[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Meditando...

Vem esta «meditação» a propósito da controvérsia acerca da atitude do proprietário do Hotel Central que, inopinada e inusitadamente, ergueu uma estrutura metálica para sustentar a esplanada que sonhou instalar, ali mesmo à beira do Palácio da Vila.
Na verdade, nem uma semana havia decorrido sobre a montagem da estrutura, e na sequência do protesto da Alagamares e da sua denúncia à Comissão Nacional da Unesco, a CMS embargou a obra.
Passados quatro anos, ainda não consegui perceber se terá pedido licença à Câmara e, se assim tiver acontecido, como é que a autarquia terá autorizado…
Porém, até agora, a exemplo do que acontece noutras bem conhecidas situações «cá do burgo», tudo permanece em águas de bacalhau como, aliás, Fernando Castelo não se tem cansado de dar conta através do seu afinadíssimo relógio-calendário...
Para todos os efeitos, os cidadãos merecem uma explicação insofismável e resposta a perguntas pertinentes. Houve ou não houve licenciamento? Se afirmativo, quem autorizou e na base de que pressupostos? Que tipo de ignorância, técnica e de decisão política, estiveram em jogo?

Outros sintrenses casos
I.
Como a memória ainda não é má de todo, ocorrem outros casos cujas nefastas consequências todos estamos a suportar. A título de exemplo, peço que atentem na foto que ilustra este texto. Aí mesmo à nossa frente, sobre a esquerda média*, o grande «empreendedor» Miguel Pais do Amaral ergueu uma mansão que, aproveitando as fraquezas do «sistema», é prova acabada e cabal da nossa incapacidade de cívica intervenção contra os desmandos de quem, apenas pensando nos seus interesses pessoais, consegue passar por cima dos da colectividade.
Enfim, com o parecer favorável de entidades que era suposto pronunciarem-se, lá se construiu o monstro. Há tanto tempo quanto lá vai o ano de 2008, denunciei o caso em primeira mão, Luís Filipe Sebastião levou o assunto às páginas centrais do jornal 'Público', o assunto seguiu para o Tribunal Administrativo de Sintra.
A poucos metros do Palácio de Seteais, a uma cota mais elevada que a do próprio monumento, arrasou a legibilidade da página de 'Os Maias' em que Eça descreve o estupendo cenário que se apresenta a quem, descendo a rampa do ‘belvedere’, um pouco antes de passar sob o arco de triunfo, se lhe depara o espectáculo inolvidável.
Sintra perdeu, todos perdemos um património que, em princípio, deveria ter sido respeitado. Mas o grande empreendedor Pais do Amaral ganhou. Levou a sua avante.

II.
Aliás, a provar que o crime compensa mesmo e, igualmente perante a nossa incapacidade de organização cívica consequente - sem que as denúncias no 'Jornal de Sintra' ou no meu blogue sintradoavesso, cartas ao IPPAR, idas a reuniões públicas da CMS e Assembleia Municipal tivessem obtido qualquer resultado - o concessionário do hotel, outro «grande empreendedor», do grupo Espírito Santo, entretanto caído na maior desgraça, consumou a destruição do tanque, travestindo-o em prosaica casa de máquinas, como podem constatar sempre que passarem pelo local que era canto de lazer, profundamente radicado no espírito do lugar.
Uma perversa «lição» para os sintrenses? Não, de modo algum o creio. Processo fechado? Não, também assim não penso. Assim haja exemplar vontade política de repor a situação inicial, e, tanto no caso da mansão de Pais do Amaral como no do tanque da Quinta de Seteais, propriedade do «banco bom» ou do «banco mau», outro poderia ser o desfecho.
Provas inequívocas de um diferente e, enfim, mais civilizado modo de estar e de ser, daria a Câmara Municipal de Sintra se, em relação a estas ofensas ao espírito do lugar, em zona crítica e classificada, perspectivasse o protagonismo de atitude de embargo, idêntica à que, tão rapidamente, cumulou o caso do Central...
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*AT: a casa de Pais do Amaral não é essa tosca construção que surge na esquerda média. Olhem que vale a pena deslocarem-se até lá...

[Foto de Câmara Municipal de Sintra]

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