[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Acesso à Pena,
um caso especial(íssimo)



Ao longo de anos, através de artigos em vários meios da imprensa regional, tenho-me permitido avançar com alternativas para resolução de situações, cujos contornos - por ainda não terem sido modificados - continuam a determinar indispensável e prévia reflexão que conduzam à subsequente adopção de medidas que tardam.


Uma dessas situações é a do acesso ao Castelo dos Mouros e Parque da Pena. O absoluto privilégio de ter tão excepcionais lugares ao pé da porta, não tem constituído, como deveria, motivação bastante para que os responsáveis tivessem decidido, com a correcção que se impõe, quanto ao modo de ali aceder, sem comprometer valores e princípios tão inquestionáveis como os afins da defesa do ambiente.


Ora isto é realmente deplorável em qualquer país e, por maioria de razão, hoje mesmo, em Portugal, dia em que o primeiro ministro se dirige à Assembleia Geral das Nações Unidas chamando a atenção para o respeito intransigente dos limites convencionados para as emissões de gases que agravam o efeito de estufa. Neste caso, como em todos os demais, o discurso tem que estar sintonizado com a acção e a acção, muitas vezes, passa pela alteração de hábitos e comportamentos lesivos dos mais nobres propósitos que, naturalmente, não podem ficar-se pela declaração de intenções...



Que Pena!...

Em Notas Diárias, deste mesmo blogue (*), lembrava eu uma série de alternativas relacionadas com a necessidade de resolver o caos instalado em Sintra no domínio do estacionamento. Tratando-se de um problema que carece de abordagem sistémica, o estacionamento articula-se com muitas outras questões, entre as quais a do controlo dos fluxos de trânsito. E, como não poderia deixar de acontecer, mencionava os casos do Castelo dos Mouros e do Parque da Pena, propondo, nomeadamente:

"(...) por razões de carácter ecológico, encerramento do trânsito automóvel individual em direcção à Pena e Castelo dos Mouros, apenas permitindo o acesso a veículos de transporte colectivo «amigos do ambiente», eléctricos - incluindo funicular - mistos, biodiesel, etc., também as grandes galeras de tracção animal, a exemplo do que já sucede há décadas, em congéneres lugares europeus (...)".
Na realidade, conheço vários e famosos lugares europeus, onde estão implantados bens patrimoniais tão estimáveis como a Pena, analogamente na encosta ou no cimo de montanhas, onde não se coloca, nem por sombras, a remota hipótese do acesso em carro próprio... Quem quiser, pois que vá a pé, de autobus ou utilizando o serviço hipomóvel. E, garanto-vos, não deixa de gozar que nem um perdido.
Deixo apenas dois exemplos, Hohenschwangau e Neuschwanstein, os castelos reais de Luís II da Baviera onde, depois de íngreme subida, por vezes, ainda é preciso esperar horas para a visita. E não consta que, devido à aparente dificuldade do acesso, tenha decrescido o interesse de potenciais visitantes...
Como esquecer o testemunho, tão certo, tão a propósito do meu bom e saudoso amigo, Manuel Rio-Carvalho, que afirmava ser indispensável merecer o privilégio da Pena, sofrer até, para lá chegar, e, só então, acabar por ganhar o doce prémio daquela revelação, alcançada com dificuldade e esforço. Afinal, como tudo o que, na vida, se nos revela como grande, belo, imperdível e que passa a constituir nosso património pessoal. Uma autêntica epifania...
Esperança, apesar de tudo
O que, no caso da Pena continua a surpreender é que, depois de, há quase dez anos, ter sido condicionado, o acesso à Pena em viatura particular acabasse por ser retomado tão displicentemente. E ainda, com foros de perfeito escândalo, mais admira que a administração da responsabilidade de Paulo Serra Lopes, tenha decidido instalar parques de estacionamento, que tanta controvérsia suscitaram, com uma irresponsabilidade que só é filha da ignorância, convidando os visitantes a fazerem-se transportar nos seus carros...
Instalada, indelevelmente entranhada uma lusitana cultura do desleixo que origina atitudes que tais, continuamos a arrostar com danos evitáveis se forem concretizadas as civilizadas medidas que acabarão por acontecer. Eu tenho uma enorme esperança nos resultados da gestão do Professor António Ressano Garcia Lamas que, na condução dos destinos da empresa Parques de Sintra Monte da Lua, está a dar passos extremamente significativos no sentido de a todos devolver - aos sintrenses em particular, que estes cantinhos são muito nossos - o usufruto de um património sublime que, antes de si, foi tão desrespeitado.
Tenho muita confiança porque vou acompanhando os trabalhos em curso. Aliás, deixem-me aconselhar que façam como eu, voltem a vossa atenção para tudo quanto diga respeito à PSML porque, da Serra, os sinais são dos mais consoladores, daqueles que causam maior lenitivo, compensando outros males que, em Sintra, não dão descanso. Enfim, como se tal fosse possível...

(*) vd. Notas Diárias, 13.09.07

2 comentários:

Unknown disse...

Joao,

Estou a adorar as tuas "Notas Diarias"...Espero ver algum progresso na minha proxima visita a Portugal...

Sintra do avesso disse...

Muito obrigado pela tua paciência. Tenho consciência de que a minha não é uma linguagem particularmente propícia ao meio de comunicação que o blog pretende ser. Por outro lado, um certo cuidado que coloco na qualidade da mensagem, possibilitará, se tal se revelar pertinente, a publicação noutro suporte, com ilustrações cuidadas, por exemplo, boas fotografias, a preto e branco, acompanhando os textos. Enfim, outros rasgos.

Mas, minha querida, não tenhas - que eu também não tenho - nem pequenas nem grandes ilusões quanto à eventual motivação dos responsáveis para mudança do statu quo... É pena que assim seja mas essa, infelizmente, é a realidade.

Um beijo.