[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Na Correnteza

Não percebo a razão pela qual os sintrenses se desinteressaram deste espaço. É tão especial, tem uma situação tão estratégica sobre o Vale da Raposa, o panorama que se alcança daquela varanda é de tal modo abrangente e soberbo que, na realidade, dificilmente se compreende como pode assim tratar-se um local tão aprazível.

O pavimento, em calçada à portuguesa, já conheceu melhores dias. Actualmente, é irregular, até algo esburacado. Há um cantoneiro de limpeza que, diariamente, faz o que pode, com uma alegria e eficácia que contrastam com tudo o que, de resto, por ali apenas são sintomas de desleixo.

Os escrementos dos pombos, certo é que são varridos, mas acumulam-se em tal quantidade que basta um pouco mais de humidade para tornar escorregadio e perigosíssimo aquele piso que deveria estar impecável para poderem passear os namorados de todas as idades, as famílias em seu sossego, os bebés nos primeiros passos, correndo atrás das aves.

Faltam traves aos bancos de jardim, não estão adequadas, à segurança exigível, as condições gerais de desfrute do local. E é uma pena que assim seja porque, na verdade, quem atravessa regularmente a zona, não pode deixar de reconhecer que, de vez em quando, há tentativas de melhorar a situação.

Ainda há dois ou três meses foram de verde pintadas as armações de madeira às quais se abraçam, quando disso é o tempo, as velhas glicínias floridas, outro espectáculo para a vista e uma embriaguez de perfumes. A principal razão de queixa é, como em tantas outras situações, quer em Sintra quer no país em geral, a falta de manutenção sistemática que, umas vezes, deveria ser diária, noutras mais intervalada, periódica.


Trata-se de um problema cultural que, em função das taxas do analfabetismo pleno, da iliteracia - infelizmente sem termo de comparação possível em noutro país parceiro da União Europeia - parece não afectar o cidadão comum, que não tem a educação de base indispensável, sequer para perceber que outro galo poderia cantar se se sentisse ofendido...

(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

O Dr. João Cachado tem toda a razão com o que se passa na Correnteza. Conheço o senhor como professor e do Jornal de Sintra.É um dos sítios de Sintra que eu mais gosto. Mas está muito sujo. Nem se pode levar uma pessoa amiga a mostrar. Tive cá neste Verão uma senhora espanhola em minha casa que logo me disse que se fosse em Granada, a sua terra, iam logo à procura da pessoa responsável pela falta de higiene.

Continue Dr. Cachado. Seria muito bom haver mais pessoas como o senhor a denunciar estas coisas.
Obrigado

Fernanda Antunes
Lourel

Anónimo disse...

Fartei-me de namorar na Correnteza. Tenho mais ou menos a sua idade e percebo a tristeza com que deve escrever as coisas que todos os dias traz à baila, como esta referente a um sítio como não há outro em Sintra.

Apesar de tudo, já ali tenho passado alguns bons momentos com os meus netos. É preciso ter algum cuidado com as crianças porque o piso é muito irregular e sujo.

Parece impossível como tudo é diferente em Cascais, tão perto mas é muito mais agradável.

Carlos Rato