E nada mais dei à estampa. Aquele texto, que intitulei Quase um manifesto, foi ficando suspenso no tempo, para introduzir, já em 12 de Setembro, as Notas Diárias cuja periodicidade deu origem a um conjunto de sessenta e cinco artigos, que contam com a fidelização de muitos leitores, num total de quase quatro mil visitas, ultrapassando as minhas expectativas mais optimistas.
É lamentável que, hoje em dia, pelo simples facto de protestar, o cidadão se sujeita a incómodos que pouco diferem do que se passa nos regimes não democraticos. Assim sendo, numa conjuntura que não é mesmo nada propícia à intervenção cívica, também não deixa de ser significativo que o referido total das mensagens publicadas tenha recebido quase duas centenas de comentários. Alguns desses textos de retorno são de tal qualidade, tão interessantes, que acalentam a minha disposição de prosseguir.
A título de exemplo do que acabo de afirmar, acerca da qualidade dos comentários, permito-me chamar a atenção para o teor do texto (assinado por Saloio), subsequente ao meu do passado dia 7, subordinado ao título Heliodoro Salgado, remédio qb. Por me parecer que merece maior visibilidade, amanhã darei continuidade à abordagem do assunto como mensagem principal.
4 comentários:
Meu caro co-munícipe Jão Cachado,
Em primeiro lugar as minhas felicitações por este blogue e por se aproximar do seu primeiro anito. Não é nada mau, num concelho em que os responsáveis gostarão muito mais do silêncio. Aliás o Presidente da Câmara, há alguns meses, referia que o silêncio vale muito dinheiro, ficando-me a dúvida sobre que tipo de leitura devemos fazer.
Por admitir que possa ajudar à análise da problemática Heliodoro Salgado, hoje chamaria à colação três vertentes muito interessantes.
A Primeira, relacionada com o Plano de Urbanização de Sintra, da responsabilidade de Eugène De Gröer - que uma vezes, quando interessa, serve e outras, quando não interessa, ninguém quer invocar - do qual resultou a retirada das linhas de eléctrico, alegadamente por fazer muito ruiído!!!
A segunda, os interesses na pedonal da HS, daí resultando que o terminal rodoviário passasse para a Portela, o que teve como consequência a desertificação da Estefânia, já que muita gente que saía do comboio em Sintra, caminhava até à Estefânia, onde fazia as suas compras.
Terceio, para mim, e com o esquema montado, a estação da CP de Sintra esteve à beira de ser encerrada, dando lugar a um terminal ferroviário na Portela. Estes terrenos eram capazes de valer muito dinheiro, tanto mais que - e agora já valeria o Plano De Gröer - o arquitecto era apologista de construções na área, aproveitando a...antiga cadeia. Que está ali quase a cair e depois se verá!!!
Permito-me até recordar que, no princípio do primeiro mandato pós Edite Estrela, a transportadora ainda retirou as últimas carreiras da Estação de Sintra, valendo-nos a antiga Vereadora Guadalupe Gonçalves - que não lhes dava muita confiança nem os tratava por tu - que os obrigou a retomar as carreiras na Estação de Sintra.
Na altura do encerramento da HS à circulação de veículos, a antiga Presidente Edite Estrela até facilitava a abertura de mais esplanadas no local, julgo que sem pagamentos de taxas, e os comerciantes pouco aproveitaram.
Para finalizar, direi que fico sempre muito feliz quando um qualquer evento enche a Av. Heliodoro Salgado de gente, música ou espírito de fraterna convivência, de que guardo fotos inesquecíveis.
Um abraço
Caro João,
Eu em contrapartida, não podia estar mais de acordo.
Tenho 33 anos de Sintra no sangue e nos poros. E, muito em particular, da Estefânea e de toda a envolvente da Av. Heliodoro Salgado.
Na minha opinião, e porque não gosto de estar com meias medidas, a Heliodoro Salgado é um bidé deprimente, que infelizmente se prolonga pela Desidério Camburnac fora, bem como pela Câmara Pestana.
A ideia de transformar a H.S. numa via pedonal só fazia sentido se esta (apesar dos seus curtos 80m) ficasse efectivamente dotada de comércio, serviços e equipamentos que dessem vida à mesma, animassem o dito percurso pedonal e acima de tudo justificassem esta opção.
Tendo estudado arquitectura, fico exponencialmente deprimido com o resultado final. Se não é um desastre, anda lá perto.
Mais: um percurso pedonal só faz sentido quando inserido num determinado contexto e quando tem continuidade. Este, além de desagregado e fragmentado, pouco oferece, estando no limiar do patético sob quase todos os pontos de vista.
Recomendo a leitura das seguintes obras: "A Paisagem Urbana" de Gordon Cullen, ou "A Imagem da Cidade" de Kevin Lynch, para que se tenha uma noção formal e universalmente aceite do que pode e deve constituir uma experiência e vivência urbana interessantes.
A H.S. que conheci, apesar de algum caos, tinha vida. A H.S. deixou de ser uma via orgânica com problemas, para se transformar numa proposta com mais problemas ainda, só que desta feita, inorgânica.
A H.S. do presente, não só está morta, como fede e tem bolor... precisa de ser enterrada.
Para ter uma via pedonal com este desfecho, prefiro a H.S. antiga, ou em alternativa, que se faça uma nova intervenção que faça sentido e que devolva no mínimo alguma orgânica ao percurso e à envolvente. Uma intervenção que crie uma via pedonal efectivamente agradável, esteticamente aprazível e simultaneamente funcional.
Quiçá, que não sirva determinados interesses...
Com um planeamento e gestão adequados ao nível autárquico, podia-se ter evitado, por exemplo, uma concentração de “n” sucursais bancárias numa distância tão curta, dando lugar a outras alternativas; edifícios habitacionais degradados ou desabitados; contentores de lixo semeados estrategicamente no pior sítio possível; bancos de jardim sem sentido; desastre ao nível da sinalética dos espaços comerciais; materiais e pavimento que representam um erro crasso em termos de estética e bom gosto; opções cromáticas nas fachadas dos edifícios desajustadas; distribuição da oferta em termos de espaços (comerciais e serviços) absolutamente discutível ou claramente ridícula, etc.
Além disso, nem sequer me vou dar ao trabalho de dar exemplos de cidades, vilas e aldeias espalhadas por esse mundo fora, que conseguem, com sucesso comprovado, fazer com que o trânsito conviva de forma harmoniosa com propostas pedonais, de comércio e serviços, gerando espaços de qualidade e permitindo experiências enriquecedoras.
Aqui no burgo, a solução normalmente passa por, das três uma: abrir ao trânsito, fechar ao trânsito ou colocar uma rotunda – mas isso já é outra história.
Um abraço e muitos parabéns pelo blogue!
Saloio, Caro amigo,
Como poderá verificar, respondi aos seus reparos já no espaço correspondente ao texto ontem publicado. Espero merecer a continuação do seu apoio apesar de divergências perfeitamente saudáveis.
Permita-me que corrija um pormenor. Este blog tem apenas três meses de existência. A Linha editorial é que foi traçada a 10 de Janeiro de 2007. Mas, entre essa data e 12 de Setembro, pura e simplesmente não existiu. Portanto, a estatística apenas se refere a um trimestre.
Um abraço
Para Spirale,
É bom encontrar tamanha afinidade de ideias acerca de determinado assunto. Creio, aliás, tratar-se não só de afinidade de ideias mas também de estratégias de resolução.
A mensagem que ontem publiquei, com uma expressa referência a Spirale no último parágrafo, evidencia toda a satisfação por este «encontro».
Grato e na expectativa de mais contributos,
As melhores saudações do
João Cachado
Enviar um comentário