender co­mo é sensível à questão e, ainda que par­cialmente, até já começou a res­pon­der às denúncias e protestos que os sintrenses têm apresenta­do…

Ao fazê-lo, mediante investimento tão insignificante de 12.000 Euros, em período que coincide com o da pré-campanha eleitoral já em curso, não há um qualquer possibilidade de resguardo na demonstração do carácter evidentemente eleiçoeiro da manobra. Deste modo, ao meno­rizar a capacidade de entendimento, não só dos eleitores mas também dos cidadãos em geral, de tão rasteiro e inqualificável, o recurso chega a ser ofensivo.

Promessas que envergonham

Ainda maiores proporções de dissimulação atinge este episódio de recuperação de património, se vos lembrar que, há tantos quantos como mais de 3 anos, na tarde do dia 28 de Fevereiro de 2014 – na sequência da leitura de um meu artigo na edição dessa mesma data do Jornal de Sintra – o mesmo Dr. Basílio Horta me telefonou para dar a satisfação de belíssimas notícias.

Nem mais nem menos, me afiançou que já tinha resolvido o problema do Casal de São Domingos e da sua recuperação ao decidir que iria ser a sede da Empresa Pública Muni­cipal de Estacionamento de Sintra e que, igualmente, decididas tinham sido a limpeza da mata imunda do Vale da Raposa e a recuperação das fontes da Estrada Velha de Colares, assuntos que, no mesmo artigo, eu descrevia como absolutamente urgentes…

Enfim, promessas e mais promessas que, infeliz e desoladoramente, fica­ram por cumprir. Convosco, apro­vei­to a oportunidade para começar por partilhar duas, transmitidas em reunião formal na Câmara, entre os Senhores Vice-Presidente e Verea­dor com o Pelouro da Mobilidade Urbana e representantes da Asso­cia­ção de Defesa do Património de Sintra, da Alagamares e da Canaferrim, em Junho de 2015.

Era o prolongamento da linha do eléctrico até à estação terminal da CP, que estaria a funcionar até ao fi­­nal do mandato do actual exe­cutivo autárquico, em Setembro de 2017 e que, em simultâneo, assegu­raria a requalificação do pavimento da Heliodoro Salgado... Era, igual­mente, a instalação dos parques periféricos de estacionamento, que estariam operacionais no Verão de 2016, incluindo um sistema de pai­néis electrónicos, colocados nas vá­rias estradas de acesso a Sintra, para completa informação dos condu­tores …

Sintomaticamente, ainda poderia aludir à história do teleférico entre São Pedro e a Penaque, depois de dois anos de campanha publicitária, foi decidido descartar. E a reposição da ponte metálica entre os bairros da Estefânea e da Portela? E o Centro de Saúde na Desidério Cambournac? E as obras de regula­rização do Piso da Heliodoro Sal­gado que não contemplaram a rotunda Nunes Carvalho? E, no domínio da Cultura, o designado Quar­­teirão das Artesuma pro­posta para a Estefânea, também anunciado em 2014 com o objectivo da animação cultural da zona? Ou o falhanço estrondoso do edifício do Casino de Sintra, com a galeria de arte do município sempre às moscas (dias há em que, pura e simples­men­te ninguém visita, sendo a média anu­al, excluíndo sessões de anima­ção cultural, inferior a 10 visitantes por dia)? E a designada Casa dos Escritores de Sintra, a instalar na Casa Francisco Costa (desenhada pelo Arq. Raul Lino) que, isso sim, está a degradar-se a olhos vistos?...

E o Festival de Sintra que, a partir de 2015, teria financiamento digno de Salzburg, afinal, vindo a tra­duzir-se, entre outras indigências,  pela necessidade de a pianista Olga Prats pagar do seu próprio bolso 30 Euros a quem lhe virava as folhas du­rante um recital no Palácio da Vila?

E, tantas, tantas mais, santo Deus! Coisa assim, nunca, nunca aconte­ceu.Entretanto, não tendo sido feita qualquer promessa acerca do que veio a concretizar – e quase de um momento para o outro, tendo invo­cado o pretexto da oportunidade do negócio, sem objectivos que não pudessem ser preenchidos por um Casal de São Domingos ou Quinta da Ribafria devidamente recupera­dos – foi decidido comprar a vivenda Mont Fleuri, aos herdeiros de Jorge de Mello, por dois milhões e oitocentos mil Euros. Vá lá compreender-se!...


[João Cachado escreve
de acordo com a antiga ortografia]

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