[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008





Recomendação

Se tiverem lido os textos que preencheram as páginas deste blogue nos últimos quatro dias, terão percebido o alto apreço que nutro pelo meu fraternal amigo e companheiro de ideais António Arnault. Efectivamente, de há muitos anos a esta parte, ele é para mim uma verdadeira referência e paradigma da impoluta figura de político que soube e sabe servir o povo sem jamais se servir em benefício próprio.

É este homem de fortes convicções, discretíssimo, lutador, cuja atitude de intervenção cívica é cúmplice de Raul Rego, Fernando Vale e, muito mais remotamente, por exemplo, de Fernandes Tomás - o “patriarca da Liberdade Portuguesa” hoje em dia tão injustamente esquecido e quase desconhecido – que, recentemente, escreveu e publicou um romance cuja leitura pretendo recomendar.

Rio de Sombras é uma obra de ficção, cuja trama se serve de manifestas menções autobiográficas, umas vezes mais explícitas e, noutros casos, insinuadas ou implícitas, num quadro de referências ante e post Vinte e Cinco de Abril, que se inscreve num relativamente recente conjunto de obras da Literatura Portuguesa, testemunho do desencanto que afecta todos os grandes visionários, uma vez desrespeitados, aviltados e abastardados os mais fascinantes ideais.

Na recensão crítica a esta obra, que Eugénio Montoito escreveu e o Jornal de Sintra publicou na edição do passado dia 11, pode ler-se que “(…) Sem pretender ser um romance histórico ou um romance sociológico, os retratos ficcionados são demonstrativos das realidades comportamentais e mentais de dois momentos distintos, mas contíguos, na cronologia histórica das três últimas décadas do século passado (…) Alguns episódios, politicamente caricatos, ilustram a narrativa dando-lhe a autoral irreverência anunciada e, em paralelo, demonstram as fragilidades do sonho e o descaminho da vontade inicial”.

Vão por mim. Leiam Rio de Sombras (Coimbra Editora) e verão como bem escreve um grande senhor, cujo fino trato das letras se descortina a cada passo, numa poética do desacerto de dias de desvario, de insanidade e incompetência, enquanto o regime democrático se debilita e desacredita, num espesso quotidiano de incomodidades e desconfortos que só os mais lúcidos habitam.

NB:

Para participar na Mozartwoche, o festival mais célebre do mundo exclusivamente relacionado com Mozart, estou de partida para a minha habitual deslocação a Salzburg, nesta altura do ano, donde regressarei a 5 de Fevereiro. Durante quase vinte dias, vou assistir a dezenas de concertos, recitais, récitas de ópera, exposições, conferências, filmes, trabalharei o que puder na Biblioteca Mozartiana da Fundação Internacional do Mozarteum de que sou membro.

Vai ser um tempo de exclusiva dedicação a Mozart e aos meus amigos desta cidade que, há tantos anos me tem cativo. Como habitualmente, publicarei no Jornal de Sintra as minhas impressões. Agora, com o sintradoavesso a funcionar, não vos dispensarei deste mesmo assunto nas Notas Diárias que, portanto, só voltarão depois do Carnaval.

6 comentários:

Anónimo disse...

Dr João Cachado:

Espero que esteja a passar umas boas semanas em Salzburg. Quem me dera a mim também.
Embora só volte depois do carnaval, deve ter meios para ver as mensagens que aparecem no seu blogue. Tenho muito prazer em dizer-lhe que o senhor tem acertado em várias situações que estão a apoquentar os portugueses nos últimos tempos.
É o caso da saúde e o seu elogio ao Dr. António Arnault que hoje não há ninguém que não faça. Mas o Dr. Cachado foi o primeiro. E também ao Manuel Alegre.
Noutro campo, o caso do BCP. Escreveu o senhor, mesmo no princípio de Janeiro que estava demonstrado que a gestão dos privados era uma farsa. Pois ontem o Professor Marcelo disse exactamente a mesma coisa.
Parece-me que o seu blogue devia dedicar-se mais a problemas gerais e de vez em quando a Sintra. Acho que o senhor é um bom comentador político.
Continuação de boa estadia na Áustria e cumprimentos

Artur Sá

Nes disse...

Espero que a viagem esteja a ser fantástica, tanto como o sítio parece querer mostrar.
Espero, também, para o ano, ter o prazer de conhecer os encantos dessa cidade com um guia à altura!(Se é que me faço entender...) Quem sabe não passará por mim uma Fraulein Maria...

Inês Santos Costa

pedro macieira disse...

Caro João Cachado,

Aproveitando a circunstância de ir tratar do meu blog, o caso dos edifícios “empacotados” no Centro Histórico de Sintra, e hoje no Jornal de Sintra publicar um artigo seu sobre o mesmo tema, tomei a liberdade de transcrever uma parte do seu texto, ilustrando com fotos minhas o post.
Um abraço
Pedro Macieira
http://www.riodasmacas.blogspot.com

Sintra do avesso disse...

Caro amigo, Sr. Artur Sá,

Veja lá que regressei no fim da passada semana e só hoje consigo começar a respoder a quem, entretanto, me interpelou.

Muito obrigado pela impress~«ao que me transmite acerca da coincidência das minhas observações com as de conhecidos comentaristas cá do burgo.

Talvez seja interessante abrir outro blogue onde tratar de questões para além de Sintra. Na verdade, se os leitores estão à espera de assuntos relativos a esta terra, não há qualquer vantagem em não corresponder à expectativa.

Melhores saudações

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Para Inês Santos Costa,

Queira fazer o favor de me fornecer mais coordenadas. Não tenha dúvida que Salzburg é um encanto e um compêndio aberto com capítulos interessantíssimos para ler, acerca de vários assuntos muito afins da música, da musicologia, da preservação do património, uma cidade onde os cidadãos se confessam felizes.
Uma grande parte dos meus afectos repareto-os por Salzburg, também por Luzern e Bayreuth, acerca das quais não escrevo tanto publicamente mas que, igualmente, são locais de eleição, onde me desloco frequentemente, há dezenas de anos.
Pergunte o que quiser que tentarei estar à altura do seu interesse.

Melhores saudações do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Caro Pedro Macieira,

Naturalmente, muito lhe agradeço pela atenção ao texto a partir do qual decidiu fazer a citação de que me deu conta.

Inicialmente,esse texto, foi publicado aqui, no sintradoavesso, em 04.12.07. No entanto, acerca do mesmo assunto, no Jornal de Sintra, em artigos datados do ano de 2006, respectivamente, de 20 de Janeiro "Quem cala... (II)" com fotografia alusiva, e 29 de Setembro "Tapumes de Sintra", com seis esclarecedoras imagens, encontrará o Pedro Macieira mais matéria acerca desta pouca vergonha.

Muitos parabéns pelo excelente trabaho de denúncia que empreendeu. Coragem! Não caia no desânimo que hoje, por exemplo, dou a entender no meu texto, a propósito dos candeeiros que a CMS instalou recentemente na Volta do Duche.

Um abraço cúmplice do

João Cachado