[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008


Negócios...


Ao passar pela Heliodoro Salgado, cruzando-me com dois amigos à porta da dependência do Millenium, a conversa abordou de imediato o descalabro dos recentes eventos para, logo de seguida, ficar a saber a última anedota, com a Opus Dei a sair muito mal tratada… Eis um pequeno episódio que, naturalmente, se poderia multiplicar por milhares por esse país fora, a atestar o incalculável prejuízo que o BCP estará sofrendo na sua imagem pública e a corroer, dia a dia, o valor de mercado das respectivas acções.
Na edição do Expresso de 29 de Dezembro só para citar um exemplo daquele fim de semana - quer Miguel Sousa Tavares quer António Barreto davam a entender ou afirmavam mesmo que, noutras civilizadas latitudes, práticas fraudulentas como as que vieram à luz do dia, equivaleriam a prisão pela certa dos seus autores. Depois da distracção do Banco de Portugal e da CMVM, que parece só terem acordado da letargia quando os americanos começarem a meter a colherada no assunto, ainda não é previsível o desfecho do caso.


Para já, de uma vez por todas, caiu e se desfez o paradigma da competência imaculada dos administradores, gestores e directores do sector privado! Agora, os amanuenses balconistas vão fazer o quê, daqueles fatos completos de cangalheiro engravatado, símbolo de uma filosofia da empresa, assumida à mistura com a diáfana imagem de impolutos patrões, muito católicos e respeitáveis? Agora, com um grande chefe vindo do sector público - que paradoxo! - manter-se-ão os adereços?


A Joe Berardo, com todas as suas contradições, defeitos e virtudes, ficam a dever os portugueses a sistemática denúncia dos escabrosos negócios cuja existência, pelos vistos, não era desconhecida nos mentideiros frequentados pelas comadres antes da pública zanga. Sem a atitude do Comendador, servida pelo desabrido estilo do costume, até quando continuaria o farisaísmo do BCP a abotoar a conveniente capa de santidade?


Não deixa de vir a propósito lembrar ter sido com Joe Berardo que a Câmara Municipal de Sintra celebrou um protocolo, nos termos do qual parte da sua colecção de obras de Arte permanece disponível, num museu que já se tornou referência nacional e internacional. Tal acordo, que remonta ao tempo da presidência de Edite Estrela, foi recentemente renovado. Apesar de algumas ignorantes vozes se terem levantado contra, Sintra e Joe Berardo só têm vantagens nesse que é limpíssimo negócio...

9 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Já verificou que estou de volta. Ainda bem que o Jornal de Sintra publicou aquele seu artigo sobre os cabos de alta tensão que assim atinge mais público. Talvez alguém reaja como eu noutro dia.
Acerca dos negócios do BCP é um escândalo como o Jardim Gonçalves aparece com aquela capa de santo. Como católica não aponto o dedo a ninguém mas de facto não deve haver maior fariseu.
Quanto ao Joe Berardo vai desculpar mas parece que o Dr. Cachado não está a ver bem o esquema. Na minha opinião ele só falou por conveniência e não por defender a verdade ou qualquer intenção nobre. Ainda vai correr muita tinta.

Muitos cumprimentos

Rosário Peres

Sintra do avesso disse...

Para Rosário Peres,

Pode ser que tenha razão. Hoje mesmo, já terei lido ou ouvido notícias dando conta de que estarão sendo investigados créditos concedidos ao Comendador Berardo...

Não costumo fazer nem gosto de colaborar em processos de intenção.
Por enquanto, não tenho razões para pôr em causa que, ao proceder de acordo com o que veio a público, estará defendendo os seus interesses de maior accionista e, em simultâneo, contribuindo para o conhecimento de fraudes e graves irregularidades. Apenas isto. Entretanto, vou estando atento "(...) para não confundir Manuel Germano com género humano" como escrevia Mário de Carvalho em "Casos do Beco das Sardinheiras".

Cordiais saudações

Anónimo disse...

Caro Sr. João Cachado,
Li no Jornal de Sintra o seu comentário, sob o título "Negócios.." e, apesar das minhas insuficiências no uso deste instrumento, resolvi intervir com um comentário ao seu comentário. Devo informá-lo, desde já, que fui empregado num Banco incorporado em 2000 no BCP e é este que me paga a pensão de reforma.
Sinceramente, não gostei da forma como resolveu intervir no chamado caso "BCP", nem vejo o porquê dessa intervenção.
A não ser que tambem tenha querido contribuir para "...o incálculável prejuizo que o BCP estará sofrendo na sua imagem pública..." e, ao mesmo tempo, dar umas bicadas na Opus Dei, na Igreja Católica e, pasme-se, nos empregados do Banco.
De facto, com os termos usados ("Agora, os amanuenses... etc. etc.)o senhor procura ridicularizar todos os que trabalham ou trabalharam no Banco.Permita-me uma interrogação: sofreu algum "traumatismo" em qualquer relacionamento com o Banco ou a sua acrimónia é devida pelo facto de se tratar do maior Banco Privado?;
Permita-me também um palpite: o BCP continuará a ser o maior banco privado, porque tem Quadros e Pessoal da mais elevada craveira,independentemente de quem seam os próximos Administradores.
E já agora, como V. é de facto uma pessoa da Cultura, aproveito para lhe lembrar que o Banco é, se não o maior, um dos maiores mecenas da Cultura neste País.
Aceite os meus cumprimentos e o desabafo que não posso evitar.
JAIME CORVO/Colares

Sintra do avesso disse...

Caro Sr. Jaime Corvo,


Ou muito enganado estarei ou
tudo quanto, neste caso do BCP, foi e tem sido discutido na praça pública, é algo que jamais deveria acontecer a uma entidade bancária.

A descrição, a negação de atitudes que possam induzir qualquer prática de devassa própria ou alheia, são princípios sagrados que nos habituámos a «ler», quer nos contornos do discurso quer na acção permanente de qualquer pequeno, médio ou grande banco.

Pelas piores razões, toda esta cultura foi posta em causa. E, nada mais nada menos, foram os próprios gestores top do BCP os máximos responsáveis pelo desassossego em que todos nos vimos envolvidos, accionistas, clientes, cidadãos em geral.

Se há coisa que eu estimo particularmente, é o empreendimento estável, credível, respeitável, eficaz, de natureza pública ou privada. Para mim e, estou certo, para milhões de portugueses, o BCP inscrevia-se neste figurino de entidades cuja definição quase o remetia à categoria de autêntica instituição.

Pois bem, de um momento para o outro, a estabilidade, a credibilidade, a respeitabilidade de uma casa, que se afirmara pela observância de inatacáveis princípios, foi flagrantemente posta em causa, pelos próprios gestores e conceptores do projecto, contribuindo para a instalação de um ambiente, não só totalmente adverso aos seus mais gerais e específicos objectivos, mas também gerando uma inusitada perturbação no sistema financeiro em geral e na bolsa de valores em particular.

Mesmo sem entrar em pormenores, já do domínio e conhecimento públicos, é impossível negar quão incalculáveis serão os prejuízos causados pela prática daquelas que, tão eufemisticamente, têm sido classificadas e designadas como «irregularidades». É escusado tapar o Sol com a peneira. O desgaste diário no valor das acções, o descrédito público, a anedota, tanto a mais soez como a sofisticada, são indícios inequívocos de uma situação que, ao fim e ao cabo, ninguém pode deixar de lamentar porquanto o prejuízo não é apenas dos directamente interessados mas de todos em geral. Efectivamente, em casos que tais, mesmo relativos a privados negócios, toda a comunidade é afectada.

Parece-me, Senhor Jaime Corvo, que, na sua qualidade de bancário, ainda que aposentado - tal é a situação que depreendo das suas palavras - não poderá deixar de concordar com as considerações que venho expendendo, que ditaram, enquadram e justificam a intervenção que me permiti subscrever neste suporte informático, a qual, aliás, foi reproduzida e publicada pelo Jornal de Sintra na sua última edição.

Solicitaria um pouco mais da sua compreensão no sentido de que possa e acabe por entender não ter sido eu a ridicularizar e ofender a Opus Dei ou a Igreja Católica ou os empregados do BCP. De tal tarefa, isso sim, farisaicamente se encarregaram, como sabe, as últimas pessoas que imaginaríamos capazes da façanha. E de que maneira!...

Na minha qualidade de modesto escrevente - à qual o Senhor Jaime Corvo, com generosidade, atribui uma relação com o mundo da Cultura - tão somente me limitei a dar expressão a comentários da vox populi, que tanto colho, a céu aberto, em plena Heliodoro Salgado como na informal tertúlia do Grémio Literário.

Naturalmente, acompanho a actividade mecenática do Millenium BCP. Como melómano inveterado, não posso deixar de reconhecer o benefício de tal atitude, por exemplo, no patrocínio da temporada do São Carlos, em especial, durante o período em que Paolo Pinamonte foi director daquete teatro. Mas isto é apenas um pormenor. Aliás, como não poderia deixar de acontecer, neste domínio, o Millenium BCP é digno herdeiro do Banco Português do Atlântico e de seu fundador, o magnífico Artur Cupertino de Miranda que, falecido em 1988, apenas há vinte anos, parece ter sido esquecido.

Finalmente, gostaria de lhe assegurar que muito estimo mas jamais tive nem tenho qualquer relação com o BCP. Nestes termos, não poderei ter sofrido qualquer trauma decorrente de contactos inexistentes.

Por outro lado, como julgo ter demonstrado, nenhuma acrimónia me anima em cruzada contra o BCP. Muito folgo pelo facto de ser o maior banco privado português e, acredite, ficarei muito mais feliz e contente depois de esclarecida toda a verdade, na sequência da investigação ainda em curso.

Também me daria muito prazer se,uma vez vencida esta barreira de comunicação, a pretexto de um artigo que, infelizmente, o afectou, pudesse continuar a merecer o favor das suas observações.

Aproveito a oportunidade para, ainda a tempo, lhe desejar um Bom Ano Novo.

As melhores saudações do

João Cachado

Anónimo disse...

Caro Sr. João Cachado,

Não foi nada modesto escrevente, ao menos pela quantidade da prosa, já que, espremida, tem pouco sumo e é mais do mesmo.
O Jaime Corvo e os Colegas do BCP que eventualmente leram a sua prosa,ficaram ("infelizmente") afectados pela inconveniência, mesmo má criação,com que a eles se referiu.
Isso não obsta a que, sinceramente, agradeça e retribua os seus votos (espero que ,também, sinceros, de um Bom Ano Novo.
Jaime Corvo / Colares 16.1.2008

Anónimo disse...

Caro Dr. João Cachado,

Só hoje percebi que ainda havia reacções ao seu post do dia 3 do corrente. A minha intervenção foi a primeira e mantenho a opinião. Mas percebo que este senhor Corvo de Colares se sinta atingido como empregado do banco. Acho que não quis ofender. Para mim aqueles amanuenses balconistas não pretendem ofender os empregados do BCP. Quanto a mim é o seu estilo. Às vezes o Dr. Cachado vai buscar estas expressões engraçadas e antigas aplicando a questões actuais. Já leio a sua prosa há anos e sei que é assim. Talvez o Sr. Cravo acabe por entender que o seu antigo patrão Jardim Gonçalves como o Dr. Cachado dize que ofendeu os empregados, os clientes e os accionistas do BCP. Como eu disse logo no dia 7, sempre com capa de santo.

Cumprimentos

Rosário Peres

Sintra do avesso disse...

Para Rosário Peres,

Muito obrigado. Em relação às razões de queixa do Sr. Jaime Cravo, de Colares, peço-lhe licença para aproveitar esta sua mensagem, no sentido de a remeter ao ofendido. Sem lhe ter encomendado o sermão, a senhora revelou-se a melhor advogada dos meus argumentos. O facto de me conhecer a prosa é uma vantagem, não haja dúvida, para salvaguarda dos efeitos perversos da comunicação. Quantas e quantas vezes, sem que o pretendamos, aquilo que dizemos ou escrevemos acaba por ter consequências que não prevíamos.

Mais uma vez, os meus agradecimentos e as melhores saudações do


João Cachado

Sintra do avesso disse...

Para Jaime Cravo,

Faço minhas as palavras de Rosário Peres, na sua mensagem datada de hoje às 13.13 horas, quando se refere ao meu estilo. Peço-lho o favor de, igualmente, ler a minha resposta de há minutos.

Melhores saudações do

João Cachado

Anónimo disse...

Caro Sr. João Cachado,
Apesar da intervenção da sua "melhor advogada", persisto na ideia de que V., em 12 linhas, pretendeu apoucar /ridicularizar/ ofender os empregados bancários do BCP.
Poderão dizer que é assim o seu estilo, mas, pergunto, isso é suficiente para que tenhamos de aceitá-lo?;
O Sr., culto, superiormente educado, viajado, tem assim tanta dificuldade em entender que quem o lê tenha sentimentos, brio pessoal e profissional, orgulho de trabalhar nesta INSTITUIÇÃO?;
Dado que não admite que a terminologia usada foi, no mínimo, infeliz, sou levado a concluir que de facto V. pretende "punir" os empregados do Banco pelas eventuais faltas cometidas pelos "patrões" cessantes, ficando ainda na expectativa de que os novos "patrões" prolonguem a punição.
É minha convicção que a poeira levantada com tantas opiniões, factos, nomes, tem que assentar e, na essencia, o Banco permanecerá, para bem de TODOS.(Público/Clientela, "Patrões"/Accionistas, Empregados, País).
Apesar de tudo, gostei de trocar estas mensagens consigo; talvez haja oportunidade para reincidir.
Delicidades, Dr. João Cachado.
JAIME CORVO/Colares