[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


Teleférico?


No dia 25 do passado mês de Janeiro, o Jornal de Sintra publicava o artigo de Fernando Castelo, subordinado ao título Novelas de Sintra, ao qual apenas neste momento me é possível reagir, já que estive ausente quase três semanas, por ocasião de umas das minhas habituais deslocações a Salzburg. Aproveito a oportunidade, aliás, para anunciar que, muito proximamente, como é habitual, darei conta aos leitores das impressões colhidas no festival de música de Inverno naquela cidade austríaca.

Voltemos, então, ao artigo citado, que me suscitou a mais viva curiosidade, ao referir o anúncio da instalação de um teleférico para a Pena, a partir de terrenos pertencentes a um clube local, com a contrapartida de uma renda a liquidar pela Câmara Municipal de Sintra. E mais. Que tal anúncio fora feito, não pela edilidade, mas pelo presidente do tal clube.

Bem, como é de calcular, fiquei perfeitamente perplexo. Todavia, sem pôr em causa o crédito que devo ao nosso amigo Fernando Castelo, pessoa incapaz de uma brincadeira de mau gosto, mesmo em vésperas de Carnaval, procurei a aludida notícia, publicada no Diário de Notícias de 22 de Dezembro do ano findo.

Pormenores

Trata-se de matéria a ocupar toda uma página daquele jornal, encimada por sinopse a três linhas, onde se lê, a propósito do Clube 1º de Dezembro, que “(…) em 2008, graças ao novo meio de transporte para a Pena a situação financeira pode melhorar”. Imediatamente abaixo, em grande parangona, um título a toda a largura da página, reforça a ideia anterior: À espera do teleférico para o palácio.

E lá está, preto no branco, como soe dizer-se, absolutamente inequívoca, a notícia que passo a citar: “(…) Mas hão-de surgir dias melhores. O teleférico que vai fazer o transporte para o Palácio da Pena terá como ponto de embarque o Estádio do 1º de Dezembro e isso vai ajudar “financeiramente” o clube, que vai receber uma renda da autarquia, devido à cedência do terreno (…)”.

Claro que só podia tratar-se de uma, sempre compreensível, gafe do Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro Penaferrim, um autarca que, como acontece em tantos lugares por esse país fora, acumula tais funções com as de Presidente da Direcção do Clube em questão.

Ausência de reacção

E, não me ocorrendo que pudesse existir outra justificação para que a novidade fosse avançada pelo Senhor Presidente da Junta e não pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra, tratei de indagar se teria havido qualquer desmentido ou tomada de posição do município que, de algum modo, contribuísse para o esclarecimento da situação.

Esforço vão o meu. Nada. No entanto, das minhas diligências, resultou a impressão de que, não terá havido qualquer reacção ao texto de Fernando Castelo, nem por parte da Câmara nem de cidadãos, circunstância infelizmente concludente quanto à ideia de que, na generalidade, as pessoas se vão demitindo da saudável participação na resolução dos assuntos que afectam a comunidade.

Por muito estranho que possamos considerar, o facto ao qual se reporta a notícia em questão, de algum modo, não passaria de fait divers, quase uma anedota local, não fosse o caso de se relacionar com um dispositivo que, pelas suas características, merece mais algumas considerações. Até porque me parece haver confusão entre este e outro meio de transporte. Amanhã, continuaremos com este mesmo assunto.

4 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado, munícipe interessado nas coisas de Sintra, na minha visão sobre este assunto penso que só temos que agradecer a quem divulgou tão bem guardado segredo, pois se não fosse o presidente do 1º de Dezembro ainda agora estaríamos na ignorância plena.
Os meus medos prendem-se exactamente com os segredos que por aí andarão sobre coisas que podem revestir-se de importância igual ou maior que esta.
Ainda bem que se soube desta instalação de um teleférico em Sintra, quando durante tantos anos os pedidos para instalação de funiculares ou ascensores de cremalheira foram propostos e ninguém decidiu em conformidade. Até De Gröer, cujo Plano de Sintra tantas vezes é invocado para travar as mais variadas obras, os propunha e nada.
Em síntese, salvo melhor opinião, se fosse mentira o Senhor Presidente da Câmara, face ao tempo decorrido, já teria marcado uma conferência com jornalistas para o desmentido, já que o silêncio nestas coisas não serve a comunidade.
Fico aguardando a segunda parte.

Anónimo disse...

Caro Senhor João Cachado,
Este assunto, de que só agora soube, tem uma particularidade de não sabermos a quem louvar pelos feitos ou criticar pelos defeitos.
Nestes tempos, é estranho o silêncio dos órgãos de informação com cobertura nacional no que se relaciona com Sintra. Nem me passa pela cabeça que ande por cá uma Lei da Rolha, mas que nada dizem do nosso concelho, lá isso é verdade.
Será que nas Redacções não estranham o pouco trabalho dos seus jornalistas, num território tão amplo e com tanto problema? Ou ter-se-ão passado a dedicar ao futebol?
A propósito do Teleférico, estou a tentar obter um exemplar do Diário de Notícias, para recordação e atquivo histórico.
Por sinal, há alguns anos, fui uma felizarda ao assistir em Seteais à apresentação, com pompa e circunstância, das ciclovias, feita por uma responsável Arquitecta, que muito sofrerá agora por ter dado a cara nesse dia.
Será que os procedimentos mudaram? Em vez de anúncios sem obras pode ser que agora se façam sem anúncios.
Esta a minha forma de ver a coisa, pelo que acabo com as mesmas dúvidas, melhor, cada vez sei menos a quem louvar.

Sintra do avesso disse...

Fernando Castelo, Caro amigo,

Em primeiro lugar, a agradecer-lhe o ensejo que o seu artigo no Jornal de Sintra me ofereceu para abordar o assunto.

Numa terra de cidadãos, autarcas, técnicos, no geral gente muito destituída de informaçãp - não gostou deste eufemismo? - fica uma pessoa quase sem jeito ao referir estes caricatos episódios.

O presidente de um pequeno clube de futebol, que também presidente de uma Junta de Freguesia, anuncia a instalação de um teleférico que, afinal, não é teleférico e só pode ser funicular, enquanto o Presidente da Câmara, que devia fazer tal anúncio - se tal notícia, efectivamente, corresponde a algum projecto cujo diagnóstico e todos os estudos prévios tenham sido concretizados -se mantém num silêncio comprometedor a vários títulos.
Isto só cá por casa...

Entretanto, sairá na próxima sexta-feira um artigo no JS, correspondente aos dois textos publicados no blogue sintradoavesso, acerca deste assunto, acompanhado de duas fotografias de um dos funiculares de Salzburg que faz a ligação entre a grande praça (contígua à catedral) e a fortaleza lá em cima.

Como o meu amigo, também eu fico aguardando uma segunda parte, que a edilidade se dê ao trabalho de nos propor num futuro tão próximo quanto possível.

Abraço forte do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Cara Paula Corte-Real,

Na realidade, tudo isto é tão estranho que parece estarmos participando de um conto surrealista. A isto chegámos, ao surrealismo vivido no quotidiano porque, entre outras razões a montante, os cidadãos se perderam nos meandros do mundo real, na comunidade onde vivem, mas sem capacidade de intervenção cívica de controlo dos eleitos.

Até poderei estar incorrendo em grosseiro erro mas julgo que na actual situação, num quadro de Estado Democrático de Direito, em que era suposto vivermos uma vida democrática sã, afinal vivemos, isso sim, uma máscara de democracia, em que estão invertidos e se confundem os desempenhos dos actores sociais.

Daí não ser de admirar que sintamos a maior dificuldade em adequar o nosso discurso às referências que, até determinada altura, funcionavam, estavam sintonizadas com os nossos quadros mentais e, portanto, se nos revelavam cómodas. Só com estas premissas consigo entender, coincidir e conjugar a sua dificuldade, totalmente cúmplice da sua perplexidade, manifesta nos primeiro e último parágrafos do seu comentário.

Ah,como eu a entendo Paula Corte-Real! A quem louvar pelos feitos? A quem criticar pelos defeitos? Com uma tal perversão, com uma tal promiscuidade, como fazer a destrinça?

Olhe, sabe que mais? É nestes casos que costumo invocar São Judas Tadeu que, como sabe, é o advogado dos impossíveis. É com todo o gosto que lhe passo a receita...

A brincar, a brincar, daqui seguem as mais sérias, respeitosas e melhores saudações do

João Cachado