[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Regaleira,
os senhores da ilha

Naturalmente, não direi que a direcção da Cultursintra, residente na Quinta da Regaleira, é a responsável pela situação de caos que ali se instala devido ao estacionamento nas imediações. Contudo, se não é a responsável, muita culpa tem no cartório...
Até hoje, jamais li ou terei ouvido qualquer dos membros do orgão executivo referir-se à resolução do problema do estacionamento das viaturas daqueles que pretendem visitar o complexo monumental e jardins da Regaleira. Nem uma referência, nem um comentário sobre o assunto, como se o assunto não existisse.
Muito pelo contrário tenho visto, isso sim, os senhores membros da direcção da Cultursintra estacionando os seus particulares automóveis, precisamente, sobre o estrelado empedrado, trabalhado por canteiros e calceteiros de outras eras - património que tão escandalosamente desrespeitam - e, a partir de tão criticável atitude, induzindo outros condutores à concretização e réplica do mesmo ordinário comportamento...
Censurável quotidiano
Isto é o que eu tenho sistematicamente visto. Sim, repito, sistematicamente, não coisa esporádica. E até já documentei, como aconteceu na edição de 1 de Setembro de 2006 do Jornal de Sintra, no artigo que subscrevi, subordinado ao título Cenas de Verão, ilustrado com seis fotografias, uma das quais, declaradamente, escancarando o automóvel do Arq. Cruz Alves «estacionado» sobre o passeio.
Actualmente, quem quiser ter o desgosto, pode observar, dia sim, dia sim, o lindo e negro Alfaromeo da Dra. Maria João Dias Ferreira, também primorosamente «estacionado», junto ao portão principal de acesso, senhora que estará completamente nas tintas para o escândalo que causa ou, melhor, provavelmente, sem sequer se aperceber do escândalo que causa comportamento tão incivilizado, tão rude e grosseiro, o que é ainda mais grave...
Repare-se que não me refiro às iniciativas levadas a cabo na Regaleira. Isso é outra e tão diferente coisa que poderá suscitar reflexões outras, de índole mais afim da avaliação do seu impacte público. Refiro-me, portanto, à sobranceria com que, do alto da torre onde foram instalados, estes senhores se permitem ignorar o caos que reina cá fora, afinal, consequente da falta de resposta de um serviço civilizado de estacionamento cuja resolução teriam toda a vantagem em se envolverem.
Episódio esclarecedor
Poderia falar de outros assuntos que bem atestam este tipo de manifestações por parte de membros da direcção da Cultursintra. Enfim, só mais um episódio. Por altura de umas intempéries do passado Inverno, as folhas acumularam-se nas caleiras, entupiram a sarjeta junto ao portão da entrada lateral da rampa a caminho de Seteais e, perigosamente, alagavam a estrada, cobrindo-a de saibros e lamas. Durante quatro dias não houve quem, na Regaleira, tivesse dado uma ordem que sustivesse a situação e a resolvesse prontamente.
Eu próprio, ali passando diariamente, perplexo perante tanta falta de sensibilidade, armado de oleado impermeável pela cabeça, que chovia desalmadamente, e de uma vara a preceito, meti as mãos ao buraco, resolvendo o caso em escassos cinco minutos. Naturalmente, logo de seguida, pedi para falar com alguém «responsável». Apareceu-me a Dra. Denise que, com umas desculpas esfarrapadas, me deu a entender que não tinha meios. Ora bem, quem afirma não ter meios, deve tomar atitudes consequentes... Tanto mais que foi posta a circular uma certa e peregrina ideia, no sentido de que a Regaleira é autosuficiente, noção que em nada se articula com o quadro que acabei de descrever.
E, tendo mencionado a necessidade de assumir atitudes consequentes, cumpre perguntar se não vai sendo tempo para que a Câmara Municipal, a força policial, a Cultursintra e todos quantos poderão estar interessados na resolução do problema do estacionamento caótico no local, irem trabalhando articuladamente, viabilizando uma solução provisória enquanto a definitiva alternativa não for concretizada?
Tal como se encontra, a situação da Regaleira é a de uma ilha, qual república independente, governada por quem não tem estado à altura de verificar que ali não há nem poderá ser construído qualquer cais acostável. Nem mesmo, e, muito menos, para os «botes» dos governantes...

11 comentários:

Anónimo disse...

Que sugestões poderemos nós propôr à Cultursintra e à Câmara Municipal de Sintra para que o problema do trânsito e estacionamento nas imediações da Quinta da Regaleira possa ser resolvido?
Talvez pudesse ajudar ...

Anónimo disse...

Não assinei por esquecimento.
ereis

Sintra do avesso disse...

Não consegui responder para o endereço que apresentava. Se quiser fazer o favor de contactar-me através do e-mail joaocachado@gmail.com terei o maior prazer em lhe passar o texto com o qual já lhe respondi. Para isso, no entanto, preciso do seu mail já que o noreply apresenta constante failure. Muito obdo.

Sintra do avesso disse...

Transcrevo para este espaço, ainda que resumidamente,a mensagem que pretendi enviar-lhe pela outra via.
.............................

Caro/a Ereis,

Em resposta à sua pertinente questão, não tenho muito a acrescentar em relação ao que tenho escrito, no Jornal de Sintra, ao longo dos anos, acerca do problema. Chamaria a sua atenção para recentes textos, publicados neste mesmo blog (vd. 13.09.07 subordinado ao título Estar à altura, já guardado em Archives), cujas considerações não podem fugir ao conjunto de soluções apontadas, numa estratégia de intervenção articulada e numa perspectiva sistémica, significando isto, como sabe, que tentar resolver um problema isoladamente não é solução na medida em que mexer numa só peça do puzzle afecta o conjunto de todas as peças do mesmo puzzle. E o puzzle é o problema do estacionamento que deve ser abordado de tal modo que a Regaleira nunca aparecerá isolada, como coisa resolúvel independentemente de tudo o resto.

Entre muitos outros, cito parte de um dos meus artigos do JS, publicado em 19.05.06, sob o título «Parques de estacionamento, por favor», numa passagem enquadrada pelo subtítulo «Regaleira? Apenas um exemplo»:

"(...)Vamos ao caso concreto. (...) poderia perfeitamente funcionar um cicuito em mini-autocarro, idêntico aos que já se concretizam, saindo da Portela e terminando em Monserrate, com paragens nos Paços do Concelho, Volta do Duche, Igreja de São Martinho, Regaleira e Seteais. O visitante deixaria o automóvel no parque e, de acordo com a sua disponibilidade de tempo, poderia descer na Vila Velha para ir ao Palácio, mais tarde, sempre com o mesmo título de estacionamento-transporte, retomar a linha de mini-autocarro que o levaria à Regaleira e, assim sucessivamente, ou não, até se decidir regressar ao carro (...)"

Se puder, leia o texto na totalidade. Lá encontrará sugestões de outros percursos similares e a confirmação da impossibilidade do acesso das viaturas particulares junto dos monumentos, como medida de conservação do património que afasta os automóveis dos centros históricos, em tudo quanto é latitude civilizada, para propor os alternativos transportes públicos, amigos do ambiente. Não proponho nada de novo, nada invento. Está tudo descoberto, é só uma questão de adaptação, à escala de cada caso concreto e de acordo com as características específicas.

Por outro lado, também encontrará confirmada a ideia de que nada do que se propõe, em relação a soluções afins do estacionamento, se pode dissociar da concretização de um actualizado e operacional regime de cargas e descargas, do encerramento de determinadas vias ao trânsito apenas possível para viaturas prioritárias, das pertencentes aos residentes e comerciantes, instalação de outros transportes públicos alternativos como linhas de funicular e veículos hipomóveis, para acesso aos lugares cimeiros da Serra onde seria impossível o acesso de automóveis particulares, etc.

Estou ao seu dispor para lhe fornecer, se tal for do seu interesse, uma lista de artigos que subscrevi, publicados no JS acerca do problema do estacionamento que, entre nós, vai perdoar-me a expressão, é tratado com os pés apesar de tão importante para a qualidade de vida dos cidadãos.

Saudações cordiais

Sintra do avesso disse...

Ainda gostaria de acrescentar que, para já, a melhor sugestão que poderíamos propor à Câmara Municipal de Sintra e à Cultursintra, iria no sentido de, enquanto não estiverem concretizadas as alternativas que se impõem - objecto das soluções parciaslmente apontadas no comentário anterior - solicitarem à GNR que cumpra e faça cumprir a Lei vigente, portanto, proibindo o estacionamento dos automóveis sobre os passeios, escandalosa prática que gera um perigosíssimo quadro de insegurança, só comparável a conhecidas situações de terceiro mundo.

Só quem não se deu ao trabalho de ali passar, a pé, num fim de semana, pelas tardes de sábado ou domingo, desconhece o que é o caos instalado numa terra classificada como Paisagem Cultural da Humanidade que mais parece um ordinário muceque.

Não me conformo com a atitude de laxismo e de demissão que a GNR tem protagonizado. Tenho-me insurgido contra a situação, através de correio electrónico, dirigido ao Comando do Posto em Sintra com conhecimento ao gabinete do General Comandante Geral da GNR e também ao Presidente da Câmara Municipal de Sintra.

Se formos mais alguns a fazê-lo, em conjunto, unidos pela força da razão qie assiste às atitudes cívicas, talvez tenhamos mais hipóteses de sucesso do que alguém isolado...

Todavia, não subsiste a mínima dúvida de que, mesmo enquanto não estiverem a funcionar as soluções alternativas propostas, provisórias ou definitivas, nem a Câmara nem a Cultursintra podem fingir que ignoram o assunto, nem a autoridade policial se pode demitir do estrito cumprimento do dever. Sem complacência, sem condescendência, sem a famigerada e corrosiva tolerância que só está a contribuir para descaracterizar esta terra de excepção e privilégio que não merece quem assim a trata.

Zé-Viajante disse...

E está quase tudo dito. Sempre pensei que toda a zona circundante à Regaleira não devia ter carros. Uma boa planificação de pequenos autocarros - com uma eficiente informação - levaria lá todos os que o desejassem. O Parque de estacionamente ficaria fora de Sintra onde deve haver espaço para isso.
E o que é válido para a Regaleira sería para os Palácios Nacional, Pena e Castelo dos Mouros.
Aos Senhores Administradores só lhes faria bem utilizarem os autocarros...

Sintra do avesso disse...

Bom dia!
Caro Viajante,

Espero tenha tido oportunidade de ler as respostas que dirigi a outro comentador, a propósito do assunto que ontem trouxe a público.
Sabe, apesar de tantos anos, a remar contra a maré, continuo a ficar perplexo perante a extrema demora da adopção dos processos que podem resolver questões essenciais para a qualidade de vida dos cidadãos.

Refiro-me a soluções que todos conhecemos, concretizadas em lugares que visitamos ou de que temos conhecimento através da comunicação social, uns mais perto, outros mais longe.

Não há nada, absolutamente nada que possamos discutir e propor que constitua novidade. A única coisa que compete aos decisores, uma vez auscultada a comunidade - e Sintra tem dado os sinais necessários - é
avançar para as soluções já sobejamente estudadas e com provas dadas ao longo de anos de concretização.

E, para o efeito, há que afectar recursos, urge desenhar aqueles processos sofisticadíssimos de engenharia financeira em que tantos técnicos portugueses são peritos, no sentido de ir buscar dinheiro nem que seja na cabeça do tinhoso...

No meio de tudo isto, dava um certo jeito que ressuscitasse o movimento cívico que foi capaz de
lutar contra o projecto de instalar o parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche. Pela minha parte, que me honro de ter sido um dos seus animadores, estou mais que mobilizado!

Das pessoas que participaram, a maioria não se revê nas tíbias, absolutamente irrelevantes posições da associação que, em Sintra, se afirma de Defesa do Património. Mas é tempo de tomar outras posições, corajosas, frontais, de quem, efectivamente, não tem medo de dar a cara por projectos que valham a pena.

Sintra do avesso disse...

Caro Viajante,

Como poderá verificar, quando aceder ao texto que hoje publiquei, fiz a transcrição da resposta que esta mesma manhã lhe propus, como comentário ao seu das 06.31. No entanto, alterei não a substância mas apenas alguns pormenores que, julgo eu, melhor explicitam a minha posição, por exemplo, no que se refere à actuação dos grupos afectos à Defesa do Património. Não pretendo que se interprete como atingindo uma determinada associação porque, na verdade, há outros grupos mais ou menos informais que, tal como um dia escrevi no JS, em vez de se envolverem no sofisticado e, hoje em dia, até profissionalizado, mundo da Defesa do Património, melhor fariam se se dedicassem à protecção dos animais ou à organização de tardes de chá-canasta. Talvez fossem mais úteis e não deixariam de satisfazer o propósito benemerente...

Anónimo disse...

Seria bom que os nossos autarcas lessem aquilo que propõe e com que na generalidade estou de acordo, o que eu duvido.

Mas para começar poderíamos começar por exigir que a G.N.R. fizesse cumprir a lei de não poder estacionar-se em cima dos passeios. Bastava a colocacão de placas no local onde estivesse inscrita essa proibição informando os prevaricadores da respectiva coima.O que iria então acontecer?

Com a dificuldade em arrumar os carros, mesmo para os lados da Vila que em muitos dias é o que se sabe, os potenciais visitantes da Quinta da Regaleira teriam que desistir de efectuar a visita o que iria provocar uma quebra na entrada de Euros nas bilheteiras e levar mesmo o arq. João Alves e os seus adjuntos a criar alternativa para o estacionamento dos seus carros particulares (ou públicos, não sei ...). Aí talvez a Cultursintra através dos autarcas que nela participam se visse obrigada a exercer alguma pressão junto da autarquia para que o problema fosse resolvido ou minimizado.

Eu penso que também a solução de parte deste problema do trânsito passaria por criar de uma forma criativa e sugestiva a vontade de levar as pessoas a visitar a pé a Vila de Sintra. Nós conhecemos a lógica dos automobilistas em que o levar o carro até à porta é o que prevalece na maior parte dos casos.

Quanto à mobilização dos sintrenses pela defesa de causas a tradição é muito pobrezinha. Senão veja, só para citar um caso recente,quantos artigos, mesmo de opinião, viu publicados em jornais locais, o de Sintra por exemplo, acerca do abate de árvores e da forma como está a ser efectuada pela Parques de Sintra Monte da Lua, a erradicação das infestantes na Tapada D.Fernando e na Serra de Sintra? Leu algum artigo ou algum manifesto sobre este assunto? Quantas intervenções de sintrenses viu, através de comentários nos blogues que se ocuparam desta situação? E há-os, de certeza, informados e lúcidos.

A defesa da Volta do Duche foi um caso esporádico e bem particular. ERA PRECISO QUE FOSSEMOS MUITOS A ENVOLVERMO-NOS NOS ASSUNTOS E PROBLEMAS QUE DIZEM RESPEITO A SINTRA. Lá diz o ditado que a união faz a força.
ereis

Anónimo disse...

Caros senhores,
Apontar o dedo é muito fácil...o difícil é a articulação do pensamento, no sentido de perceber as limitações existentes para o estacionamento, que como é óbvio, é um problema a precisar de solução.

Sintra do avesso disse...

Resposta a anónimo sobre Comº 12.11.07

Não deixa de ser curioso que o seu comentário sobre um texto que publiquei em 23 de Outubro, portanto, há quase três semanas, só agora apareça e, sintomaticamente, depois de o Jornal de Sintra o ter acolhido na sua edição de 9 do corrente.

O senhor não tem a obrigação de saber o que tenho escrito e sempre assinado tanto no contexto deste blog como no Jornal de Sintra ou na Sintras Regional, por exemplo - só para referir estes três media sintrenses - através dos quais abordei o escandaloso caso do estacionamento caótico junto à Quinta da Regaleira.

Sempre que o tenho feito, apontando o dedo a quem poderia e não lhe convém resolver a situação, jamais deixo de apontar a solução. Não o maçaria com a recomendação dos inúmeros artigos nos órgãos da imprensa regional citados. Todavia, só neste blog, poderá encontrar matéria afim nos textos publicados em:
13.09, Estar à altura; 14.09, Na falta de alternativa; 10.10, Quinta da Regaleira, insegurança institucionalizada I; 11.10, Quinta da Regaleira, insegurança institucionalizada II; 19.10, Uma polícia sem estratégia; 23.10, Regaleira, os senhores da ilha; 24.10, Ilha da Regaleira II.

Verificará, estou certo, também pela leitura dos comentários, que as soluções estão apontadas. Aliás, não há ponta de originalidade porque o caso da Regaleira é igual a milhares onde jamais se acederá com o carro à porta... Mas tenha a paciência de ler os textos para verificar como, na nossa modesta opinião (minha e de vários comentaristas)que a questão da Regaleira não é especial nem isolada, antes faz parte de um conjunto de situações cuja resolução só pode ser integrada e resultante de uma visão sistémica.

Apontar o dedo é fácil. Mas as limitações existentes não autorizam absolutamente ninguém responsável - CulturSintra, Câmara Municipal de Sintra, Guarda Nacional Republicana - a demitirem-se das suas obrigações.

Enquanto não houver alternativa, nos termos das soluções apontadas, não pode alguém ficar descansado perante o caos que se arma, em especial aos fins de semana, com cenas de autêntico terceiro mundo, uma situação extremamente perigosa que um dia destes pode custar a vida a alguém que precise de socorro médico (na Villa Roma ou no Hotel de Seteais, por exemplo) e ele não possa chegar porque está tudo entupido...) Eu já assisti a um problema destes.

Finalmente, ainda gostaria de recomendar a leitura da resposta que dirigi a António Silvestre a propósito de um comentário muito afim do seu.

Muito obrigado pelo interesse.

João Cachado